NOTA SOBRE A PREPOSIÇÃO LATINA PER E SUA VARIANTE PRO

A elaboração desta nota de pesquisa tem o objetivo de verificar em estudos de Etimologia e Filologia qual a origem da preposição per. Foram tomadas por base algumas fontes eletrônicas selecionadas sob critérios, a exemplo de: credibilidade da instituição que veicula pesquisas na Web e, também, a respeitabilidade dos pesquisadores citados.

Em se tratando da origem da preposição per uma das informações colhidas diz que:

“No latim clássico o emprego das preposições ocorria, em uso moderado; havia um uso secundário das preposições. Dentre as preposições portuguesas, as que originalmente já funcionavam sintaticamente como preposições no latim, como nos assegura Cândido Jucá (1945: 251), são: a, ante, até, com, contra, de, dês, em, entre, para, per, por, pós, sem, sob, sobre e trás, as quais, veremos abaixo, em suas formas primitivas, classificadas por Said Ali (1971: 203) Said Ali dividiu as preposições em dois grupos, em conformidade ao modo como elas foram aproveitadas na língua portuguesa, classificando-as da seguinte maneira: 1) Preposições que passaram para o português sem alterar sua forma: ante,contra, de, per.

2) Preposições que passaram para o português com suas formas modificadas:

ad>a, post>pós; cum>com; inter>antre, entre; sine>sem; trans>trás; pro>por;

secundum>segundo; in>em, em; sub>sob, so; super>sôbre; e tenus, que o autor não precisou sua origem, apresentando-nos duas possibilidades: ataa, até ,té >tenus e a de que tenus viria da partícula árabe hatta.

Em adição às preposições acima destacadas, tínhamos no sistema português do período arcaico a preposição atá, de origem árabe e per que se modificava em par, pardês, pardelhas, assim afirmado por Coutinho. (1973: 269)”

Neste caso específico da citação supra, estudiosos do porte de Cândido Jucá Filho, Coutinhoe Said Ali asseguram a existência da preposição per no latim clássico, sendo que, conforme se observa claramente na explicação em pauta, a preposição per encaminhou-se do latim clássico para o português arcaico.

Por outro lado, o http://www.dicionariorapido.com.br/por/ , de consulta rápida, registra em significados da etimologia:

: Do latim etimo » la|pro, etimo » la|per.

Outros estudos sobre a presença do latim vulgar, corrente ou familiar (denominações utilizadas para referir-se ao vulgo ou à linguagem informal, coloquial, não-padrão) apontam a etimologia de diversas palavras, inclusive das preposições, como se pode notar na exemplificação que atesta:

“pera, arc.

} < per + ad.

para

per < per.

perante< per + ante

por < per

por < pro, convertido em * por, talvez por influência de per(1).

Na versão latina dos Diálogos de São Gregório, Poggio notou que, do ponto de vista semântico, algumas preposições foram intensamente gramaticalizadas, ao passo que, outras eram bastante transparentes.

Dentre as intensamente gramaticalizadas, a autora destacou ad, in e de, que não possibilitavam uma clareza de sentido na análise, enquanto que, ante, cum, contra excepto, inter, per, pro, secundum, sine, sub, super eram evidentes na expressão do sentido, por isso transparentes”.

Outros detalhes importantes encontram-se frisados em uma resposta a consulente de site especializado em esclarecer dúvidas de internautas sobre temas relativos à Língua Portuguesa. A resposta oferecida é clara ao incluir que:

“A resposta de José António Fernandes Camelo parte da premissa de que a expressão "de per se" «nem é português nem latim». E não o é, de fato. A locução latina é per se e admite os significados coligidos pelo consultor («por si, por si só, por si mesmo, por si próprio, espontaneamente; intrinsecamente, pela sua própria natureza»), enquanto a locução lusa, consagrada em vários dicionários, é «de per si», conforme explica o segundo consultor, A. Tavares Louro. A expressão "de per se", que motivou a primeira consulta, não passará, salvo melhor juízo, de uma forma híbrida, de uma mescla entre as locuções portuguesa e latina anteriormente referidas, pelo que, na minha óptica, deve ser evitada.

