Rio Amazonas ... Sua História... As cheias...
Havia um tempo em que navegar era uma arte, um desafio que poucos aceitavam.
O ano era 1499 e as caravelas de Américo Vespuccio navegavam no Atlântico rumo ao sul, sem saber que a 100 quilometros havia terra firme.
Mar agitado, ondas de várias direções provocavam um estrondo que podia ser ouvido de muito longe. Era a pororoca, encontro fantástico das águas do rio com o mar. As caravelas naquele exato momento estavam nas águas do monstruoso rio Amazonas.
De exuberante beleza, nasce no lago Lauri nos Andes do Peru, a pouco mais de 10° de Lat. S. Corre primeiramente na direção geral sul-norte, como um rio de montanha, com forte gradiente e vertentes muito altas. A partir do Pongo de Manseriche, seu curso se inverte definitivamente para a direção oeste-leste, até a foz, no Atlântico. Corre, então, quase sempre, a menos de 5° de latitude meridional. Nesse trecho, correspondente à maior parte do curso, o Amazonas tem declive muito fraco e divaga seu leito numa várzea, limitada pelas escarpas de um baixo tabuleiro sedimentar. No Brasil, o rio Amazonas desce de 65m de altitude, em Benjamin Constant AM, ao oceano, após um percurso de mais de 3.000Km. Tem, portanto, um gradiente médio de 20mm/Km.
O rio Amazonas recebe grande número de afluentes. Da margem direita, os mais importantes são: Huallaga, Ucayali (no Peru); Javari, Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu (no Brasil). Pela margem esquerda: Pastaza, Napo (no Peru); Içá, Japurá, Negro, Trombetas, Paru e Jari (no Brasil).
Em sua foz, o Amazonas se divide em dois braços: o braço norte é o mais largo e corresponde ao verdadeiro estuário; o braço sul é conhecido pelos nomes de rio Pará e baía de Marajó. Na realidade, esta é uma saída falsa, à qual o rio Amazonas se liga através de uma série de canais naturais ( os furos de Breves), dos quais o mais importante é o furo de Tajapuru. As principais ilhas formadas pelo Amazonas são: Marajó, Caviana, Mexiana e Grande de Gurupá. Fora da embocadura, a maior ilha é a de Tupinambarana, junto à confluência do Madeira.
A coloração das águas dos rios da Amazônia.
Os rios negros têm essa cor devido à dissolução de ácido húmico. São portanto águas de pH baixo, e que carregam muito poucos sedimentos. Esses rios formam belas praias. São exemplos de rios de água preta: o rio Negro, o Nhamundá, o Maués. Os chamados rios brancos têm águas barrentas; carregam muita matéria sólida fina, e têm por isso, várzeas de solos ricos. Destes são exemplos o próprio Amazonas, o rio Branco (afluente do Negro), o Juruá, o Purus e o Madeira. Os rios transparentes tomam, após as primeiras chuvas, tonalidades verdes, em virtude da grande quantidade de partículas de musgo que transportam. É o caso de Tapajós e do Xingu.
As águas tisnadas de argila do rio Amazonas tingem o oceano Atlântico até uma distância superior a 200Km da costa e diminuem sensivelmente sua salinidade. Por esse motivo, seu descobridor, o navegador espanhol Vicente Pinzón, deu-lhe, em 1500, a denominação de Mar Dulce. Quem primeiro desceu o Amazonas e lhe deu o nome que tem hoje foi Francisco Orellana, em 1542. Enviado por Gonzalo Pizarro desde o Peru para reconhecer o grande rio, fez de sua viagem uma narrativa fantasiosa, em que, entre outras peripécias, teria sido atacado por índios. A estes, Orellana confundiu com guerreiras, que assimilou às da lenda grega
Os afluentes mais importantes do Amazonas descem de regiões elevadas, com clima úmido (mais de 1.500mm de chuvas por ano). Têm, por isso, um imenso potencial hidrelétrico. Apesar disso, o rio Amazonas não tem enchentes particularmente danosas.
O Amazonas recebe águas provenientes do sistema Parima ou Guiano, situado no hemisfério norte, e do planalto Brasileiro no hemisfério sul. Uns e outros têm enchentes causadas pelas chuvas de verão. Como as estações se alternam nos dois hemisférios, há uma compensação no regime das águas do coletor principal, denominada interferência. Os rios vindos do sul (margem direita) preponderam, entretanto, pelo volume, desempenhando assim maior papel no ritmo e na altura das enchentes do Amazonas. Menor influência que os afluentes brasileiros tem os formadores que descem dos Andes, cujas águas são alimentadas pelo derretimento das neves.
O médio, como o baixo Amazonas, não corre exatamente no eixo da bacia sedimentar: está ligeiramente deslocado para o norte. Isto faz com que os tributários da margem direita sejam mais longos ( o Juruá, o Purus e o Madeira têm mais de 3.000Km) e mais navegáveis, enquanto os da esquerda são mais curtos e encachoeirados. O baixo platô de sedimentos terciários do Amazonas é mais largo no interior e se estreita perto do Atlântico. É que antes do soerguimento dos Andes havia lá um grande golfo, aberto para o Pacífico. O levantamento da cordilheira formou um mediterrâneo, que na era terciária foi sedimentado e passou a drenar as águas para leste.
Todo ano, as cheias do maior rio do mundo em volume de água fazem a camada rochosa que o sustenta e o cerca afundar quase 8 centímetros por causa do peso extra que elas criam.
Depois, quando o excesso de água se vai, a crosta terrestre volta ao nível anterior.
O Rio Amazonas compreende uma área com cerca de 7,5 milhões de km², Só na área brasileira estão aproximadamente 5 milhões de km (67% de sua extensão aproximadamente). Apresenta a maior biodiversidade do planeta com cerca de 3.000 espécies conhecidas de peixes, anfíbios e répteis.
Os peixes mudam de hábitos em época de cheias, invadindo as florestas submersas a procura de alimento, como os pacus e tambaquis que buscam frutos e sementes, agindo, como dispersores. Outros vão alimentar-se de pequenos peixes e insetos que capturam aos pulos, fora d'água. Os botos invadem as matas atrás de peixes e os peixes-boi vão atrás de pastagem plantas submersas.
Os animais que chegaram com a cheia voltam a seu habitat esperando o próximo período de chuvas. Os peixes coexistem com anfíbios e répteis. Grande parte dos peixes amazônicos são capturados ilegalmente para serem vendidos como animais ornamentais o que vem causando grande impacto ambiental.
Em virtude de sua posição geográfica, praticamente paralela ao Equador, o regime do Amazonas é influenciado pelos dois máximos de pluviosidade dos equinócios, sendo, por isso conhecido como regime fluvial de duas cheias.
A bacia Amazônica está sujeita ao regime de interferência, portanto tem contribuintes dos hemisférios Norte e Sul, coincidindo a cheia de um hemisfério com a vazante do outro.