Sociopatas e o crescente fascínio  



Há muito me interesso pelo estudo do comportamento psicótico, vejo claramente que muitos autores que acompanho, são mestres em descrever toda a complexidade deste perfil em seus protagonistas. Vários ganharam as telas, sejam em produções cinematográficas ou seriados, e o assunto é inesgotável. Cada dia mais CSIS aparecem, e a indústria explora o filão com a mesma voracidade que os entusiastas do gênero.

Quando nos aprofundamos no assunto, é possível enxergar um pouco da patologia descrita, em níveis mínimos ou moderados, em pessoas comuns, do convívio diário.
Até em algumas atitudes pessoais, já nos pegamos pensando se estamos  agindo como um psicopata.
Isto ocorre principalmente, quando somos capazes de pensar em tomar medidas extremas e inusitadas. Um bom exemplo é o estacionamento de um shopping em um final de semana, final da tarde, abarrotado de carros e após várias voltas, avistamos um carro deixando a vaga.

Estamos indo na direção e surge alguém mais rápido e coloca o carro no local. Neste momento, quem não  sentiu vontade de quebrar os vidros, esvaziar os pneus ou revidar de alguma forma, odiando aquela pessoa,  que no exato momento em que você manobrava para entrar de ré, ignorou meus sinais e estacionou?
Esta criatura que desceu tranquilamente e ainda teve a coragem de acenar ou falar uma gracinha, está provocando uma reação, que não precisa ser violenta e imediata. Pode perfeitamente ser bem  arquitetada, alguma coisa discreta, e que cause grandes prejuízos. Burlando o circuito interno de câmeras do shopping e trazendo um prazer indescritível de vingança.

O que nos impede e diferencia, é a atitude que um psicopata tomaria naturalmente, e o conceito moral que refreia nosso impulso.
Ele  teria coragem de atravessar a linha do imaginário, colocaria em prática e não sentiria o menor remorso. 
A reação egoísta, fria, desprovida de arrependimentos ou culpas,  faz parte da personalidade psicótica.

Atualmente, varias situações induzem o individuo a tomar o caminho oposto, a vida transformou-se em uma competição sem regras. Muitas empresas apóiam, e incentivam pessoas que agem de forma inescrupulosa. 
Algumas chegam ao ponto de  qualificar atitudes vis, como empreendedoras. Os valores se inverteram e é muito difícil manter a moral intacta, existe todo um contexto apontando para o caminho inverso. O meio em que convivemos fora do ambiente de trabalho, será muito importante para garantir a integridade necessária.

A base da formação da personalidade, como família, hábitos salutares, e principalmente, a tendência natural de agir corretamente, serão fundamentais para a sobrevivência. Parece ficção, mas a ditado, matar um leão por dia, é verdadeiro e não lugar para perdedores.  E não se restringe ao aspecto financeiro, o afetivo e social também causam fortes influências.

Nesta confusão, o psicopata circula incólume , convivemos há anos com eles, e jamais nos demos conta. Eles não precisam matar,  vários estudos mostram que os psicopatas criminosos estão em numero mínimo, os famosos seriais não são a grande maioria.  Os ditos comuns, com suas atitudes perversas, algumas vezes são tão maléficos, que induzem crimes de uma frieza ímpar. Eles partilham o dia a dia e são tão prejudiciais quanto os assassinos, por eles muitos já cometeram suicídio, mataram, roubaram e foram subjugados como peças de um grande tabuleiro de xadrez.

Conviver com um psicopata não  é difícil, ao longo de sua vida, com certeza, já passaram vários. Alguns chamaram mais atenção e levaram no máximo, adjetivos como espertalhão, ruins, egoístas, falsos e outros menos votados.
Não souberam ser discretos e  extrapolaram, o que não é usual, normalmente são muito inteligentes e fingem ser exatamente o oposto.
 
Nem todo mau caráter é psicopata, mas  o medo de estar sendo vítima de alguém com este perfil, hoje em dia, é motivo de questionamento e já não aceitamos calados, atitudes prejudiciais. Mesmo com tanta informação, ainda nos sentimos inseguros e por isso passamos por situações complicadas.

Quando alguém diz, com  todas a letras que tem um chefe, que é um verdadeiro psicopata? Nunca.

Este empregado sofre calado nas mãos do tirano, manipulador, mesquinho, destrutivo e centro de todos os problemas em sua vida. Alguns levam anos, outros a vida inteira,  enquanto tudo que precisam fazer, é se afastar o mais rápido possível.
Mas não é tão fácil se libertar. O psicopata mina a auto-estima dos que estão à sua volta, tornando-os frágeis e submissos.

É possível que toda vez que este funcionário pensou em ir embora, ouviu chantagens emocionais, pedidos de desculpas e até promessas de mudanças radicais. Que jamais aconteceram. 

Psicopatas não mudam para agradar ninguém, não sentem pena de lagrimas, não estão preocupados com sua saúde ou se sua mãe morreu e você está deprimido. Eles pensam em si, no próprio sucesso, no que basta para ter conforto e estabilidade, no que é importante e os supre.

Não amam ninguém além do espelho, não param para ajudar, e se não houver interesse, atropelam e seguem adiante. O tempo para eles, é curto e há sempre novos projetos.

No universo literário, existem autores fascinantes, minha preferida é Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra, altamente qualificada, autora de livros que exploram com qualidade o assunto. Lendo e estudando Ana Beatriz, escritores do gênero policial e suspense, se surpreendem com os relatos tão próximos da ficção.

Sinceramente, quando um leitor elogia um personagem que criei, e afirma que seria completamente plausível, nos dias atuais, uma historia destas acontecer, concordo com pesar. Para mim, que trabalho com este lado obscuro, seria muito melhor que estivéssemos distantes desta realidade, infelizmente, parodiando minha escritora favorita, o mal existe e não tem cura.

Escrever sobre psicopatas de forma alguma é um incentivo, as pessoas escrevem sobre vampiros e monstros, e nem por isso desejam que todos se transformem nisso.  É preciso aprender a entender o que nos cerca, ler os sinais e de alguma forma abandonar o circulo vicioso, o vínculo, a proximidade, o temor ou o mal que nos aflige.




Nota: Foto do personagem  Dexter, síntese perfeita e grande sucesso.

Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 16/04/2010
Reeditado em 01/08/2010
Código do texto: T2200863
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