Bullying nâo é coisa nova

BULLYING NÃO É COISA NOVA

O filósofo M. Heidegger cunhou a expressão zeitgeist, um “espírito de época”, como um modismo oriundo de algo que já existiu antes, travestido de outra indumentária. Assim é o bullying, é a expressão nova para um fato velho.

O termo inglês é utilizado para descrever a violência física praticada por indivíduos ou grupos. Brasileiro gosta muito de palavras estrangeiras para nominar fatos que poderiam ser descritos no português, como marketing, pay-per-view, backup, etc. Existe a palavra em nossa língua, mas usam o estrangeirismo porque é chique. Bully designa um indivíduo brigão. Vem de bull, touro.

O bullying como fato social sempre existiu, sem a repercussão midiática e psicossocial que tem hoje. Eu vivi minha adolescência em Porto Alegre, e posso testemunhar a existência de bullying naquela época. Na década de 50 eu estudei em dois colégios religiosos de primeira linha em Porto aAlegre, Dores (Lassalistas( e Ancgieta (Jesuítas), e não havia dia em que não havia brigas na saída (e às vezes no recreio). As escolas designavam pessoas para vigiar as saídas, mas mesmo assim, muitas vezes a “pauleira” era inevitável. A gente batia e apanhava, como consequência das brigas. Cansei de chegar em casa de rosto amassado, olho roxo e não me lembro de meu pai ir fazer queixa a alguém. O mais que acontecia era a colocação de gelo ou mercúrio. E estava resolvido o problema. Com as nossas “vítimas” ocorria o mesmo. Ninguém apareceu lá em casa para reclamar.

Havia ainda as “quadrilhas”, que hoje chamam de “bonde”. Havia o grupo da “Fernando Machado” que brigava com o da “Demétrio Ribeiro”: os confrontos eram sérios. Mas no domingo, jogávamos futebol juntos e íamos namorar as garotas no cinemas Marabá e Capitólio. Hoje somos profissionais liberais aposentados, militares reformados, alguns professores ainda em atividade, e quando nos encontramos damos boas risadas das tropelias que embranqueceram os cabelos de nossos pais e professores.

Acho que o fato hoje é fruto de um zeitgeist, levado demais a sério pela mídia, que não falta de coisa mais consistente se envolve nas brigas de adolescentes. A violência é institucionalizada na sociedade e boa parte da mídia dá publicidade por que violência vende espaços e dá audiência. As brigas dos garotos do meu tempo não tinham publicidade nem providências paternas ou das escolas. Nem os pais acusavam a escola e vice-versa. E tudo se aquietava.

O bullying de hoje é a "briga de rua" de ontem. A mesma coisa em causa e efeito,

Meu pai nunca andou armado. Hoje, um motorista interpela, no trânsito, um desafeto, de arma na mão; o vizinho discute com o outro com o dedo no gatilho, e as mortes acontecem de forma banal e alarmante. É essa violência, junto com a notoriedade, que exacerba o comportamento violento dos jovens. Ouvi um jovem dizer que iam fazer uma pancadaria para ver se viravam notícia, com textos e fotos. A juventude é a caixa de ressonância de uma sociedade desestruturada. Não adianta fazer leis; o aprendizado para a paz começa na família.

Professor, escritor e Doutor em Teologia Moral