MULHERES QUE AMAM DEMAIS.

E esquecem de amar a si mesmas. Elas estão sempre voltadas para o outro. Na busca de agradar ao homem que escolheram tornam-se vítimas voluntárias de si mesmo.

Voltam-se para o ser amado com tábua de salvação. Colocam no outro a responsabilidade de serem felizes.

E culpam a si mesmas, culpam a família, culpam aos amigos, culpam a fé, culpam a religiosidade. Tudo porque perderam o amor.

A estranha dor é devastadora. É um câncer emocional que impede a vida. A mulher quer se libertar do desejo de obter nova oportunidade junto ao homem que considera perdido.

E passa a cometer toda uma série de desatinos e de compulsões. Pode desenvolver anorexia por achar que estava gorda e por isto ele a deixou. Pode desenvolver a obesidade porque é levada pela compulsão a comer cada vez mais.

Saciar o desejo através da comida, da bebida e do fumo.

O ser amado sumiu, evaporou. A deixou tão desamparada que o sofrimento impede qualquer movimento de libertação.

A vida ficou cinza e perdeu o sentido. Não há razão para luta.

A única certeza é a de dar continuidade ao sofrimento.

Manter morbidamente o sofrimento, visitar o fundo do poço.

Elaborar estratégias para ficar mais doente.

Elaborar estratégias que levem o ser amado a sentir-se culpado.

Esbravejar contra a família, filhos e pais.

Comparar a vida com a da própria mãe.

Transformar o caminho que parece deserto em caminho de pedras intransponíveis.

A mulher que ama demais vive a dependência absoluta do homem amado.

Somente ele presta, somente ele convém.

Mesmo que ele repita mil vezes que não a quer mais, mesmo que ele peça o afastamento, ela permanece estagnada.

Sim, ele tem que repensar. Ele tem que rever as atitudes.

Ele tem que de novo colocá-la em primeiro plano.

E a mulher que ama demais não resiste.

Ela definha. Ela procura psiquiatra, psicanalista, psicoterapeuta.

Procura terapias alternativas.

Entra em uma academia e procura realizar atividades físicas de maneira desenfreada.

Ela é refém de si mesma.

Ela não se liberta do sentimento.

Ela não sabe que muitos outros homens existem e tem dezenas que poderão formar com ela um lindo par.

Ela não quer.

Ela tomou a decisão de sofrer.

De ir ao fundo do poço na tentativa de resgatar o amor.

Mas o amor não volta.

E se voltar será mera piedade.

E que mulher quer um homem que fique com ela por piedade?

A mulher que ama demais é um carro desgovernado.

Suas emoções estão em absoluto descontrole.

É cheia de mágoas.

Tem expectativas de vinganças.

A mulher que ama demais sofre de todas as dores e somatiza.

Enfrenta um labirinto de desilusões.

Vive na expectativa de novas possibilidades

com alguém que já perdeu.

Vive na expectativa de reconstruir o outro para ela.

E vivendo a vida do outro

ela esquece de viver a própria vida.

Ao esquecer de si mesma,

joga fora a chance de contruir uma nova história,

ou quem sabe até novas histórias.

Todas as pessoas que estão vivendo ao lado de uma mulher que ama demais estão sofrendo.

Ela deseja vingança, ela não admite o fim, ela tem inveja da nova relação dele, ela não conseguirá resistir a tanto sofrimento.

Não poderá encarar a nova relação do outro e até em suicidio irá pensar.

A vida chega ao ponto do insuportável.

A vida chega ao limite do fundo do poço.

Quem irá retirar esta mulher de lá?

Mesmo que lhe atirem a corda para que consiga subir,

retornar a realidade,

ela não retornará por vontade própria.

Ela se manterá ali, vigiando a vida do outro, sonhando em estar com ele, sonhando em ser feliz com ele, sonhando em ocupar aquele lugar.

Pobre mulher que passa a vida sem nada produzir além do próprio sofrimento.

Ela está tão atenta na vida do homem escolhido que

nem observa a finitude da vida dela.

Vera Mattos

Domingo de Páscoa (passagem) de 2010

Vera Mattos
Enviado por Vera Mattos em 04/04/2010
Código do texto: T2176641
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