TOQUEMOS JUNTOS

Me comporto como se tudo fosse música. Ajo governado por meu ritmo interior.

Ocorre que este ritmo nem sempre concorda com o ritmo do mundo e, então, saio de compasso. Tenho que sintonizar novamente o ritmo das coisas e esquecer por um momento a minha frequência interior. O que é sempre um processo doloroso e estressante, pois quando isso acontece tenho de fazer um esforço, afinar o ouvido novamente para ouvir a música que o Universo está tocando.

Sim, o Universo. Pois creio que a expressão a “harmonia das esferas”, usada por Newton, não seja apenas uma metáfora para expressar a perfeição da gravitação universal da órbita dos planetas, mas a expressão para a ordem subjacente de todas as coisas: a música.

E música é ritmo. E ritmo é matemática.

Pitágoras já dizia quase o mesmo: que os números governavam o mundo.

Enfim, para eu, que não sou muito afeito aos números, o mundo é mesmo governado pela música.

Há uma música universal tocando e só as sensibilidades mais aguçadas são capazes de a captar, sendo a música como a conhecemos, apenas uma expressão singular dessa música universal. Pois há música no ato de criar, seja ele qual for; há música no trabalho, quando gostamos do que fazemos; há música no amor, quando estamos apaixonados; há música nas nossas vidas, quando estamos com saúde e ganhamos o suficiente para pagar as contas, investir e economizar. Há música quando conseguimos “reger” todos essas facetas do nosso ser, de tal forma que todos eles trabalhem em harmonia: a saúde, o amor, as finanças, a realização profissional.Quando um deles desafina, desafinamos como um todo e como, na música, um desafino é sempre desagradável ao ouvido.

Os povos primitivos viviam em harmonia com a natureza. Seus ciclos de nascimento, crescimento e morte. A civilização afastou o homem do seu meio e ficou mais difícil para ele apreender o ritmo natural.

Há muitas dissonâncias hoje que são fonte de doenças, desajustamentos, exclusão e violência. O homem não vive mais em harmonia com o seu meio. Se despersonaliza, não se reconhece naquilo que faz. O trabalho lhe obriga a cumprir horário, a fazer coisas que não tem vontade. Não é por acaso que o índio morria quando escravizado. Tirado do seu meio era obrigado a empregar a sua força de trabalho para gerar a riqueza de poucos. O que ele não entendia. Na natureza tinha tudo do que precisava e só agia quando realmente necessário.

O trabalho - e mais ainda a sua falta, pois o meio lhe impõe isso - é a maior fonte de stress do homem moderno, pois o obriga a um ritmo que não é o seu.

Na medida do possível tem de haver uma adequação. O homem tem de o ajustar ao seu ritmo interior. Quer dizer, escolher aquele que mais se adequa a si. O que é um privilégio para poucos que podem preparar-se adequadamente para o exercício de uma profissão realmente satisfatória. Não apenas como um meio de subsistência, mas também como fonte de realização. A sensação que se está cumprindo com aquilo para que se nasceu.

Mas estamos chegando lá. A civilização pós-industrial começa a ser dar conta de que o homem tem de ser o centro das suas preocupações. Garantir o seu bem estar, a satisfação com o seu trabalho e a sua saúde. Só assim haverá produção de qualidade, pelo menos naqueles setores em que o produto é esforço da inteligência, da sensibilidade e da criatividade. Às máquinas deixamos o trabalho duro e burro. Máquinas que, uma vez pensava-se, iam substituir o homem. Sim, substituíram, mas só naqueles trabalhos que não exigem criatividade e inteligência. Cada vez mais o homem pode se liberar para essas tarefas. E para essas, tem de estar bem consigo e com seu meio. Em harmonia.

Algo que, nos dias atuais, todo mundo começa a buscar, na medida em que está ficando cada vez mais claro que a saúde não é só uma condição orgânica, mas também fruto de um estado psíquico e emocional equilibrado. O que só se consegue quando se escuta a música interior de cada um e ela vibra na mesma freqüência com o seu meio.

Sócrates dizia: conhece-te a ti mesmo. Poderíamos complementar este provérbio com: escuta-te a ti mesmo! Busca sintonizar o teu ritmo interior com o ritmo do Universo, pois quando eles vibram juntos, tudo flui melhor. O que de certa forma define o conceito de sinfonia. Do grego sym- reunião, com – phonia – sons, vozes. Reunião de sons e vozes.

Toquemos juntos, então!

by Garcia Perez