PEDOFIILIA, PRECONCEITO, SEXO E SEXUALIDADE.

Sexo e religião, política e futebol são temas complexos e há quem diga que não se discutem. Tudo pode ser discutido ou não, dependendo do contexto. Discutir sexo em sua generalidade, não há dificuldade. Contudo, fazê-lo no viés de querer defender opções e práticas, então o "caldo entorna". Ninguém ignora que a felicidade humana, no geral, está associada à vida afetiva que por sua vez tem o componente forte do sexo e da sexualidade.  Do sexo na medida em que o prazer se localiza em função do gênero masculino e feminino; da sexualidade enquanto contexto do afeto, companheirismo, sentimento. Nesse misturar de conceitos, inserem-se as derivações que tanto tem sido abordadas, discutidas, causado "frisson" na moral vigente: a homossexualidade, bissexualidade e suas derivadas tais como transexual, travesti, transformista, etc.
Dá-nos a impressão que hoje tudo isto é focado como novidade, principalmente pelos meios de comunicação sociais. Talvez seja a prova de que a modernidade só tenha chegado por fora dos homens. Por dentro, seguimos os mesmos ou mudamos muito pouco na compreensão da nossa essência. Desde que o homem é homem que ele busca ser feliz. Não houve alteração na sua estrutura física nem mental que nos possa garantir que quem viveu no século anterior foi mais feliz que nós nestes aspectos. Dito diferente, sempre houve traição entre casais, homossexualidade masculina e feminina, travestis, transexual, bi, tudo. Podemos assegurar que na cama tudo que fazemos hoje com quem amamos ou com quem "ficamos" é mera repetição. Por mais inovação que se pense que se faz quando o "babado" está acontecendo, alguém já fez, inclusive posições estapafúrdias e atos escatológicos. Disse um poeta: "é segredo de quem ama o que se passa na cama". O que pode variar é a preferência. Pode ser que se goste de um sexo ortodoxo, bem na linha da manutenção da espécie, como defendem boa parte das igrejas, especialmente a católica. Neste viés, nós, modernos avançamos: descobrimos o prazer! Talvez esta descoberta nos redima da nossa pouca evolução em função de sexo e sexualidade. Essa busca do prazer teve alguns aliados como a pílula anticoncepcional e a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Houve um tempo em que a mulher não podia dizer que não gozava. O homem fazia o que tinha direito, satisfazia-se, e a mulher que se virasse, literalmente. "SATISFAZER" - outra expressão muito definidora dessa época, mas que hoje, graças ao despertar das mulheres, está sendo substituída por "PRAZER". Prazer enquanto coisa de dois que se gostam, amam-se, respeitam-se. Naturalmente que há muito ranço cultivado pelos homens, mesmo hoje, diante de tanta informação. Uma boa parte deles continua ignorando o prazer da mulher; continua querendo uma mulher de cama e mesa como nos velhos tempos; continua querendo trair sem admitir a possibilidade de ser traído. É a cultura machista que não vai passar rápido, até porque boa parte das mulheres adora ser submissas à moda antiga. Talvez precisemos recorrer a Freud. Mas preferimos ficar na compreensão de que os processos culturais levam séculos para serem modificados. Instala-se, por conseqüência, a questão forte do PRECONCEITO! A grande maioria deles pode até ser "mascarado” como o caso do negro no Brasil. Há atenuantes: se o negro for rico, morar num bairro de classe alta, for artista de fama, etc. Mas mesmos esses, como no caso de Pelé, sofrem com o preconceito. Há até quem se utilize  da expressão abominável "negro de alma branca"! As incontáveis piadinhas politicamente incorretas estão sempre nas rodinhas de amigos, após uma olhadela em volta pra ver se existe um negro!
Podemos considerar os preconceitos na mesma lógica dos pecados adotada pela igreja católica: 01 - Mortal e 02 - Venial. Da mesma forma, classificar os locais para onde mandamos os condenados pelo tribunal do PRECNCEITO: 1 - Céu; 2 - Inferno; 3 - Purgatório; 4 - Limbo.
Um pecado mortal seria, por exemplo, ser veado, sapatão, mulher preta traidora, etc. Pena: Inferno! Um pecado venial seria, por exemplo, o homem negro trair a mulher. Mas no geral, o CÉU seria o prêmio para os machões declarados, mesmo que debaixo dos panos ele tocasse "outro instrumento". Na gradação do preconceito, pedófilos, estupradores, gays, travestis e derivados, certamente ficariam entre o INFERNO e o purgatório; boa parte dos negros, pobres, amarelos, ficaria no PURGATÓRIO. No LIMBO, as putas brancas disfarçadas de senhora, os "de cima do muro",  homens infiéis brancos,  mulheres brancas que ninguém nunca soube que gostavam de "aranha", etc.  Certamente, por se tratar de preconceito, cada um mandaria para o lugar que melhor julgasse coerente, embora o ideal fosse ir abolindo, aos poucos, a conta-gotas, esse sentimento mesquinho que nós, humanos carregamos.

