O FILME DE CHICO XAVIER             

Assisti ao filme de Chico Xavier. O cinema estava quase lotado, considerando ser a penúltima sessão de uma segunda-feira. A produção é primorosa: som, imagem e efeitos. A história em si, pode ser que deixe algum expectador com sabor de "quero mais". Mas a experiência de Daniel Filho não deixa que a película assuma uma corrente espírita, como se poderia esperar.  Neste sentido, Érico Reis em "O GLOBO", escreveu: ‘Chico Xavier – O filme’. O nível de exigência de Daniel Filho em “Chico Xavier” beira o impossível. A música (de Egberto Gismonti), a montagem (de Diana Vasconcellos), o roteiro (de Marcos Bernstein) e, principalmente, o desempenho dos atores fazem do longa um filme além de qualquer credo.
A partir da biografia “As vidas de Chico Xavier”, do jornalista Marcel Souto Maior, Daniel Filho restringe a vida do mais famoso e atuante médium do país – com 412 livros psicografados e milhões de exemplares vendidos, com renda revertida para instituições de caridade – ao período de 1918 a 1975. Dessa forma, pôde garimpar com maior desvelo a sucessão de eventos ocorrida num determinado período – Chico morreu aos 92 anos, em 2002.
Todo o filme se passa em função de uma entrevista que Chico concedeu a uma emissora de TV, num programa chamado "PINGA FOGO". Entre as respostas que ele dava às diversas perguntas (na maioria feitas para desmistificar o médium), transcorria a vida de Chico naquilo que ele teve de mais difícil - sua compreensão de si mesmo diante do que via e ouvia, mas que ninguém mais via nem ouvia. Isto provocou nele os naturais conflitos, confortados pelo padre local e pela aparição de sua mãe em um cemitério onde ele se encontrava para conversar.
Outro ponto alto do filme é a descontração com que o diretor conduziu o texto. O humor sadio, cristalino, leva-nos a boas gargalhadas diante de inusitadas situações.
A história de um garoto que, incidentalmente, assassinou o colega ficou bem posta no filme. O menino assassinado se "comunicou" com Chico, dizendo que seu amigo era inocente.  Cristiane Torloni  e Toni Ramos estão irrepreensíveis no papel de pais do garoto. Esse episódio passa para a história como sendo a primeira vez que um tribunal de júri inocenta um réu com uma prova "sobrenatural"...
A relação de Chico com sua família, com os amigos, com os vizinhos é igualmente colocada, principalmente focando a complexa relação entre pessoas que não tem substrato para compreender a doutrina espírita e sua interface com os que já morreram.
Com pouco mais de duas horas de duração, a gente sai do filme pensando que ele é curto, de tão dinâmico e contextualizador. É uma prova de que o cinema nacional não deve nada às produções internacionais. Não deve ter sido um filme muito caro, mas ele consegue nos levar a sérias reflexões sobre essa relação que todos temos com o "outro lado da vida". A grande lição talvez seja esta: o fato existe independente de a gente acreditar ou não.
No apagar da luzes houve até aplausos. Detalhe: o cinema estava cheio de jovens e isto me deixou mais feliz ainda. Lembrei do BBB e me ponderei, pois há jovens preocupados com assuntos sérios. Ainda bem!

Sobre o espiritismo, escrevi "A LEI DO RETORNO 1 E 2", neste recanto das letras.