QUEM É O SER HUMANO?

Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de uma comunidade humana. Ela me dirige, corpo e alma, desde o nascimento até a morte” ( Albert Einstein)

O livro do Gênesis (1, 27) salienta que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus. Se este é bom em plenitude e “provou” esta sua bondade gerando a vida humana, então esta, a vida humana, se encontra num grau significativo da própria criação. Ou seja, este mesmo homem possui a tarefa de ser bom assim como é a vontade de seu criador (Sobre este ponto vale ressaltar a contribuição do Papa João Paulo II sobre a questão da consciencia humana frente a lei de Deus: “A relação que existe entre a liberdade do homem e a lei de Deus tem a sua sede no coração da pessoa, ou seja, na sai consciência moral: ‘No fundo da própria consciência –escreve o Concílio Vaticano II – o homem descobre uma lei que não impõe a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está chamando ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus: a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgada’ [cf. Rm 2, 14-16] (Veritatis Splendor, n. 54)

Nesta perspectiva que denota acentuar que:

O que esta implícito na concepção é, isto é, a idéia da parceria da comunhão com Deus, de uma extraordinária proximidade o Criador. O Ser humano passa a ser “sujeito”, ou mesmo, “pessoa”, assim como o próprio Deus o é. [...] Correto é falar numa determinada estrutura antropológica, numa destinação, numa vocação. O ser humano é um ente de estrutura relacional, é personalidade que na comunhão com Deus encontra a razão de sua existência e seu verdadeiro destino. ( BRAKEMEIER, 2002, P. 20)

Interessante notar que mesmo antes da criação, Deus já conhecia a criatura.( Cf. Ef 1,3-13) Denota dizer que é a vontade de Deus que todo o homem e toda mulher vivam em harmonia, em profunda dignidade e engajados na sociedade como fiéis testemunhos de filho de Deus, vivenciando a vocação dada por Deus, seja qual for esta vocação. Desta afirmação se pode fazer a seguinte questão: como viver na sociedade concretizando a harmonia e a dignidade humana? Neste sentido que a Igreja pode oferecer solução para este problema, fazendo com que ela, a Igreja, anuncie para todos os povos a visão cristã da pessoa humana. Uma vez que cabe a ela iluminar a própria identidade e o sentido da vida e o motivo, pelo qual, se professa que toda a contradição sobre a dignidade humana vá contra a vontade de Deus (Cf. Documento de Puebla, n. 306).

Há o pensamento de que o homem não tem uma alma e um corpo, mas é alma e corpo. Tal relação se complica a partir do momento quando se observa no livro de Isaias (10, 18) a menção que o autor bíblico faz sobre “alma” e “espírito”, como sendo princípio da vida e das sensações. Entretanto, esta duplicidade entre corpo e alma, não se contrapõem entre si. Esta mesma duplicidade se baseia no aspecto distinto da energia vital do homem, da qual é colocada em conexão com o corpo e daí se denomina como alma. E outras vezes como algo vivificante (hábito de viver), se denominando como “espírito” e hábito de vida”. Este é mencionado nos finais do Antigo testamento (Ecl 12, 7; Jó 34, 14s; Sl 104, 29s), da qual volta para Deus ao destruir o corpo humano. [cf. SCHEFFCZYK, Leo. O homem moderno e a imagem bíblica do homem. Tradução por Luiz João Gaio. Paulinas: São Paulo, 1979. p. 63].

E, a partir do momento em que ambos são corpo e alma do homem, ele é uno: essa unidade deveria ser o cerne principal da pessoa humana. Somente a partir dela é possível existir a distinção desses dois aspectos. O homem é corpo pelo fato de existir no espaço e no tempo, é parte deste cosmos, que caminha até a sua própria morte; é alma transcende os condicionamentos deste mundo, é imortal, e, em última análise, tudo isso tem sentido porque o homem é ser para Deus, é relacionado radicalmente a ele.

Após o Concílio Vaticano II, a antropologia teológica avançou de forma significativa e ganhou um enfoque cristológico. Isto se dá pelo fato de que Cristo é o pleno e o realizador da vontade de Deus perante os homens. Ou seja, um autêntico exemplo de realização da vontade de Deus na terra. Ele, Jesus Cristo, é o centro da dignidade cristã. Sendo assim, ele é o perfeito.

