O desrespeito com os idosos

O DESRESPEITO COM OS IDOSOS

É uma constatação irretorquível: o Brasil está se tornando um país de idosos. De fato, pelas melhoras da qualidade de vida as pessoas estão alargando sua faixa etária. Mesmo com a média é puxada para baixo pelas mortes de jovens em acidentes, chacinas e também pela mortalidade infantil nas periferias, os percentuais se elevam. Se a longevidade é uma boa notícia para os velhos, deixa de sê-lo para a sociedade que tem que administrar esse fato.

Nos últimos anos a massa de pessoas de “terceira idade” cresceu. O “estatuto do idoso” regula algumas prioridades que já não se adaptam à realidade. Hoje os locais de “atendimento a idosos” (sem falar em grávidas, deficientes e senhoras com crianças no colo) já são insuficientes. O fato é que nos supermercados, bancos, cinemas, lotéricas a “caixa dos idosos” tem uma fila maior que as reservadas aos não-idosos. Na realidade, o idoso espera mais na fila reservada a ele do que nas outras. Não há vantagem à terceira idade, mas uma legítima tortura, pois os velhos ficam mais tempo, esperando de pé, que os demais. Eu já fiz a prova: no meu banco tirei senha normal e senha de idoso. A normal sempre é chamada antes.

Em face disso, do alto dos meus sessenta e oito anos, eu já reclamei, mas eles responderam que é impossível prover mais atendentes para os idosos. Ainda há um agravante: em certos locais, para atender os idosos, eles colocam caixas aprendizes, legítimas aranhas, que causam a maior demora.

O atendimento aos idosos está deixando de ser um privilégio para se tornar um castigo, uma legítima tortura. Alguém tem que fazer alguma coisa. O “estatuto” está sendo descumprido. Em alguns bancos, o cliente normal aguarda a chamada em cadeiras estofadas, enquanto os velhos têm que aguardar de pé. Que nome se pode dar a esse abuso? Isso sem falar no “tempo de atendimento” imposto aos bancos, que é descaradamente desrespeitado. Isto sem falar no fato de em cinemas, teatros, metrô e campos de futebol onde tenho de apresentar indentidade, pois os atendentes não acreitam que tenha mais de sessenta anos.

O interessante é que esses chefetes e seus aspones, um dia vão ser idosos em um mundo em que a massa de pessoas da “terceira idade” vai ser maior. Esta é a imprecação endereçada a eles. Aí, quem sabe, eles vão se lembrar da tortura imposta ao pessoal de mais idade, subjugado pela ineficácia de seus sistemas de atendimento ao cliente, que nada mais são do que um ato cruel de empurrar o problema para frente. Os burocratas tentam explicar o inexplicável sem serem capazes de resolver o problema. Alguém tem que fazer uma coisa, e urgente! Chega de maus tratos com pessoas frágeis e indefesas.

Quem ganha dinheiro com a velhice, hoje, são as geriatrias e casas do gênero, onde é difícil conseguir um lugar para uma pessoa de idade, mesmo pagando bem.

Escritor, filósofo e Doutor em Teologia Moral.