BUR(R)OCRACIA II

O recente congestionamento no terminal de cargas aéreas gerou uma gritaria geral no Distrito Industrial de Manaus. Protestos e processos foram gerados na ineficiência em receber e despachar as cargas do aeroporto. Vôos de carga foram adiados ou cancelados porque não havia como administrar os caixotes na chuva por falta de espaço nos galpões. As mercadorias expostas às intempéries provavelmente sofreram danos. Tudo porque chegaram apenas oito aviões cargueiros num único dia.

A Infraero, que já declarou que não precisa dar explicações à Associação dos Agentes de Viagens, talvez acredite que também não precisa dar explicações aos usuários dos terminais de carga. Não foi ela que mandou aumentar a produção industrial. Sentada no conforto do monopólio da administração (sic) aeroportuária, determina seus próprios prazos, seu próprio volume de investimentos e seu próprio comportamento sem levar em conta àquele que paga caro por seus serviços.

Manaus tem um dos mais modernos pólos industriais do mundo. A modernidade que se vê nas indústrias não é acompanhada pelos serviços de transporte aéreo. Logisticamente prejudicada por não ter acesso rodoviário com o restante do Brasil não possui sequer um porto fluvial que mereça esse nome. O transporte aéreo, muito mais caro que qualquer outro, deveria suprir a celeridade que o mundo atual exige.

No jogo de empurra-empurra provavelmente veremos acusações para todos os lados cada um querendo livrar-se de responsabilidades. De quem é a culpa? Do número insuficiente de funcionários da alfândega? Do espaço físico apertado?

Quem pede ou despacha mercadorias por via aérea tem pressa. O encalhe desta mercadoria na burocracia do aeroporto é prejudicial a todos. A pergunta é a seguinte: Por que a mercadoria precisa ser estocada nos terminais do aeroporto? Se em outras partes do mundo o tempo de permanência das mercadorias em terminal de cargas não passa de duas horas, por que aqui este prazo tem que ser de dias ou até semanas?

A mercadoria poderia seguir diretamente do avião aos depósitos dentro das indústrias, e somente lá ser conferido. No Brasil ainda há uma crença de que o empresário não pode merecer este crédito. O fisco que controla a entrada e saída de mercadorias tem todo um aparato para criar dificuldades e poder vender facilidades. O mesmo fiscal poderia fiscalizar a abertura dos contêineres no galpões das fábricas em vez de fazê-lo no aeroporto.

As indústrias têm espaço para estocagem de mercadorias, o aeroporto também. Então por que os contêineres ficam do lado de fora? Ninguém quer a entrada e saída de mercadoria sem a chancela oficial. Contudo, no mundo cibernético não se admite delongas por falta de um visto ou de um carimbo. A conferência de mercadorias deve, obrigatoriamente, acompanhar a celeridade e a modernização.

Produzir dentro das mais modernas técnicas, tanto em qualidade quanto quantidade é um grande desafio. Competir com preços do mundo todo e assim mesmo conseguir vender a produção é outro feito que merece destaque. Porém, parar a produção porque a matéria prima está encalhada na burocracia é exasperante. Perder prazos de entrega pela ineficiência dos aeroportos monopolizados clama aos céus por mudanças urgentes. Não nos referimos aqui aos céus controlados pela Infraero.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 23/05/2010
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