DO SUICÍDIO INCONSCIENTE

Em Nosso Lar, obra psicografada pelo saudoso Chico Xavier, e que, diga-se, terá sua deslumbrante versão cinematográfica em setembro deste ano, o autor espiritual, André Luiz, relata das suas angústias, vivenciadas ao ser recebido como suicida inconsciente por tutores e médicos amáveis e lúcidos na cidade espiritual, após demorado estágio de sofrimento nas paragens do umbral*.

"- É de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.
(...)Senti que singular assomo de revolta me borbulhava no íntimo. Suicídio? Recordei as acusações dos seres perversos das sombras. Não obstante o cabedal de gratidão que começava a acumular, não calei a incriminação.
- Creio haja engano - asseverei, melindrado - Meu regresso do mundo não teve esta causa. Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão intestinal...
- Sim - esclareceu o médico(...) -, mas a oclusão radicava-se em causas profundas(...) O organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo(...) A oclusão derivava de elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão, no campo da sífilis (...) Seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio, captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para nós mesmos?(...)"
pág.32 Ed. FEB

Útil a qualquer época que de tempos em tempos lancemos mãos destas vertentes valiosas de ensinamentos vindos da espiritualidade assistente aos reencarnados, para ponderar acerca de nuances de nosso comportamento de molde a que talvez, e inadvertidamente, amanhã ou depois nos vejamos, para nossa desagradável surpresa, incluídos no quadro lamentável descrito com destemor pelo autor deserncarnado, da obra acima mencionada.

Além da explicação destacada no excerto, o médico da cidade das dimensões invisíveis aos reencarnados ainda adverte André Luiz sobre uma série de outros fatores cruciais aos quais não deu a devida atenção enquanto entretido com os lances da vida material, e que determinaram sua morte precoce em tal estado íntimo precário. A despreocupação em considerar a vida de uma ótica mais válida, lembrando-se da Autoria Suprema da criação, atitude que naturalmente nos evoca reverência e respeito por todas as manifestações de vida circundantes - acima de tudo no nosso próximo - nutrindo-se as virtudes da tolerância e da compaixão, que espontaneamente reforçam os vínculos de amor. A leveza de se viver com hábitos alimentares e de conduta sóbrios, sem o zelo exagerado de prazeres autodestrutivos como o da bebida, do fumo, ou de quaisquer vícios de molde a provocar desequilíbrios no organismo espiritual, a partir do qual, em verdade, se enraízam as desarmonias vibratórias que terminam por desencadear as moléstias mais graves, de ordem física...

Quantas vezes, inadvertidamente, não nos abandonamos a rompantes, excessos, ou a hábitos prejudicais, em primeiro lugar, a nós mesmos, comprovando ainda aqui, e em curto intervalo de tempo, os resultados desalentadores?! Quanta mágoa e rancor íntimo alimentados em processo quase inconsciente, sem se atentar devidamente que tais emoções vibram em padrão tão pesado e deletério que as repercussões, invariavelmente, atingem em primeiro lugar o nosso estado de ânimo - e por conseguinte o desempenho saudável do sistema imunológico - baqueando-nos em depressão contínua e em vícios comportamentais lamentáveis e reincidentes, quais o de queixar-se em demasia ou arengar continuamente com os de nossa convivência?

Em quantas situações a displicência com o fumo, sob alegações questionáveis: "- Meu avô morreu com oitenta e cinco anos e fumou a vida inteira!" - esquecendo-se convenientemente que o mesmo avô poderia talvez ter usufruído uma sobrevida de mais cinco ou dez anos, não fosse o hábito lúgubre de intoxicação do delicado aparelho respiratório com o que visualmente, em exames acurados, nos revela resultados em forma de resíduos lamacentos que, se antevistos ao vício indesejável, certamente lançariam o fumante em dúvidas sinceras sobre o se sujar por esta forma agressiva o corpo, de cujo equilíbrio e salubridade depende todo o repertório da qualidade de vida que sustentará durante o seu período de vida?

Quantos vícios degradantes e de repercussões futuras desesperadoras não principiam com a impensada primeira dose? Quantas atitudes mal sopesadas, e tidas em conta do contexto comum do cotidiano agitado das populações, não vão desencadear um crescendo de outros episódios que haverão de nos escapar por completo do controle, com resultados infelizes de dimensões inimagináveis a curto ou médio prazo? Quantas intrigas pelo vício do mal uso da palavra contra o semelhante; quantos embates familiares que destroem diariamente o sossego íntimo de pessoas que em pouco tempo, e sem atinar com as causas atraídas pelas leis energéticas da sintonia, se veem lançadas a sintomas insidiosos e de difícil debelação: enxaquecas renitentes, dores diversas, descontrole nervoso, mal funcionamento intestinal, males cardíacos, enfim, todo um cortejo de moléstias que, mais do que supostamente determinadas pelos fatores ligados às deficiências recorrentes da qualidade de vida do mundo atual, com seus sobressaltos, ansiedades, questionáveis padrões alimentares e de consumo, se fundamentam, em grande soma, em hábitos adotados, por invigilância, antes de tudo por nós mesmos!

É recorrente que indivíduos habituados a gastar mais da metade do tempo falando e se atemorizando a respeito de doenças e fatalidades acabem sendo vitimizados exatamente por aqueles mesmos fantasmas que aterrorizam o seu universo mental. Quem fala demais em dores, inconscientemente atravessa os dias dentro de consultórios médicos atrás de terapias e de tratamentos para imenso cortejo de dores; os que acenam repetidamente para acontecimentos drásticos, surpreendentemente volta e meia nos chegam com notícias de fatalidades e de lances pungentes dos quais se viram vítimas. Para exemplo, mencionamos o caso de senhora de nosso círculo pessoal de amizades que, após anos a fio temendo acidentes em ônibus, receio que proclamava em verso e prosa a cada conversa com conhecidos, quase todo dia, terminou por sofrer acidente dentro de um desses coletivos, saindo do episódio com vários ferimentos.

O suicídio inconsciente, do que podemos depreender do ensinamento valioso dos mentores da invisibilidade e da observação oferecida pelas nossas vivências, se constrói em processo paulatino, gota a gota. Oportuno, portanto, que a questão seja examinada a tempo e com destemor por cada um de nós, porque, em assim sendo, nunca será tarde para o autoexame que nos previna de incorrer no perfil indesejável descrito por André Luiz, na obra elucidativa dos requisitos íntimos fundamentais a que aportemos, amanhã ou depois, nas colônias ou estâncias das dimensões imateriais, para a continuidade de um aprendizado, tanto quanto possível, orientado por bases saudáveis adquiridas durante as nossas vivências mais recentes - e não como réprobos de nós mesmos, pelo aviltamento voluntário do precioso dom da Vida.

*
umbral - esfera espiritual próxima à crosta, de baixa condição vibratória.

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 24/04/2010
Reeditado em 24/04/2010
Código do texto: T2216627
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