A ARTE DE VENDER - PROFISSIONALMENTE
Primeiro me permitam justificar a abordagem desse assunto, num espaço normalmente dedicado à literatura voltada aos temas poéticos. Pois vejo na arte de vender, pura poesia; na profissão de vendas, uma história que se confunde com a evolução da humanidade; na habilidade comunicativa necessária para bem se praticar essa profissão, uma semelhança singular com os grandes contadores de causos, de histórias, até porque já consta da história da nossa literatura, grandes escritores, grandes poetas, usando o profissional de vendas como personagens de famosos e reconhecidos romances, grandes enredos poéticos, cinematográficos, peças teatrais, etc, a exemplo da “Morte do Caixeiro Viajante”.
Assim como as prostitutas (sem querer assemelhar qualquer preceito ou conjugar valores iguais), a arte de vender conta dos primórdios da história da humanidade, que sempre venderam e continuam vendendo ilusão e prazer e tem seu mercado cativo onde quer que exista gente, onde exista carência de carinho, onde existam relacionamentos falhos, onde existam corações brutos, onde existam valores distorcidos das relações homem x mulher, aí tem o espaço para elas venderem seus produtos e sabemos que essas coisas sempre existiram e sempre existirão.
No caso do vendedor, desde o começo da história do mercantilismo, desde que surgiu a necessidade da troca de mercadorias, já surgiu à figura do vendedor. Lembro das expressões do “Caixeiro Viajante” do “Mascate” passando pelo simplesmente vendedor, do Representante Comercial, até a hiper moderna expressão, “Consultor de Vendas”.
Enfim, essa é uma profissão tão antiga, tão importante, tão nobre, pela qual passaram e passam todas as transformações e evolução do mundo. Tudo que existe de material ou de serviço, tem um vendedor, tem um profissional de vendas envolvido. De um alfinete que usamos em casa, para alinhavar a bainha da calça, ao avião no qual atravessamos continentes, certamente a figura do vendedor esteve envolvida, em algum momento ouve uma negociação e a sua figura presente. Num livro exposto na livraria, que lembremos que esse livro chegou ali através de um vendedor e chegará às mãos e aos olhos de um leitor, através de um vendedor.
Outro dia escrevi um poema, chamado “Mercador de Ilusões” e dali me surgiu à idéia de escrever esta crônica. No poema, coloco-me inicialmente como um poeta, mas um poeta vendedor, tentando vender sua arte de criar ilusões e vendê-la a quem precisar, a quem desejar, a quem quiser ser feliz. Então, o poeta é um vendedor acima de tudo. Um vendedor de ilusão, ou de realidades bem ditas, envolvidas e embaladas em lindos papéis ou simplesmente mostradas com a rispidez das agruras do mundo frio que às vezes o poeta também retrata.
Só lamento, nesta profissão, nessa arte, que ela não esteja evoluindo na medida em que todas as demais profissões evoluem. Não em termos tecnológicos, pois, isso é inevitável e o profissional de vendas tem que se adaptar e evoluir também. Mas falo em termos de aprimoramento das técnicas, do amadurecimento, do acompanhamento da arte da psicologia, do relacionamento, do poder de persuasão, de convencimento, da adaptação aos meios e mecanismos de comportamento.
Vejo os médicos se aprimorando todo dia, participando de simpósios, de convenções, de eventos de toda ordem para divulgação de técnicas, de congraçamento, de troca. Vejo os advogados com suas entidades representativas absolutamente atuantes. Os engenheiros idem e tantas outras classes profissionais, buscando o cooperativismo para sua união, evolução e desenvolvimento. Vejo todos os demais segmentos profissionais, buscando o seu desenvolvimento, atualizações freqüentes, constante leitura, aprimoramento cultural como um todo e não vejo isso dentre os vendedores, entre os profissionais de venda.
Assim como existe a OAB, existe o CREA, CRM e tantas outras entidades representativas das mais diversas atividades profissionais, também existe a do vendedor, do Representante Comercial, chamada de CORE, mas que é pouco conhecida e a vejo muito pouco utilizada, pouco divulgada, bem espelhando a desestrutura organizacional desses profissionais. Felizmente existem vertentes do aprimoramento técnico da arte instintiva de vender. Em Santa Catarina, no Vale do Itajaí, na UNIVALE, já existe um curso de graduação para o Representante Comercial. Mas isso é um caso absolutamente isolado, pelo que me consta, mas já um bom começo, um veio que certamente tomará corpo e tomara se alastre pelo mundo afora.
Outro aspecto sobre o que lamento e vivo criticando a classe dos vendedores, dos Representantes Comerciais, é o fato de que estudam muito pouco, lêem muito pouco. Um profissional de vendas, tem a obrigação de estudar as mais diversas matérias que digam respeito ao relacionamento humano, como psicologia, filosofia, sociologia; precisam estudar sobre logística, sobre tributação, e não o fazem; precisam ler muito e não o fazem, ou o fazem muito menos que deveriam. Praticam a profissão muito mais instintivamente do que tecnicamente e dentro dos conceitos atuais, em toda prática profissional, temos que aliar o conhecimento prático, a habilidade instintiva, com a aplicação das técnicas que o mundo vai colocando a nosso serviço.
Mas queria mesmo é dizer que o vendedor é um poeta. Ou o poeta um vendedor, já não sei, até porque os ideais, os intentos se misturam, se fundem na busca por vender, quer sejam produtos, quer sejam idéias, conceitos ou simplesmente ilusões.
Mas bendigo, como poeta, a arte de vender, pois, acima de tudo, sou um vendedor sim, como somos todos nós, que precisamos a todo instante vender nossa imagem, nosso trabalho, nossas idéias, nossas convicções, nossos conceitos, nossos conselhos e nosso entendimento do que é certo e do que é errado. Se não o fazemos como profissão, fazemos como simples pessoas, pensantes, inteligentes e participativas.