O Legislativo se acovardou... como sempre

O Legislativo - como sempre - se acovardou

Em todos os armários, segundo Agatha Christie, existem esqueletos insepultos, histórias sem um epílogo. A ditadura militar que devastou o Brasil (1964-1985) é hoje desconhecida pela maioria dos brasileiros com menos de 25-30 anos de idade. Foi um dos períodos mais negros de nossa história. Igual aos órgãos de Stalin, Hitler e Mussolini, a “polícia política” brasileira (DOPS) invadia lares, prendia e fazia desaparecer cidadãos, sem vestígios nem explicações.

Existem pessoas desaparecidas até hoje. Muitas foram mortas e seus corpos atirados em valas, comuns e inominadas.

Aqui no Brasil se fala muito no terrorismo da Argentina, do Chile e de outros países da América Latina, mas silencia-se diante da barbárie que assolou os brasileiros. A repressão (forças armadas, polícias e órgãos de espionagem) não trabalhava sozinha. Tinha o apoio de partidos políticos a ela subservientes. Esse conluio político tinha o nome de ARENA, que é a chocadeira de partidos modernos, como o PDS, PPR, PP, PFL (agora DEM), PSDB e outros. No passado pré 64, a conspiração nidava no PSD e UDN, entidades onde o D significava sofisticamente “democrático”, mas que abrigava todos os golpistas nacionais. Muitos desses que falam em democracia hoje, apoiaram o golpe, a violação da Constituição, o rompimento do tecido social, a perda dos direitos humanos, o arbítrio extremista e a tortura. Execram Fidel, Chávez, mas se esquecem o que aconteceu no Brasil, no tempo dos generais, quando estudantes, religiosos, jornalistas e ativistas foram mortos ou torturados. Eram tão descarados os golpistas, que afirmavam que sua ditadura era irreversível e visava consolidar a democracia no Brasil.

A figura dos “fantasmas no armário” se observa hoje ainda na conduta de alguns radicais que revelando um pensamento anacrônico, tentam ressuscitar o golpismo, com saudade do desrespeito às instituições, talvez com vontade de ver os tanques na rua, passando por cima da democracia e dos inocentes. Nessa tentativa, parecem não entender que as ditaduras não levaram a nada, apenas acirraram ânimos e emporcalharam a história do país. A quem critica a ditadura ou não segue a ideologia deles é chamado de “panfletário”. Desmerecem as palavras “esquerda” e “socialismo”, como se referissem à lepra. Para esses só deveria haver sua “direita” doentia.

Se quisessem ressuscitar fantasmas, teríamos que ir atrás dos torturadores que passeiam por aí, impunes e acobertados por uma injusta “lei de anistia”. Os “subversivos” foram mortos, presos ou cassados, enquanto os carrascos andam por ai, impunes, posando de democratas. Com medo dos fantasmas o Legislativo, omisso quando convém, se acovardou e não quis rever a prostituída “lei da anistia”.

Filósofo, escritor e ex-professor de Ciência Política. Doutor em Teologia Moral