Nesta explicação mais abrangente é também fácil perceber que, apesar de a expressão “de per se” não ser portuguesa ou mesmo latina, a locução inclui a preposição per, latina. Portanto, caracterizada está mais uma vez a preposição per como oriunda do latim (linha 3 da citação).

Outra resposta de professor especialista oferecida à consulta de interessados na língua de Camões, desta vez feita ao http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=26475 , afirma:

“Relativamente ao ponto levantado pelo terceiro consulente, sobre qual das duas locuções («de per si» ou «per se») será a correta, ocorre-me dizer que ambas são igualmente corretas. Distingue-as um mero matiz de origem: a primeira apresenta-se como lidimamente lusa, enquanto a segunda é latina de gema. É verdade que a locução portuguesa recorre a per, uma preposição arcaica, calcada do latim per, mas esse fato não lhe retira qualquer legitimidade. Conforme explanou o segundo consultor, o mesmo pronome arcaico figura — embora de forma velada — nas contrações pelo, pela, pelos, pelas, que andam na boca de toda a gente e na pena de qualquer escritor.

Em suma, ambas as locuções são de bom quilate, e o recurso a uma ou a outra depende apenas do estilo ou da tenção de quem fala ou escreve. De modo geral, parece-me que a locução latina poderá pecar por alguns laivos de pedantismo, mas esta objeção, de carácter meramente pessoal, é decerto questionável”.

Na explanação estão bem claras duas facetas, uma que confirma a latinidade da preposição per; e a outra que é a de ser um discurso de caráter moderno e devidamente fundamentado no qual se nota que o mestre respondente não demonstra preconceitos linguísticos, mas apenas ser criterioso e conhecer as mais sérias e abalizadas pesquisas sobre a Língua Portuguesa

Outros enfoques de estudiosos dão conta mais uma vez que a preposição per é filha legítima da língua latina e está contida no substantivo persona:

“O substantivo feminino singular da língua portuguesa «pessoa» deriva etimologicamente da palavra latina persona, também, substantivo feminino singular. No uso corrente, pessoa significa atualmente indivíduo, considerado em si mesmo, homem ou mulher, ser humano; personagem (…). Apesar de pessoa derivar de persona, esta palavra latina não comporta, em seu uso primeiro, tal sentido que atribuímos, hoje em dia, à noção de pessoa. Uma tese afirma que a palavra latina persona foi originalmente estabelecida em língua latina, por uma justaposição gramatical da preposição per e do substantivo sona resultando per + sona = persona. Outra tese estabeleceu que ela derivasse do verbo personare, de sua forma verbal gerúndio personando; outra, ainda, a fez derivar da expressão per se una, enquanto designa una por si. Tanto em um caso quanto em outro, a palavra persona serviu para significar o mesmo que se significa com a palavra grega prósopon: máscara e personagem”.

Segundo Segismundo Spina, três eram as preposições simples do Português arcaico: per, por e para.

A cientista Carolina Michaëlis indicou dois sentidos diferentes nas expressões exclamativas par Deus e por Deus. A primeira significando “juro Por Deus” (afirmativamente), e a segunda, por sua vez, representa uma exortação equivalente à expressão “pelo amor de Deus”.

Esse mesmo estudo que se reporta a Segismundo e a Michaëlis aponta para uma tese de doutoramento de Hilma Henaro, aprovada por unanimidade, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O trabalho é intitulado “Contribuição ao estudo semântico da preposição per/por na Crônica de D. João I, de Fernão Lopes (1ª. parte). Na obra os Lusíadas (século XVI), é categórico o texto, ainda se encontra a forma polo, mas predomina pelo. “A base latina é a preposição per”.