A dimensão do sexo e da sexualidade poderia, atualmente, dispor de atenuantes menos regados a preconceitos. Essa área do comportamento humano sempre atormenta a muitos, principalmente por falta de conhecimento da natureza histórica dos processos de afetividade. As famílias, mesmos as que se dizem “abertas”, geralmente misturam esse conceito para justificar a pouca disponibilidade e competência para o papel de pai e de mãe. Ser pai e mãe, hoje, não é a mesma coisa que no passado não muito distante. O nível de informação de agora chega a ser insuportável, gerando desconforto interior pela impressão de que não estamos acompanhando o ritmo do nosso tempo. A questão do sexo fica, não raro, submetida aos princípios da psicologia de almanaque. Questões simples de práticas sexuais, inclusive patológicas, vêm à tona como se fosse coisa nova. É o caso da PEDOFILIA! Não fossem os casos recorrentes dos padres católicos, o assunto continuaria no “limbo”. Contudo, fora da igreja, os casos são muitos. A diferença é que num padre a PEDOFILIA tem outro destaque em função das expectativas sociais acerca do seu papel de padre. Só que padre é gente. Homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, etc. têm, nos humanos, componente simbólico exclusivo da espécie e configurado na nossa cultura. Se um homem “sob nenhuma suspeita” praticar a pedofilia com uma criança do sexo feminino, a sociedade irá ser menos rigorosa do que se for com uma criança do sexo masculino. Se for um gay assumido que pratique pedofilia com um garoto, poderá ser execrado e jamais iria para o “purgatório ou o limbo”.

De todas as derivações sexuais, a homossexualidade nos parece a mais vulnerável aos preconceitos, independente do tipo de sociedade. Há quem diga que as coisas estão mudando no que eu também acredito. Concomitante, essa mudança contém elementos perigosos e subliminares, motivados pelo estabelecimento da “moda do politicamente correto”. No íntimo da maioria das pessoas elas apenas suportam um homossexual por perto. Se ele for afetado, até se divertem com ele e gostam de convidá-lo para festas e reuniões familiares. No geral, alertam aos amigos que “aquela pessoa é gay, mas é divertida”, inteligente, etc.. Se o homossexual for do tipo “entendido” (aquele gay que, na aparência, em nada difere do chamado homem normal), pode até ser aceito com mais tranqüilidade, pois não despertará perguntas em volta. Contudo, pode oferecer perigo de assédio a um filho, esposo, etc. Ignoram que o suposto assédio dificilmente ocorrerá se a “vitima” se garantir. Afinal, homem gosta de mulher! Mas se mesmo assim, algum “babado” for ensaiado entre os dois, estabelece-se a lógica daquele que dá e do que recebe. Porque estaria atenuada a questão, posto que ao gay supostamente se atribua a pecha de que é a “mulher” da história. A lógica psicanalítica tem outra compreensão: a ação entre dois iguais na cama é homo. O menos importante seria a posição assumida pelos parceiros, embora defendamos que isto seja verdade, mas desde que seja prazeroso para ambos. Essa questão é mais complexa do que se parece, principalmente pelo que “rola” no imaginário humano, inclusive no estabelecimento de suas fantasias. Estas, igualmente passam por preconceitos. Fantasiar sexo grupal, hetero, não deve causar espanto. Diferente de sexo grupal entre gays e heteros; diferente também de um homem ter fantasia com uma mulher e com um gay. Certamente ele verbalizará a seus amigos sobre a fantasia socialmente aceita, jamais aquele que pudesse colocar sua masculinidade em risco. Neste sentido, fica perigoso acreditar numa verdade que envolva “sexo e sexualidade”. Talvez seja mais coerente analisar as atitudes, posto que essas dependam da capacidade do outro em aperceber e fazer seu conceito.

Como se vê, a sociedade não mudou muito nessas questões. O avanço tecnológico e científico que nos permite uma vida prática cheia de benesses e conforto, não aconteceu com a mesma intensidade nas questões humanas mais recalcitrantes como sexo, sexualidade e suas derivações. Continuamos julgando e condenando os outros com base em nós, esquecendo-nos, quase sempre, que não somos perfeitos. Esquecendo-nos, igualmente, que não gostamos de ser julgados, tampouco injustiçados. Certamente que os valores de hoje são outros, mas aqueles valores sagrados continuam de geração para geração com pouca mudança. Especialmente nas questões cruciais da humanidade em que a felicidade humana está calcada.

A evolução interior das pessoas acontece mais em função de atitudes particulares do que institucionais. As instituições, não raras, são preconceituosas e defendem um “Status Quo” em função de suas estruturas formais, pesadas, seculares, com raras exceções. Um exemplo: a mulher separada do marido, com filhos, se não tiver estrutura emocional não enfrenta, sozinha, as sanções sociais lhe impostas. Ás vezes retorna a casa dos pais e, dificilmente reconstroem a vida afetiva com outro homem. Aquelas que fazem o caminho inverso geralmente são diferenciadas porque tem curso superior, conhecimento e sentimento do mundo e de sua capacidade de transformação. Ou não tem nada disto, mas são obstinadas.  Um gay que dependa da família tenderá sempre a ser enrustido, a ficar sempre no “armário”. Quando alcança um bom nível cultural e uma boa colocação no mercado de trabalho, tudo parece mudar. A família paparica e manda sempre a conta para “BICHINHA” pagar, sob alegação de que não casou e nem tem pra que está juntando dinheiro, provavelmente pra sustentar algum boy, numa linguagem mais coloquial.

O mais importante é ser feliz, independente do “instrumento” que se queira tocar. A vida passa rápida e não podemos perder tempo procurando saber “quem deu pra quem”. O importante é que “quem deu pra quem” o tenha feito com amor, com prazer e com muito beijo na boca. Temos a impressão que no dia em que todo mundo gozar sem preconceito, a violência vai diminuir, o egoísmo vai diminuir, a vida vai crescer em qualidade. Exagero a parte, Freud que me desculpe, mas beijar na boca é fundamental, desde que não se perca a certeza de que “pra sempre sempre acaba”, como na canção popular.