Quem saberá a exata explicação? John Lennon!
Eu estava em Salvador – Bahia e naquele dia 8 de Dezembro de 1980 eu contava apenas três dias desde o meu último aniversário; na TV Aratu, então repetidora da Rede Globo, o repórter interrompeu a programação para dar a notícia que o Beatle John Lennon havia sido assassinado enfrente a porta de entrada do prédio onde ela residia na cidade de Nova Iorque.
A primeira vista, para mim, parecia uma daquelas aleivosias de primeiro de abril, uma pegadinha, que, aliás, na época ainda não era moda. Era difícil para alguém como eu digerir a notícia de que o mestre dos Beatles havia morrido e de forma tão trágica. Para os amantes dos Beatles, pessoas como Lennon jamais deveriam morrer e eu sei que este pensamento é de puro egoísmo, afinal de contas, sabemos que quem nasce precisa morrer um dia!
A notícia anódina e descabida para o momento dizia também que um certo fã de nome Mark David Chapman quando lhe abordou para pedir um autógrafo, após receber a atenção de Lennon lhe retribuiu com cinco tiros de revolver calibre 38. Lennon que perdera mais de 80% do sangue morreu a caminho do socorro medido e seu algoz permaneceu no local com o livro “O apanhador no campo de centeio” nas mãos. O Beatle John Lennon morreu aos 40 anos de idade e se estivesse vivo, este ano faria, em outubro, 70 anos.
A história resumida de John Lennon praticamente todo mundo sabe por inteiro; ele nasceu de família simples no interior da Inglaterra na cidade de Liverpool e foi músico, compositor e escritor; integrou desde 1960 até 1970 a banda mais famosa do planeta e nestes 10 anos como um dos besouros destaque, Lennon mudou a história da música, a sua própria história e praticamente a história do mundo moderno. Foi irreverente, engraçado, perspicaz e clarividente; viu como poucos, várias luzes no início, meio e fim de inúmeros túneis e ganhou todo o dinheiro, fama e prestígio que poderia alguém ganhar. Foi nomeado “cavaleiro” da Rainha da Inglaterra e saiu pelo mundo cantando e fazendo mais história com suas idéias, que para alguns era loucura e para muitos uma ponta de esperança.
John casou-se pela primeira vez em 1962 e teve um filho, Julian Lennon; em 1966 ele conheceu a artista plástica japonesa Yoko Ono e conforme aponta a história, a gueixa com sete anos mais velha do que o besouro, já estava a sua procura para pedir-lhe dinheiro para financiar uma exposição em uma galeria londrina. Dois anos depois de se conhecerem a primeira esposa de John descobriu o caso do marido famoso com a japonesa artista e pediu divórcio alegando infidelidade. Lennon e Yoko se viram livres para assumirem um romance que durou até o dia de sua morte e que segundo contam foram o prenunciador do término dos Beatles.
Poucas pessoas sabem, mas John Lennon também se separou de Yoko e passou a viver com outra mulher por 18 meses; desta vez a americana descendente de chineses May Fung Yee Pang; a belíssima oriental fora assistente de Yoko e John e na primeira briga mais séria do casal o besouro não relutou e fugiu com a moça 10 anos mais jovem que ele; e que deveria ser também a posseira de todos os mistérios do oriente. O sonho do casal acabou antes de dois anos e o Beatle voltou para sua amada japonesa.
John Lennon passou a investir numa carreira solo menos glamorosa do que nos tempos da banda, mas o suficiente para manter vivo o espírito do mito dos Beatles. Lennon se mudou para os Estados Unidos e foi morar num luxuoso prédio enfrente ao Central Parque em Nova Iorque. Dedicou-se a causa da paz mundial, posou pelado ao lado da esposa, fez mais polêmicas e compôs o hino da paz até hoje, a lenda “Imagine” que se mantêm como recordista de regravações, vendas e exibições até os dias atuais.
Se por um lado 10 anos fizeram de Lennon um astro popular de grandeza máxima na carreira dos Beatles, outros 10 anos delimitaram a vida do artista entre farpas, sucesso e a morte; sua história artística curta, de apenas 20 anos, foi o suficiente para que ele deixasse marcas profundas na história mundial; história esta que jamais se repetirá e jamais será apagada.