Para exemplificar, temos o hino Ave Maria em cujo texto se encontra a preposição pro apresentando um dos sentidos propostos por Carolina Michaëlis, citada nesta nota. Ou seja: Em Ora pro nobis pecatoribus a preposição pro significa “em nosso favor”: Ora em nosso favor.

Ave Maria, gratia plena

Dominus tecum

Benedicta tu in mulieribus

Et benedictus fructus ventris tui Jesus

Sancta Maria, Mater Dei,

Ora pro nobis pecatoribus

Nunc et in hora mortis nostrae

Amen.

Abaixo temos passagens da Santa Missa, em latim, e novamente se pode verificar a presença da preposição PER/PRO:

a) Deinde, deposita mitra, extensis manibus ante pectus, dicit:

V. Per omnia saecula saeculorum. R. Amen.

V. Dominus vobiscum. R. Et cum spiritu tuo.

V. Sursum corda. R. Habemus ad Dominum.

V. Gratias agamus Domino Deo nostro. R. Dignum & justum est.

b) Sagrada Comunhão

A: Confiteor Deo Omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Micaeli Archangelo, beato Joanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, (A: com a cabeça e o corpo profundamente curvados, vire na direção do Padre e dizer:) et tibi, Pater, (A: Vire-se novamente na direção do Altar, continue:) quia peccavi nimis cogitatione, verbo, et opere: (A: Bata levemente no peito três vezes, dizendo:) mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, (A: com a cabeça e o corpo profundamente curvados, vire na direção do Padre e diga:) et te, Pater, (A: Vire-se novamente na direção do Altar, continue:) orare pro me ad Dominum Deum nostrum. (A: Permaneça com a cabeça e os ombros profundamente curvados, enquanto o Padre diz:) P: Misereatur vestri omnipotens Deus... ad vitam aeternam. (A: Ajoelhado e com cabeça e corpo levantados, responda:) A: Amen. (A: Faça o Sinal da Cruz com o Padre enquanto ele diz:) P: Indulgentiam, † absolutionem et remissionem... Dominus. A: Amen.

c) Oração da Comunhão

P: Dominus vobiscum. A: Et cum spiritu tuo.

P: Oremus. (A: Inclinar-se levemnte.) P: Per Dominum Nostrum Iesum Christum... (A: Inclinar-se levemente.)

P: Per omnia saecula saeculorum. A: Amen. (A: Às vezes, pode haver mais de uma oração. Retornando ao centro do Altar, o Padre volta-se para o povo e diz:)

Como demonstram os pesquisadores citados nesta página, e mais inúmeros estudos sobre as preposições oriundas do Latim, além dos textos usados na exemplificação, é seguro afirmar que a preposição per tem seu berço na referida língua. O estudo de uma simples (!) preposição pode levar a investigações muito profundas, o que não é este caso.

REFERÊNCIAS

http://wapedia.mobi/ptwiktionary/por

http://www.dicionariorapido.com.br/por/

http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/2/dlingua/Daniele_Felizola_de_Oliveira.pdf

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=26475

http://filosofia.galrinho.com/ai_pessoa_etimologia.pdf

http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/2/dlingua/Daniele_Felizola_de_Oliveira.pdf

http://books.google.com.br/books?id=9M9LpPtqMRAC&pg=PA25&lpg=PA25&dq=estudos+filol%C3%B3gicos+sobre+a+preposi%C3%A7%C3%A3o+per&source=bl&ots=9pO2zQcKYI&sig=KrYt1Y1ZQZznkpParR1vWlXHTcA&hl=pt-BR&ei=kmPwS-a_OoK88ga7w_H9Cg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CC4Q6AEwBQ#v=onepage&q&f=false

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ave_Maria

http://www.traditio.com/office/diacono.htm

Observação: todos os sites foram acessados em 16 de maio de 2010