Amor à distância - Adília Belotti ::
Distâncias... As circunstâncias podem variar, ora é o mestrado dela, ora o trabalho dele, ora o sonho dela, ora a oportunidade dele... Eles se encontram na Web, pelo telefone, no meio do caminho... Sim, os jeitos, as cores, os tons mudam, mas cada vez mais casais estão tentando viver seu amor à distância e, sem ser bom nem ruim, isso, é, no entanto, um tremendo desafio...
Leio na Pink, uma revista americana que acaba de ser lançada, cujos temas rodeiam o universo profissional feminino, que de Uns anos para cá, o número de mulheres envolvidas em relações à distância só faz aumentar. Hoje, segundo a revista, dois milhões de mulheres americanas vivem relações deste tipo, sendo que a metade delas é casada. Entre 1999 e 2002, 350 mil relacionamentos assumidamente à longa distância vieram perturbar a pachorrenta calma do censo americano... Na França, os “casais que não coabitam” - viram? - já existe até um termo técnico para fazer entrar este tipo de amor no mundo das estatísticas - são cada vez mais comuns e as razões vão desde separações forçadas por motivos profissionais, até casais que realmente preferem se amar, mas não conviver (o que é uma outra história e um outro artigo...).
Nem faz tanto tempo assim, há, digamos, 20 anos, a cena clássica seria: ela ali, de pé, no portão de embarque, despedindo-se dele que parte em busca da promoção em outra cidade ou do mestrado em outro país. Um dia, com certeza, ele viria nos buscar, montado num cavalo branco e lá iríamos nós alegremente cumprir nosso destino feminino e acompanhá-lo rumo ao final feliz e “até que a morte nos separe”... O que foi mesmo que aconteceu?
Nós mudamos, e muito... Junto com os sutiãs das primeiras feministas e junto com as infindáveis regras e convenções que pautavam a vida dos nossos pais e avós, nós resolvemos jogar fora também as respostas fáceis, os caminhos já trilhados, as certezas...
Nem é o caso de discutir se tínhamos ou não nos dado conta de que afinal certezas são bem confortáveis, a gente nem precisa pensar muito, tudo está aí dado, a nós cabe apenas cumprir o papel que nos foi designado ao nascer... Sociedades e culturas tradicionais funcionam assim, à base de “sempre foi deste jeito”, “é assim que deve ser”, “nós sempre nos comportamos desta forma”, “é assim que fazemos, desde o início dos tempos”.... Quando a gente está mergulhado nas crenças coletivas assim de um jeito tão poderoso, as vidas individuais vêm com manual de instruções e todo mundo sempre sabe o que fazer, é como uma dança de roda, dança de todos, com passos marcados pela eternidade e a tradição...
Mudamos, sim, mandamos as regras para o espaço e assim, despidas, “sem lenço nem documento”, feito na música, nos lançamos de cabeça na construção de novas formas de amar. Afinal, por que não? É claro, precisamos ampliar algumas fantasias - dividir uma casinha com jardim é mesmo tãããoo romântico, mas encontros com data marcada, quartos de hotel ou longos e-mails ajudam a criar um clima de aventura que faz muito bem - obrigada - para qualquer relação amorosa... também há que se munir de coragem para improvisar, toneladas de tolerância e de um jeito novo de entender as razões do outro. Adeus papéis, vamos reinventar tudo!
Sobretudo, é bom abrir mão de frases feitas como “ciúme é alimento do amor”, “mulher é isso, homem é aquilo”, “família tem que ser assim ou assado”, na hora H, importante mesmo é conseguir relativizar a ansiedade em relação ao tempo, fazer cada minuto contar por muitos e construir a intimidade da forma possível.
Segundo Gregory Guldner, terapeuta e autor do livro Long Distance Relationships: a complete guide, o grande desafio dos casais que não moram na mesma cidade é esse mesmo: intimidade. Veja os conselhos que ele dá para quem mora longe e, mesmo assim quer ousar viver um grande amor:
Seja otimista. Os estudos mostram que as chances da relação dar certo são mais ou menos as mesmas, de perto ou de longe e os números relacionados à infidelidade também são os mesmos, na prática, isso quer dizer que não acredite quando lhe disserem que “isso nunca vai funcionar”, funciona sim, depende de vocês, mas qualquer relação não depende de nós?
Compartilhe as pequenas coisas. Muitas vezes a gente acha que de longe, só os “grandes temas” merecem ser discutidos. Errado. A intimidade nasce das miudezas do cotidiano. O que você comeu no almoço, o outdoor que viu na rua, o gosto da nova marca de café, tudo isso ajuda a criar e a preservar os vínculos...
Use a abuse da tecnologia. Em tempos de Skype, MSN, fotos digitais pra lá e para cá, blogs e fotologs não dá para reclamar de falta de oportunidade de estar “em contato”. As pesquisas do Dr. Guldner indicam que casais que se escrevem muito tem mais chances de permanecer “ligados”...
Mas cuidado com as armadilhas da voz. Eventualmente, mesmo casais que vivem longe um do outro vão brigar. Nesta hora, lembrem-se que pelo telefone é mais difícil resolver diferenças e as discussões podem terminar numa espécie de “vácuo” de comunicação. Vale aqui o que vale para todos os casais: criem regras para as conversas “sérias”, sejam bem específicos quanto aos combinados e exercitem a tolerância: vale ou não convidar alguém do sexo oposto para jantar? E ir ao cinema? Ter medo de conversar sobre assuntos “ameaçadores” para a relação, como os limites para a infidelidade, por exemplo, pode ser desastroso. O Dr. Guldner adverte que 30% dos casais que colocaram na pauta de discussões as regras fundamentais tiveram problemas, mas 70% dos casais que evitaram estas conversas acabaram se afastando.
Não se isole. Solidão não faz bem e ponto. É justamente nestes momentos que os amigos são mais preciosos. Ninguém quer sair? Vá sozinha, invente pretextos, um curso de culinária tailandesa, trabalhar algumas horas por semana numa creche, assistir todos os filmes que vão concorrer ao Oscar, enfim.... tudo vira motivo de conversa entre vocês e, além disso, ajuda a exorcizar aquelas idéias malvadas que a gente tem quando está com saudades...