A LEI DO RETORNO - II
Por Carlos Sena


 

Em pleno efervescer do terceiro milênio, o homem, deveras atormentado, tenta recuperar algum tempo perdido no seu crescimento interior. As religiões são muitas, as seitas, são tantas. Há, de fato, uma mistura muito grande de instituições que, no geral, mais parecem pertencer a um mercado da fé. Contudo, temos o entendimento de que o que se coloca como urgente é menos a religião e mais a fé. Exercitar a fé nos parece fundamental para a compreensão do processo em seu formato mais geral, cognitivo, sensorial, transcendental. Evidente que todas as agremiações religiosas dizem buscar elevação espiritual e estabelecem JESUS e a Bíblia, como seus fundamentos maiores no caminho de DEUS. Independente de julgamentos, as igrejas são de somenos importância na estabilização da fé, embora saibamos da sua importância no processo.

A doutrina espírita entra neste contexto diferenciadamente. Primeiro porque não procura saber qual a religião dos que lhe procuram, até porque, enquanto doutrina, orienta que cada um permaneça na religião que melhor lhe atenda os anseios. A Lei do Retorno entra aqui, enquanto princípio doutrinário espírita! Por isto é fundamental que teçamos estes comentários iniciais no sentido de que a compreensão não se dê em partes. Dificilmente a igreja católica irá reconhecer da forma como os espíritas colocam, a chamada Lei do Retorno. Ela é um aspecto importante porque a doutrina espírita acredita e prega a reencarnação. Reencarnar, portanto, é resgatar "débitos" de existências passadas no sentido do aprimoramento espiritual, grosso modo. A causa e o efeito das nossas atitudes podem ser vistas como um processo singular, produto das nossas dificuldades de convivência; de relacionamento em que a ambição, o egoísmo, etc., nos impedem de praticar atitudes mais dignas, humanas, cristãs. A Lei do Retorno pode se inserir nesta dinâmica, na medida em que, consciente ou inconscientemente, a gente pratica ações que deságuam em outras sem que tenhamos referencial disto. O bem que eu faço deve ser sem olhar a quem. Não devo querer para o outro o que não quero pra mim, dentre outras assertivas, são uma lógica do que chamamos efeito das nossas causas, conseqüências das nossas atitudes.

Há quem só entenda a Lei d Retorno apenas pela lógica das "penas". Mas é muito corrente o exercício do "premio", principalmente para aquelas pessoas que despertaram para a necessidade de fazer uma leitura séria da espiritualidade que, todo dia, nos dá exemplos de sua existência. O fundamental é discernir que nem o "prêmio nem o castigo" nos chegam à via da consciência direta de quem nos fez o bem ou o mal. Muitas vezes a gente recebe um benefício que pode ter sido em função de atitudes positiva que praticamos há anos e que, por isto, não nos lembramos.

Não podemos, neste viés, inserir conceitos levianos como o de "acaso", fatalismo, etc. Tampouco, podemos tudo associar a fatos relacionados à Lei do Retorno. Muitas vezes nós sofremos determinadas provações por conta de estarmos vivos. Viver é buscar sempre ser feliz, mas isto  tem um preço alto e nem todos têm "dinheiro" para pagar. Entra aqui, um conceito fundamental: a resignação! Jamais o conformismo apregoado pela igreja católica que, durante muito tempo pregou a felicidade depois da morte. Era muito comum que padres, após a confissão, consolassem os fiéis exortando a liberdade e o conforto só depois da morte. A doutrina espírita não julga, mas procura entender o que de fato acontece na nossa relação com Deus. Ele é grande, nós pequenos; Ele é Onipresente, Onisciente, Onipotente, nós não! Talvez por isto possamos identificar com mais facilidade quando uma "provação" nos pega de "calças" curtas. Temos a inclinação de entender que um dos fatores mais definidores dos nossos "débitos" espirituais seja a imaturidade. Quanto mais a gente fica madura, há uma tendência para a tolerância. A experiência de vida serve muito para a gente tirar proveito da LEI DO RETORNO. Perdoar, por exemplo, é bem mais difícil nos jovens. Embora os cabelos brancos não possam ser atenuantes, pois os "idiotas" também envelhecem.

