"HAY QUE ENDURECERSE..."

Durmamos tranquilos, agora, com uma dessas... Hoje, dia 5 de abril, um dos jornais mais conceituados do Estado do Ceará, sediado em Fortaleza, o “Diário do Nordeste”, estampa em manchete uma verdadeira bomba: “Suspeitos de roubo e morte são treinados na elite da PM”.

Nada menos que seis recrutas – reza a notícia – “acusados de crimes como homicídio doloso, roubo, porte ilegal de arma de fogo e furto estão sendo treinados para ingressar na Polícia Militar do Ceará”. Mas sabem por ordem de quem eles foram matriculados para ingressar nas fileiras da PM? Não sabem, não? Ora, por obra e graça da senhora dona Justiça. Isto mesmo, homens com “fichas sujas” autorizados judicialmente a se tornarem, em breve, “autoridades”, defensores da sociedade.

E olhem que a coisa já não anda nada boa, em matéria de segurança, nesta terra de carnaval e futebol. Gosto de anotar algo que interesse a todos. Anos atrás, num velho caderno, eu fazia este registro, que segue. “Menos de dois meses, catorze ocorrências de sequestro no Rio de Janeiro. Isto quer dizer: um ato de crime hediondo a cada quatro dias, aproximadamente.” Mas o ano de 96 apenas tinha início.

A situação atual é inaceitável. Parece que tomamos anestesia geral. A chamada ordem constituída não atua, ou então age de modo atabalhoado e sem eficácia. Ou o caso estaria em mim, que não estou sabendo conviver com este clima de total insegurança? Cidades inteiras, pelo interior do Brasil, são literalmente rendidas, e os assaltos a bancos e agências de correios se fazem no coletivo.

Outro dia, ao chegar de carro às proximidades de um ‘shopping’, uma professora amiga foi levada por três marginais, sendo liberada somente após três horas de terror, a presenciar assaltos e roubos de celulares e outros pertences das vítimas. A babá e o filho dela, de cinco anos, que se haviam afastado, além de outros populares, viram tudo e ficaram a ver navios. Com o tanque do carro quase cheio, só liberam a moça quando já não havia mais gasolina.

Ouço ou leio as notícias que vêm do lado do mal, meto-me de imediato na pele de pai e mãe, filho e filha, tio e tia, avô e avó de qualquer nova pessoa sequestrada. Uma barra pesada de emoções, sim, senhor.

Embora a cavalo na aparente calmaria das distâncias, meu coração e eu não suportamos não suportamos nem mais ver tevê. Logo eu, que sou grilado em noticiosos, e por quaisquer veículos de comunicação. Andamos todos sensitivos como a malícia da campina.

Imaginem!... Um casal de quase crianças, a mãe a morrer de câncer, implorando dó é piedade aos aprisionadores do pai. Os garotos só querem que os malfeitores mantenham contato com a família caída em desgraça, moída psicologicamente.

O pai de família, um construtor, sumido de casa faz um mês. E as quase crianças, que até bem pouco talvez fossem felizes, sem esperança alguma; hoje, ah crianças, arrasadas, trituradas pela angústia, levadas ao campo do desespero. Podiam ser meus filhos, então teus filhos, cidadão brasileiro. A mãe do casal de crianças, fora de combate, doente de câncer e o marido, o pai dos garotos, debaixo das garras do crime. Cativo feito curó de gaiola.

Drama indescritível, impossível de ser aceito como realidade. E drama só para quem haja nascido com algo dentro do peito, além do simples tecido muscular. É inadmissível que não se faça nada, algo mais que se recolher o corpo do sequestrado ou por ele pagar o resgate.

As nossas leis são boazinhas demais, brandas demais, é o que diz lá a voz geral. E daí? Um prato cheio para as chicanas e filigranas judiciais. Mas em que esfera do etéreo andará o Congresso Nacional, os virtuais “legisladores”, e em que nuvem de indiferença está a mãozinha boba da Justiça, ao menos para alertar os nossos incuriosos congressistas? Diz-se que a Justiça tarda, mas também não anda nem faz por onde ser ágil. Informatização dos processos? Tomara que, talvez, um dia. Por que estão todos dormindo, dormindo profundamente, tal nos cantava o poeta nascido às margens do Capibaribe.

Que desídia nacional, meu Deus!... Com os diabos!... Homens cheios de crimes aboletados pela mão da Justiça nas fileiras da Polícia Militar do Ceará. “Ah, mas é ordem judicial. Com a Justiça não se discute – cumpre-se.” E criminosos milicianos agindo, à solta, no Rio de Janeiro. E os sequestros e assaltos em massa, nas capitais e no interior, a se sucederem em todo o País. Com os diabos!... Eu me mordo com a indiferença dos chamados “três poderes”. Senão já seremos todos pássaros cativos, em nossos próprios lares. Che Guevara falou e disse: “Hay que endurecerse...”

Fort., 05/04/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 05/04/2010
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