O mundo cantou e canta Lennon; o mundo esteve e está com Lennon até hoje; até mesmo aqueles que jamais conseguiram vê-lo em imagens atuais pela televisão, quando ainda estava vivo, mantêm uma espécie de idolatria tão forte pelo mito que suas músicas são apreciadas hoje como se tivessem sido compostas e lançadas há poucos dias. Um jornalista da época escreveu que havia morrido o corpo, mas nascera o mito e este será eterno.
Várias histórias ajudaram a criar a lenda John Lennon, como o episódio em 1966 em Londres, onde o Beatle afirmou que eles já estavam mais populares do que Jesus Cristo; resumidamente John Lennon disse que o cristianismo iria desaparecer e ele próprio não sabia se o Rock ou o cristianismo desapareceria primeiro; afirmou que Jesus Cristo não era um homem mal e que seus discípulos eram obtusos e vulgares (nisso eu também concordo); - É a distorção destes discípulos que estraga o cristianismo para mim! Afirmou John Lennon.
Com a reação adversa ao célebre discurso de popularidade maior do que a de Jesus por parte do público, no mesmo ano Lennon precisou tentar desfazer o dito, disse em entrevista que não era anticristo, muito menos anti-religião; disse também que jamais pretendeu ser maior do que Deus e se assim o interpretaram, fizeram de modo errôneo!
Depois disso Lennon se tornou ativista político anti-guerra; com a gravação do sucesso “Guive peace a chance” (dê uma chance à paz) o Beatle comprou uma briga feia com Richard Nixon, então presidente dos EUA; suas declarações contra a guerra do Vietnã o fizeram mais uma vez estar no centro de todas as atenções do mundo; Nixon tentou deportá-lo, mas a mídia forte e o espírito manchado das famílias dos americanos mortos na guerra inútil foram praticamente os advogados de Lennon e ele ficou; ficou e mudou-se de vez para Nova Iorque, de onde permaneceu com sua peregrinação pela paz do mundo!
Sempre bom deixar registrado que a batalha Lennon X Nixon durou quase cinco anos; neste período o Beatle desafiou por várias vezes a autoridade do Presidente, inclusive ameaçando fazer um concerto de protesto no mesmo dia das eleições presidenciais. A guerra entre os dois só terminaria em 1972 quando do escândalo de Watergate que fez Nixon renunciar e anos mais tarde (1975) Lennon finalmente conseguiria seu tão sonhado Green Card, documento que permite que um estrangeiro more e trabalhe nos Estados Unidos da América.
Após sua morte em 1980 o FBI admitiu tê-lo investigado durante anos a pedido do Presidente Nixon e outros membros da administração; o objetivo da investigação era reunir fatos e provas que desmoralizassem o Beatle a ponto de deportá-lo sem o peso maior da opinião pública. Eu afirmo que na guerra particular entre Nixon e Lennon venceu a verdade!
O escritor Philip Norman em seu livro “John Lennon – A vida” disse ainda que o cantor quis ter tido relações sexuais com sua mãe e também teria afirmado que despertou vontade de fazer sexo com seu empresário Brian Epstein; o livro de Philip retrata um John Lennon inseguro, muitas vezes violento e extremamente venenoso, mas também revela as faces que muitos já conheciam, como a bondade extrema, a coragem fora do comum, a criatividade e o talento intrínseco de sua vida jovem; talento este que desfalcou o grupo e que jamais teve alguém para substituí-lo.
Lennon deixou oficialmente dois filhos, um com a primeira esposa e outro com Yoko, mas oficiosamente, deixou milhares de outros filhos que são seus fãs apaixonados que vivem até hoje como dependentes de suas canções. Após 30 anos depois de sua morte, praticamente nada mudou; em cada cidade do Brasil e do mundo, pelo menos uma música de Lennon ainda continua sendo executada em alguma rádio; algum artigo na imprensa é publicado pelo menos uma vez por semana e suas canções continuam rendendo milhares e milhares de dólares todos os dias nas contas correntes de seus herdeiros, principalmente de sua ex-esposa Yoko Ono.
Depois daquele dia 8 de dezembro de 1980 a minha vida mudou bastante, mas a minha admiração pela música de John Lennon, esta pelo visto, não mudará jamais. Antecipadamente fica registrada aqui a minha homenagem póstuma das três décadas sem a presença terrena dele, que foi um dos maiores artistas revolucionários do mundo, John Lennon!
Também para efeito de registro público a música “Canção de um novo mundo”, de Fernando Brant e cantada por Milton Nascimento e Beto Guedes é toda composta em homenagem a John Lennon!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
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