ELEIÇÕES E POLÍTICA NA UFBA, MAIO DE 2010.
Sem querer culpar ninguém especificamente, mas tomando um fato como expressão da falta de seriedade na condução da democracia pelo movimento estudantil da UFBA, é um absurdo a comissão eleitoral julgar improcedente o recurso de uma chapa quanto à legitimidade de determinadas urnas alegando que outras urnas também seriam ilegítimas pelos critérios do mesmo Regimento Eleitoral que funda as acusações daquela chapa. De modo que se tenta afirmar como naturais as irregularidades numa parte do processo apenas porque no resto do processo também foi assim! Essa, a típica aceitação da naturalidade do burlar dos acordos, o que significa antidemocracia, já que é um completo desrespeito a todos os debatedores, votantes, signatários anteriores.
Se bem que há certas vistas grossas sobre os regimentos que catalisam os processos, esse fato é uma possibilidade, e não pode ser sobreposto a uma decisão da comunidade universitária (do mesmo modo como não se deve abrir mão da democracia em nome de uma possível celeridade para algum fim a custo de uma ditadura). Quando não há envolvimento – e sim afastamento, brincadeira e mera controvérsia – os que saem prejudicados são o estudantes e a sociedade. O afastamento do estudante pode ser agravado com a brincadeira na condução de questões sérias e controvérsias teimosas nas que pedem união. O processo eleitoral é defeituoso. É, porque há claros problemas em conduzi-lo, os que talvez a experiência de algumas pessoas possam apontar. Contudo, contra esses seus defeitos, deve existir algum trabalho no sentido de aperfeiçoá-lo.
De modo nenhum esse é um discurso legalista, pelo contrário, teme uma insurgência legalista em meio a essa crise da política universitária baiana.
Nossas regras escritas devem ser consideradas na medida em que foram resultado de discussões anteriores, e se não refletem a vontade dos estudantes e a realidade, esforcemo-nos para aproximar a política e estudante, regras e realidade. Contraditoriamente, esforços unidos como estes não partem das regras escritas – pelo contrário, em certos casos a lei os prende, além da obviedade de que a lei democrática nasce dos esforços coletivos, e não o contrário. Ora é possível estabelecer um consenso, ora isso é impossível (e natural). Nestes casos, em que há opiniões divergentes ou decisões importantes – como na eleição do DCE –, o que prevalece é o que está escrito e devemos zelar por isso. Porém, esse zelo, que é necessário para conduzir democraticamente a política estudantil, é um esforço coletivo, o que nenhuma lei impõe, mas que parte da ação unida dos estudantes a partir de sua própria consciência – isso é a verdadeira política.
Quando nos contentamos com a condução arbitrária da política estudantil, estamos repetindo dentro da universidade o mesmo discurso do “rouba, mas faz”, difundido na sociedade baiana. Um dos pilares do movimento estudantil é a crítica a partir da juventude, o que significa rediscussão dos valores de nossa sociedade em nome de algo melhor do que há, para toda e cada pessoa. Contentar-se com migalhas parece não casar nesta mesma idéia. E, junto à critica e ao pensamento, deve alinhar-se o trabalho – a construção prática diária da democracia. Considero essa eleição sinônimo de uma crise. Ninguém mais que os estudantes podem sanar essa crise. Podemos começar pela anulação dessa eleição em nome de uma nova, em que trabalhemos pela sua realização plena, participativa, difundida e discutida. Se isso pode dar trabalho, façamos o trabalho – ou nos calemos quando disserem da preguiça dos baianos.
Quem agradece é a Ufba (cujo movimento político está decadente), os estudantes de Barreiras e Vitória da Conquista (que não tiveram direito nem a urna), os estudantes em geral (que compartilham da Universidade e seus problemas), alguns estudantes (que têm condições ainda piores para estudar), a sociedade (que assiste à Ufba ou com olhos brilhantes diante de uma entidade que existe mas ninguém vê; ou dos campi que se vê, duma universidade que não existe) e esse estudante que lhes escreve (e se inscreve, com a esperança de que todo o dito não entre por um ouvido e saia pelo outro, mesmo sabendo de que essa possibilidade é grande).