Tragédias Previsíveis
Não há como não absorver a dor e o sofrimento daqueles que perdem o filho, o pai, a mãe, o irmão, a tia, a avó, o vizinho ou o amigo soterrados por toneladas de lama e de lixo, como consequência da chuva, que vem para criar e não para matar. Não precisa ser nenhum especialista em meio ambiente para entender que a catástrofe decorre em razão da ocupação desordenada do homem, construindo casas nas encostas dos morros, grotas, margens de córregos e rios. Os caminhos naturais das águas são obstruídos, não levando em conta a força da mãe natureza. Como resultado, as tragédias se repetem a cada ano e vem aquela avalanche de denúncias, tardiamente, contra este ou aquele culpado.
Uma revista de circulação nacional, em sua capa desta semana, traz a imagem do Cristo chorando. E diz que “culpar as chuvas é demagogia”. E, ainda, em sua manchete de capa, diz que “os mortos do Rio de Janeiro que o Brasil chora foram vítimas da política criminosa de dar barracos em troca de votos”. Se isto for verdade, é mais lamentável ainda, constatar que a corrupção é causadora de tamanhas tragédias, além de outras já conhecidas no âmbito da educação e da saúde. Agora, depois de chorar o leite derramado, apontam os caminhos para a solução do problema e culpam sempre os gestores do passado. Não é hora de buscar culpados, mas de todos arregaçarmos as mangas e juntos construirmos um Brasil melhor. A corrupção deve ser banida deste país, a partir de um esforço coletivo, pois ela só existe pela dualidade de culpa: o agente e o passivo. Não é unilateral. A história política está cheia de casos de governantes comprovadamente corruptos que são reeleitos para outro mandato. Lamentavelmente, o eleitor, levado por necessidades, ou mesmo pela índole corrupta, compactua também com quem o é. E assim, continuamos com esse mar de lamentações, ao colhermos os frutos da semente que plantamos. E as tragédias continuam.