A vontade de Deus consiste na santificação de cada criatura humana para viver uma vida nova, ou seja, unida a Deus através da fraternidade e da reta conduta ética e moral aos irmãos em Cristo. Afinal de contas, se Deus criou a humanidade para viverem no pecado e mandar Jesus Cristo para salvá-la, então Deus não agiria bem. Quanto que na verdade o que Jesus apresenta para as pessoas de sua época é, tão somente, a realização do ser humano completamente humanizado. São coisas humanas que Jesus promete aos homens (Cf. Mt 5, 3-6; 22, 1-14; Ap 21, 9-22).

Numa ótica cristã, o fim ultimo do ser humano não esta no além-físico, no mundo das idéias, mas sim esta na condição humana, na realização no mundo físico em que o ser humano se encontra engendrado. Uma vez que:

[...] para ver Deus não é preciso sair da condição humana. Deus veio até os homens e se tornou homem para ser visível aos olhos humanos em forma humana. Quem vê a Jesus, vê a Deus. [...] O cristão vê a Jesus no seu próximo. (COMBLIN, 1985, p. 257)

Isso faz com que apareça a vivência cristã, ou seja, as praticas que Jesus ensinou aos seus contemporâneos e se fazem presente até hoje nas Igrejas.

Deus quer que a sua criatura seja perfeita e que concretize a sua vontade em meio aos outros. Isso é ponto pacífico, sendo que o homem foi criado a imagem de Deus, de seu próprio criador. Mas pelo fato do ser humano ser limitado na sua condição humana, este mesmo cai no pecado, isto é, na contra ação que advém de Deus. Vale dizer que Deus não cria o ser humano para ser pecador, ele se torna assim através das ações morais dentro de um contexto e de um determinado povo. Só Jesus foi pleno, pois não teve a experiência do pecado. Isso faz dele perfeito em si mesmo.

No entanto, o importante é que este mesmo ser humano fadado ao erro e ao mal, esteja sempre vivenciando a possibilidade de estar em comunhão com a vontade de Deus que fora revelada através de seu filho amado, Jesus Cristo. Para isso requer do aspirante que queira seguir a Cristo uma coisa fundamental: mão se limitar a falácia, mas agir os ensinamentos de Cristo.

Cada pessoa vivente na terra é uma criatura que fora feita para a salvação, que é justamente a realização plena do humano: viver em Deus. Nesse sentido fica mais fácil entender que a salvação não é apenas conserto da natureza corrompida pelo pecado, mas muito mais que isso, ela é dom, acréscimo, dádiva, graça, excesso, abundância. Não se trata de refazer o que o humano foi, mas de dar realização plena às suas potencialidades, isto é, fazer com que o humano seja aquilo que é chamado a ser.

A partir do momento que ela se encontra com os outros e passa a perceber que não existe apenas o “eu”, ele se torna “nova’ criatura em Cristo. É vivendo a moral ensinada pelo filho de Deus que a nova criatura vive em Cristo. Segundo João Paulo II, agir bem é estar em viver conforme os dez mandamentos.

Para o cristão, a vida possui dois sentidos básicos: para a glorificação de Deus e para a vivencia da felicidade diária. Cada pessoa foi criada para a participação da glória de Deus. É viver com ele e estar em consonância com a sua vontade. Nisto que reside a vocação radical. E uma vez que todo o cristão esta intrinsecamente encarregado de cuidar de si e dos outros, advém a vocação transcendental, que é a consciência da filiação em Deus e a vocação histórica, que é as ações concretas de cada pessoa vivente. Pode-se dizer, ainda, que o ser religioso não é, necessariamente, a religiosidade em si, mas sim na fidelidade sobre algum ideal de vida ou de trabalho.

BIBLIOGRAFIA:

BETTO, Frei. A obra do artista: uma visão holística do universo. São Paulo: Ática, 1995.

BRAKEMEIER, Gottfried. O ser humano em busca da identidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Paulo: Paulus, 2002.

COMBLIN, José. Antropologia cristã. Col.Teologia e libertação. Petrópolis: Vozes, 1985.

GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de criação ao big-bang. São Paulo: companhia das letras, 2006.

HORGAN, John. O fim da ciência: uma discussão sobre os limites do conhecimento científico. Tradução de Rosaura Eichemberg. São Paulo:companhia das letras, 1998.

RIBEIRO, Helcion. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?: antropologia teológica. Petrópolis: Vozes, 2007.

SCHEFFCZYK, Leo. O homem moderno e a imagem bíblica do homem. Tradução por Luiz João Gaio. Paulinas: São Paulo, 1979.

Thiago Marques Lopes
Enviado por Thiago Marques Lopes em 30/03/2010
Código do texto: T2166780