"NUNCA MAIS VISITO MANAUS"
A afirmação do Presidente da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares e da Câmara Empresarial de Turismo, senhor Norton Lenhart talvez expresse o sentimento de muitos turistas que vem a Manaus. O desabafo deste líder militante do associativismo mostra o quanto nossas autoridades estão tomando medidas confusas e antagônicas.
“Uma cidade que reconhece a própria incapacidade de resolver a violência, que exige que estabelecimentos noturnos fechem às 23 horas está dizendo claramente: não nos visite, você é a próxima vítima de nossa incompetência em controlar a violência”, continuou o líder empresarial.
O senhor Norton é apenas mais um que fica estarrecido por chegar em Manaus no avião da meia noite e encontrar todos os restaurantes fechados. O que é perdoável em cidades enregelantes é inconcebível na Capital da Amazônia que tem um clima equatorial nos doze meses do ano.
Outra pessoa que gostaria de ter prestigiado um visitante com um jantar depois das 23 horas foi a senhora Oreni Campello Braga, presidente da Amazonastur. Ficou chateada porque não encontrou nenhum restaurante regional aberto. Cobrou providências pela imprensa ao presidente da Associação dos Bares e Restaurantes (ABRASEL).
Há dez anos o transporte público regular foi banido da noite manauara. Os ônibus não podem circular porque o poder público capitulou ante a violência que diziam acontecer dentro deles. Hoje já completa cinco anos uma lei que obriga bares e restaurantes a fecharem suas portas às 23 horas e colocar os clientes para fora.
A alegada violência para não haver transporte noturno não resiste a uma constatação óbvia: Na Zona Leste, considerada a mais violenta de Manaus, os ônibus alternativos circulam durante as 24 horas do dia. Sem ônibus depois das 24 horas, os trabalhadores noturnos não têm como se locomover. Em vez do poder público estimular o transporte noturno, acaba com a atividade lícita, neste horário.
Quando o problema dos mortais atinge aos deuses do Olimpo, como o caso do constrangimento da Presidente Oreni Braga, que viaja o mundo divulgando o Amazonas num trabalho competente que causa ciúmes aos seus colegas de outros estados, começamos a acreditar que algo pode mudar. Se há por um lado um trabalho para trazer turistas não pode haver leis que inibam a atividade turística criada pelo mesmo governo para a mesma cidade.
Uma cidade que vai gastar bilhões preparando-se para a copa do mundo, construindo maravilhas não consegue remover o lixo jurídico que emperra o desenvolvimento do turismo Se o presidente da ABRASEL estimular a atividade depois das 23 horas estará pregando a desobediência civil.
Queremos tranqüilizar o senhor Norton Lenhart e dizer-lhe que a violência em Manaus é muito inferior a outras cidades brasileiras de mesmo porte. A esdrúxula lei que fecha os bares foi copiada de uma cidade do interior de São Paulo, com características totalmente diferentes de Manaus por um vereador profissional cujo único projeto é o de se manter na mídia com leis aparentemente moralistas. Depois foi tornada constitucional por um conluio jurídico por aqueles que vêem demônios num copo de cerveja. Estas pessoas que demonizam o lúdico levaram uma marretada no baixo ventre ao verem o comunicado do Sindicato da Indústria de Cerveja anunciando um crescimento de 450 milhões de litros no ano passado.
Infelizmente, senhor Lenhart, a cidade de Manaus não é diferente de outras onde o nobre trabalhador da noite é considerado um cidadão de segunda categoria; onde o emprego bom é o emprego público; onde os setores da administração pública se atrapalham entre si; onde os líderes que deveriam oferecer soluções ficam empurrando responsabilidade para outro; onde a demagogia e as medidas pirotécnicas grassam, em que se distorcem valores. Mas, como nas inúmeras cidades que o senhor visita, também tem pessoas que pensam de maneira prática e honesta.
Por isso mesmo, Manaus merece ser visitada muitas vezes. Queremos que o senhor volte seguidamente. Encontrará-nos aqui, lutando pela melhoria do nosso cartão de visitas. Talvez consiga oferecer-lhe um bom jantar regional, mesmo às duas horas da madrugada, depois de ter passado horas voando acompanhado apenas de uma barrinha de cereal.
Luiz Lauschner – Escritor e Empresário
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