Senhoras e senhores

SENHORAS E SENHORES

Todo o discurso que se preza começa com este vocativo, para generalizar as pessoas presentes. De uns tempos para cá, o feminismo, especialmente dentro das igrejas, onde as religiosas insistem tanto na chamada “questão do gênero”, surgiu o “irmãos e irmãs”, bem como dar boa noite “a todos e a todas”. Cheguei a escutar uma leitora, na igreja, acrescentar, por conta dela, um “irmãs” a um texto bíblico de São Paulo, onde só havia “irmãos”. Até onde chega a exacerbação do feminismo! Não sabem estas pessoas – é uma questão elementar de português –que, quando se diz “irmãos” há uma implícita referência ao masculino e feminino, bem como “todos”, que engloba ambos os sexos, assim como a referência a “homem”, na maioria dos caros se refere ao gênero humano e não somente ao macho. Mas quem vai botar isto na cabeça dessa turma?

Este preâmbulo serve apenas para introduzir o assunto principal, que aponta para o diferencial “senhoras e senhores”. Eu não chamo ninguém de senhor; é um costume da minha família. Meu pai e minha mãe, bem como tios e avós sempre incentivaram o tu, mais coloquial, íntimo e nem por isso desrespeitoso. Talvez um toque refinado da minha irreverência...

Eu fico “buzina” quando alguém me chama de “senhor”. Já respondo com aquele chavão: “o Senhor está no céu!”. É claro que quando se trata de referir em público uma autoridade ou pessoa constituída em dignidade, o uso da senhoria é de bom tom, não faz mal nem estraga a roupa.

Há tempos atrás fui dar um curso em outro estado, e na hora do intervalo, em conversa restrita, chamei o bispo de tu. O homenzinho subiu nas tamancas. Exigiu que o chamasse de “senhor” e, além disto, que usasse o honorífico “dom”. Ora, eu que não sou de assustar com indignações, simplesmente disse a ele, como falei acima, que em público eu lhe daria a senhoria devida, mas no trato íntimo eu o continuaria a chamar de tu, ou pelo nome próprio. Diante de sua indignação, informei que sempre chamei meus país e avós (incentivado por eles) de tu, e que até nas minhas orações, eu chamava Deus, a Virgem Maria e os santos de tu. O ilustre prelado riu, talvez me achando um caso perdido. Minha mulher, sempre crítica, diz que está em evidência meu lado anarquista. Quem sabe?

O fato, e esta é minha convicção, não está na senhoria o respeito devido à pessoa. Vejam por exemplo no trato militar: o soldado é obrigado a chamar o sargento de senhor, mas isto não impede que, pelas costas, ele deboche do superior, colocando apelidos e fazendo imitações, às vezes grotescas. O mesmo ocorre com os professores e chefes. Neste particular, em minha docência universitária, sempre incentivei os alunos a me chamarem de tu ou você, Não está nesta ou naquela forma de tratamento o exercício do respeito. Concordam?