Juventude e projeto existencial (uma perspectiva espírita)
Fernanda Leite Bião
http://luzdointerior.wordpress.com
A juventude é uma fase marcada de incertezas. Há um afastamento do corpo infantil, que se transforma em um novo corpo, com mudanças físicas e hormonais a suscitarem no jovem estranhamento e dúvidas sobre essa nova constituição biopsicossocial.
No campo perispiritual, modifica-se a conexão com energias mais sutis que outrora (na infância) faziam parte da vida do ser. Ao mesmo tempo, começa a aflorar o espaço para uma identidade autônoma.
Todo o processo de socialização e educação proporcionado por pais e cuidadores tem um caráter especial, uma vez que o objetivo é o aprendizado de novos comportamentos, os quais, inseridos no contexto presente, podem estabelecer ressonância com as lembranças de outras vivências (reencarnações). Dos pontos de convergência entre o pretérito remoto e a atualidade germina a semente para opções de novas escolhas para o ser reencarnado ou a repetição de hábitos, virtudes ou vícios, originários de outros momentos evolutivos.
Durante a estadia no plano espiritual, o espírito, geralmente, conta com a colaboração de uma equipe interdisciplinar, a fim de que juntos possam reelaborar o seu projeto de vida (existencial), necessário ao planejamento das tarefas, objetivos e metas existenciais.
O projeto reencarnatório é um processo vivenciado pelo espírito antes do seu retorno ao orbe terrestre. Quando consciente do estado em que se encontra, lúcido quanto aos seus comportamentos e em condições de propor objetivos factíveis e saudáveis, propõe-se ao espírito se juntar à equipe interdisciplinar encarregada de formular as escolhas, objetivos e metas da nova tarefa existencial. Já quando em estado de alienação, o orientador designado para a tarefa reencarnatória do espírito assume a atribuição de construir com os cientistas siderais o projeto a ser desenvolvido pela alma reencarnante.
Toda a ação realizada anteriormente pela alma em evolução permanece registrada em seu corpo períspiritual, o que facilita a organização do material (DNA) na elaboração das possíveis probabilidades de vir-a-ser na Terra.
Ligado a uma rede evolutiva, afetos e desafetos, oportunidades e necessidades farão parte dos desafios e aprendizados a serem enfrentados pela alma em evolução. O espírito, por meio do seu livre-arbítrio, pode e deve transitar pela existência, promovendo as modificações e reconstruções baseadas nas leis éticas e evolutivas universais.
De volta ao corpo material, etapas da vida física são forjadas (infância, juventude, adultez e velhice), convidando o ser a utilizar todo o seu potencial para a instauração do que foi acordado antes do processo reencarnatório e que hoje requer, novamente, preparo e coragem para enfrentar os desafios da vida humana.
Na juventude, torna-se mais visível e delicado o diálogo entre as tendências (saudáveis ou patológicas) cultivadas no passado distante e a nova personalidade em gestação.
O jovem é convidado a viver cada dia projetando-se no futuro, realizando escolhas, oscilando na construção de uma identidade para a vida adulta e a perda de uma infância marcada pela segurança validada pelos pais.
As decisões, antes externas aos jovens, são transferidas, paulatinamente, para a sua esfera de responsabilidade – momento em que o projeto reencarnatório pode ser relembrado, o que faculta ao ser o início do (re)descobrimento do sentido existencial.
A percepção de si e o desenvolvimento do autoconhecimento do jovem passam pelo estudo de suas origens (história familiar, valores e crenças), exame do que lhe chama a atenção no presente (mundo a sua volta), análise da forma com que participa em grupos sociais, reflexão sobre os sentimentos (medo, raiva, alegria e insegurança) vivenciados no cotidiano e ponderação acerca do sentido de cada escolha.
(Publicado na Revista Cristã de Espiritismo, São Paulo, v. 77, p. 18 – 19, jan. 2010.)