A natureza humana tem seu movimento próprio. A espiritualidade também. Cada dia tem que ser visto como um novo dia e vivido como tal. A vida é mágica e nós, humanos, poderemos sempre nascer de novo. Nossa auto-estima tem que está elevada, mas ela não acontece como as flores dos campos. Temos que nos cuidar, cultivando o amor, regando-o com atitudes de simplicidade e sabedoria. Acreditando que temos que fazer nossa parte para que o Pai nos ajude no resto.

O atual momento está propício para a humanidade redefinir princípios espirituais e religiosos. Chico Xavier, no Brasil, teve fundamental importância nesta consolidação, haja vista o sucesso de público que está alcançando seu filme em todo país. Final dos tempos? Fim do mundo? Talvez isto seja o menos importante saber, pois o Criador, do alto da sua sabedoria, dificilmente se permitiria aos caprichos dos videntes, supostos sábios, Nostradamus e congêneres. O futuro a Deus pertence. A nós só o presente. Se ele for de progresso, caridade, amor, é bem possível que a Lei do Retorno nos "retorne" para nova multiplicação.

 

Para quem se interessar pela "LEI DO RETORNO - I", a seguir expomos.

 

A LEI DO RETORNO - 1

                                 CARLOS SENA

 

A lei do retorno nem sempre é entendida CONTEXTUALIZADAMENTE. Compreendê-la não é ter em si conceitos espiritistas, nem ser praticante de religiões, mas certamente, ter vivido situações claras deste viés, RESULTANTES de nossas imperfeições. Pode ser que tudo aconteça concomitante na formação do entendimento, inclusive utilizando as variantes religiosas. Mas elas  não se bastam para que elaboremos uma estrutura de pensamento mais sistêmica.

A conhecida "lei do retorno", no entendimento holístico, perpassa por uma lógica de causa e efeito que, provavelmente, tenha muito substrato na física, na química, etc.. Nesse prisma, concorre fortemente a ação e reação em função de atitudes do nosso dia-a-dia, onde ficam claros objetiva ou subjetivamente, consciente ou inconscientemente, o nosso grau de crescimento interior.

"Quem planta vento, colhe tempestade", adágio popular muito colado nessa assertiva. "Nada como um dia atrás do outro", "quem tem com que me pague não me deve nada", todos igualmente populares na mesma linha, mas que não servem para estabelecer uma forte interface com a lei do retorno. Preferimos entendê-la mesmo pelos diferenciais do trajeto de cada um na sua vivência diária do dar e receber, do perdoar, do amar, do crescer, do saber, do... A intelectualidade nos parece ter pouca interface nisto, haja vista que cada um no seu nível de relacionamento passa por processos particulares de vida e experiências. Neste caso, muitos seres iluminados da história da humanidade foram simples, de pouco estudo formal, mas que tiveram uma capacidade imensa de viverem do bem e para ele, como que construindo uma rede de positividade. Muitos líderes políticos mundiais se destacaram pela profundidade das atitudes públicas em prol dos mais necessitados e isto também, pode ser considerado neste contexto. Evidente que tanto os doutores quanto os que nunca tiveram formação universitária estão submetidos às mesmas leis da natureza cósmica.

Parece mesmo que o mundo é uma grande escola e a vida, sua universidade mais dura. Porque a universidade pode dar conhecimento, mas nem sempre sabedoria e esta, submete-se quase sempre, a princípios do coração, da sensibilidade e do amor. Essa "universidade" está aí sem precisar de vestibular, exceto o duro exercício de viver com dignidade, fazer o bem e até mesmo sofrer com resignação. "Um poeta já escreveu: "Só desconhece o poder da oração quem desconhece grandes amarguras". Oração: este talvez seja um ingrediente importantíssimo para que passemos momentos difíceis na nossa depuração espiritual. Menos importante é a sua forma e sua relação com igrejas e religiões. Mais importante é seu efeito e sua forma de produzir seres capazes de lutar contra adversidades com esse importante aliado. Isto considerando que não defendemos o fatalismo, nem o sofrimento como forma, posto que ser feliz é a maior Lei. Mas as agruras da vida estão nela mesma e pela sua natureza e por isto nos conduzem a diversos níveis de evolução espiritual.

A compreensão holística da chamada lei do retorno tem implicações em todos os sentidos e em todas as formas de relacionamento. Não se pode isentar a importância das ciências do comportamento para uma melhor dimensão das causas e efeitos, das ações e reações, conforme nos referimos. Refutamos isto, por conta do foco humano tão pouco elaborado por setores organizacionais, do conhecimento científico e, acima de tudo, por entender que estamos na ERA DO CONHECIMENTO.

