AGUARDE, POR FAVOR...
Se eu pudesse riscaria este verbo da língua portuguesa. Claro que estou exagerando na minha colocação, mas cresce em mim uma cisma por esta frase: “Aguarde, por favor.” É uma epidemia e se alastra inexoravelmente por bancos, órgãos públicos, empresas de todo tipo e tamanho, estabelecimentos de toda espécie, para encurtar.
Bom dia, você pode me responder a uma pergunta? Sente-se e aguarde, por favor. O senhor Fulano de Tal se encontra? Aguarde, por favor. A que horas deve chegar o Dr. X? Aguarde, por favor. Posso ser atendida pelo gerente? Aguarde, por favor. O paciente tal está bem? Aguarde, por favor. A diretora da escola se encontra? Aguarde, por favor. O diretor do Setor Administrativo está recebendo visitas?
Aguarde, por favor. Nem pergunte mais, sente-se e aguarde, por favor.
Eu não aguento mais esta frieza e a dissimulação usadas sob a capa de uma impostada educação. Que som terrível ganhou o verbo aguardar. Em qualquer local de atendimento público encontram-se cadeiras de boa qualidade, verdes, vermelhas, azuis... Esses móveis nos olham como se dissessem: “Sente-se aqui no meu colo, criatura insuportável, e espere. Aproveite e olhe um pouco a programação de marketing da empresa que está passando ali naquela TV moderna que jamais você terá em seu casebre”. O pior é que tem pessoas que ficam hipnotizadas e permanecem ali, indefinidamente, como acontece nas instituições bancárias, esquecidas da lei que protege o cliente quanto à quantidade de minutos suportáveis em filas.
Eu tenho horror àquelas cadeiras, além do mais sabendo que quem aguarda, aguarda algo ou alguém. Ou aguarda pelo dia do Juízo Final. Acontece que nesses lugares não nos dizem se ali estamos esperando pelo Juízo Final, vez que sempre a espera se alonga. E me recuso peremptoriamente, impacientemente a permanecer sentada até que os funcionários consigam esquecer-se de minha presença. Possam tomar cafezinho, ler algo no jornal, papear com o colega, ir ao banheiro ou sair para almoçar. Instituições ditas de porte, ricas, adoram apresentar aquela moça linda e bem produzida, com um eterno sorriso ensaiado nos treinamentos, dizendo com a voz entre sensual e aveludada, aos chatos que chegam: “O gerente está em horário de almoço. Aguarde, por favor...” Sabe o que vocês, treinadores, conseguem passar? A terrível sensação de ouvir uma mensagem gravada e repetitiva. Pior ainda, sinto-me ouvindo o toque de “ligação a cobrar”.
Pois aqui estou e me declaro chata convicta. Adoro ser chata e desfazer dessas teorias malucas de atendimento ao público e de sucesso profissional. O correto é o estabelecimento contratar um gerente ou mais dois, por garantia, para que, seja afinal, horário ou não de almoço, alguém esteja ali prontinho para atender quem não almoça para cumprir seus pagamentos ou resolver qualquer outro tipo de problema. Eu nem imagino porque eu ou outra pessoa deva esperar gerentes em horário de almoço ou indo ao banheiro. E, basta uma posiçãozinha de nada para que determinados funcionários passem horas almoçando enquanto subordinados engolem os alimentos e se engasgam com o suco.
Aproveito a ocasião para solicitar aos facilitadores de cursinhos de atendimento ao público que digam aos alunos para jamais informarem que o gerente está no sanitário porque eu fico imaginando esse sujeito sentado no vaso e com cara de quem tão cedo dali não sairá, mesmo porque no fim de semana se esbaldou na feijoada e na cerveja.
Exijo que, nesses locais me informem rigorosamente o seguinte quanto ao verbo banalizado: Aguardar o quê? Aguardar quem? Aguardar por quê? Aguardar para quê? Aguardar por quanto tempo? Onde, eu já sei, na cadeira. Como aguardar, também já sei, olhando a repetição enfadonha do vídeo do sucesso da casa onde me encontro. Haja paciência!