A lei do retorno não está submetida aos caprichos de alguém. Tampouco porque uma pessoa se considere mais evoluída do que a outra e isto possa lhe facultar algum tipo de determinismo. "Fazer o bem sem olhar a quem", talvez seja a mais importante tarefa humana neste milênio. Ela tem o poder de interferir sobre o egoísmo, sobre a extrema falta de solidariedade por que passamos principalmente, nos grandes centros urbanos. Naturalmente que quando se faz o bem dessa forma, o contrário fica neutralizado e permitindo que haja evolução interior, pelo exercício difícil do perdão.

Não duvidamos que o mundo seja um planeta de "expiação e provas", na visão espiritista. Essa crença casa muito com nossa era chamada "do conhecimento", mas contraditória nos seus efeitos: muita tecnologia, muita sofisticação, muita evolução nano técnica, mas os homens vivendo com irmãos que passam fome, que matam os semelhantes, que roubam, traficam, praticam o cinismo e têm vergonha de serem honestos.

Concluímos fazendo crença de que a Lei do Retorno independe dos quereres individuais e da ciência. As atitudes humanas e suas consciências é que são definidoras, não obstante O INCONSCIENTE dinâmico que trabalha por si só sob a égide do que somos, fazemos e sentimos.

De certa forma, nenhuma antena de AM se presta a captar ondas de FM e vice-versa. Grosso modo, nós funcionamos nessa lógica e nos permitimos muito a ser mantenedores de pensamentos adversos. Dito diferente, as ondas do nosso pensamento servem de receptoras para pensamentos semelhantes. Se forem bons, positivos, perfeito. Se o contrário, o óbvio se estabelece.

A Lei do Retorno dificilmente acontece na mesma forma como uma atitude foi deferida a outrem. Nem sempre um bem que fizermos a alguém voltará pra nós por esse mesmo alguém. A natureza cósmica tem seu movimento e se encarregará de tudo dimensionar e a nós nem sempre será permitido compreender. Talvez pela nossa capacidade humana limitada para decodificar certos mistérios. Santíssima Trindade? Como entender um só Deus sob três formas diferentes sem deixar de ser um só? Nesse mistério a igreja caótica "deita e rola" estabelecendo conceitos e teorias. Justapondo-se quase sempre aos princípios Cardecistas  que acreditam na reencarnação, na lei do retorno, na evolução espiritual, etc..

O tempo: outro elemento indispensável para nos moldarmos aos movimentos da natureza, mais precisamente aos seus aconteceres. A nossa angústia para resolver determinados problemas nos leva, não raro, a querer respostas do dia pra noite. Não adianta insistir que o tempo cósmico é incompatível com a nossa cognição disto. Um belo dia a gente vê que tudo aconteceu de outra forma, mas definitivo, pleno, sábio... Já ouvi dizerem por aí: "no final tudo dá certo, mas se não der certo é porque não chegou ao final". Acho perfeita essa assertiva, pois solidifica a estética da nossa dimensão imediatista, a despeito de que na vida as coisas não acontecem como café solúvel: na hora, sem trabalho como coar o café no bule e depois ter que lavar o coador e deixar a cozinha limpa.

Vou parar pela necessidade imperiosa que a Lei do Retorno me faculta. Se houver merecimento retornarei em outro escrito, mas lembro: poucos têm condições de identificar na realidade concreta o momento fatal em que ela (A LEI DO RETORNO) se estabelece. Diferente de uma bofetada que geralmente se estabelece no "bateu, levou", ela não. O bem ou o mal que fizermos nos retornará quando estivermos bem desarmados dos processos que nos levaram a praticar o bem ou o mal, para o nosso bem ou para o nosso mal. ESTABELECE-SE, sem que percebamos, uma conta objetiva: débito e crédito! Em cada atitude boa a gente ganhará créditos e o contrário é igualmente verdadeiro, não necessariamente na mesma ordem. O grande diferencial é a consciência disto, pois nem sempre nos é dado perceber. Portanto, não exageremos nas compreensões simbólicas desses processos, pois senão banaliza-se a intuição sobre os acontecimentos. Deve-se cultivar sempre a contrição, o silêncio sobre os aconteceres, pois isto fortalece a nossa capacidade intuitiva rumo a nossa (r)evolução espiritual.