Eu fumei maconha!

Antes de começar o meu sermão habitual sobre este tema preciso fazer uma declaração para os que não me conhecem e um desabafo para os que me acompanham; fumei maconha na juventude duas vezes e traguei; na primeira vez que o fiz, sem antes mesmo contar os dezoito anos completos, sob as influências dos velhos companheiros estudantis, fui eu experimentar aquilo que sempre a minha família condenou e ensinou o contrário; o que ainda me faz lembrar aquela vez, a minha primeira vez; recordo do drama esquizofrênico de um quase adulto rindo feito uma hiena, comendo coisas compulsivamente e “pagando o maior mico” perante os amigos caretas.

Não satisfeito, um ano depois, desta vez sob a influência de uma linda mulher mais velha, fui experimentar mais uma vez da mesma erva; tudo para prová-la (inutilmente) de que eu já era um super homem e que podia levá-la ao delírio em uma surpreendente noite de romance, sexo e rock in roll! Se fizemos amor? Esta é a parte menos importante desta história; eu fiquei alucinado e no dia seguinte praticamente não lembrava nem meu nome corretamente! Esta foi a minha última vez e isso já faz algumas décadas!

A vida ainda me colocaria diante de alguns sujeitos que se injetaram, outros que fumaram, cheiraram, enfim, os longos anos de experiência de vida já me colocaram perante muita gente louca que trocou bons momentos pela utilização de drogas, todo tipo delas e o resultado de tudo isso é que estamos vivendo momentos de epidemia; um surto de todo tipo de entorpecentes, psicotrópicos e afins que estão literalmente corrompendo e matando todos aqueles que se permitem o uso ou comércio, mas principalmente a nossa inútil e ingênua juventude.

Meus amigos reclamam de meus uísques, vinhos e cervejas; minha família reclama de meu vício em tabaco; sei que tudo isso, principalmente aquilo que é consumido em excesso só precipita o final de minha vida, mas pelo menos eu ainda posso fazer isso diante de qualquer autoridade sem correr nenhum risco da humilhação do cárcere; tudo o que uso hoje é lícito e partícipe do rol dos altos impostos que alimentam a fome de dinheiro do mundo!

As drogas são substâncias químicas de origem indutiva, quando processadas industrialmente, ou natural, quando extraídas em altas concentrações a partir de órgãos vegetais (as folhas), ou de substâncias provenientes de secreção animal ou de estruturas fungicidas.

O consumo contínuo, além de ocasionar a morte do indivíduo quando em altas quantidades (overdose), pode ocasionar sérias seqüelas no sistema nervoso (lesões neuronais), no circulatório (tensões arteriais) e respiratório, bem como problemas de ordem social, envolvendo a marginalização de adolescentes atraídos pelo tráfico que em nosso sistema, disfarçadamente significa “dinheiro fácil” e poder absoluto sobre uma gama social.

As drogas podem ser classificadas de acordo com o ato: acerada ou branda, sobre o sistema nervoso central:

Perturbadoras – aquelas com efeito alucinógeno, acelerando o funcionamento do cérebro além do normal, causando perturbações na mente do usuário. Exemplo: LSD (sintetizadas a partir do ácido lisérgico), a maconha e o haxixe (produto e subproduto extraídos da planta Cannabis sativa), os solventes orgânicos (cola de sapateiro).

Depressoras (as mais perigosas) – diminuem a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais lentos. Exemplo: tranqüilizantes produzidos por indústrias farmacêuticas (antidepressivos, soníferos e ansiolíticos), o ópio, a morfina e a heroína (extraídos da planta Papoula somniferum).

Estimulantes – substâncias que aumentam a atividade cerebral. Estimulam em especial áreas sensoriais e motoras. Integra esse grupo a cocaína e seus derivados (o crack), extraídos da folha da planta da coca, Erytroxylum coca e as drogas mistas – combinações de dois ou mais efeitos. A mais comum e conhecida desse grupo é o Ecstasy que está abundantemente presente na vida de quase 80% dos jovens que freqüentam as grandes festas eletrônicas, segundo fontes oficiais da ONU.

Portanto, independente de sua classificação ou da substância utilizada, gera dependência química e causa sérios danos ao organismo da pessoa viciada, acometendo de forma irreversível o sistema nervoso e se isso tudo ainda é considerado como “babaca” por parte de quem consome ou vende, basta você ter um pouco mais de coragem e visitar qualquer clínica para dependentes químicos ou se for um aventureiro mais firme, peça a um delegado de polícia para lhe deixar visitar algum prisioneiro condenado por tráfico!

Paradoxalmente dentro das teorias de Cesare Lombroso, primeiro não há como antever o indivíduo que se predestina a criminalidade, seja pelo uso, muito menos ao tráfico de drogas, mas insistentemente há como prevenir, senão por completo, uma boa parte dos problemas sociais causados pelo consumo e comércio de drogas no mundo. Na desconhecida ciência criminológica, que contradiz o novíssimo estudo antropológico criminal, o indivíduo nasce, salvo se detectado algum tipo de anomalia clínica, normal, como outro qualquer, mas o sistema em que ele é introduzido é quem o faz mais ou menos simpatizante daquilo que é ilegal, como o consumo e tráfico de drogas.

Meus pais sempre me disseram que se eu experimentasse qualquer tipo de droga eu literalmente morreria, mas quando eu descobri por recursos próprios que aquilo era uma mera fábula, eu vivia numa época romântica onde tudo se dizia permitido, mesmo tendo duras leis que a contradissessem; eu poderia continuar usando e vivendo o romantismo da época, mas ao invés disso, descobri cedo, para minha sorte, que aquelas atitudes ou me levaria a margem da sociedade, tendo que arcar com o risco de todas as minhas ações, ou num estágio piorado, me levaria para dentro de um caixão; eu também poderia esquecer e viver uma vida normal, como a maioria de meus colegas; por sorte escolhi a última opção!

Já adulto e começando a viver num meio distinto ao que nasci e cresci, conheci por meio de outras pessoas, todo tipo de ação que envolveu drogas de todos os calibres; vi gente morrer por vender; vi gente morrer por usar; vi gente ser presa por vários motivos; conheci a dura realidade de grandes cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador e fui conhecer alguns celeiros da produção de drogas do Brasil, como o polígono da maconha no agreste de Pernambuco; de todas estas experiências antropológicas e meramente científicas, sem ter que ser cobaia de nada, falei com pessoas de todos os tipos e jamais consegui enxergar alguém que fizesse parte deste mundo criminoso que se afirmasse feliz; jamais encontrei alguém dependente ou traficante que me afirmasse ter um futuro planejado e melhor.

Somente quando se está do outro lado é que podemos enxergar claramente que o uso e tráfico de drogas somente fortalecem tudo de horrível que acontece no mundo; até o Afeganistão que já foi comandado pelos fundamentalistas islâmicos do Talibã, davam vazão ao tráfico internacional de heroína através de grandes plantações de papoula; tudo gira em torno do dinheiro e é nestas horas que aprendemos que isso gera guerras, financia armas e cria-se um mundo tão devastador que somente quem vive pode testemunhar.

Os céticos, principalmente os usuários de drogas, podem dizer que usar estas substâncias serve para eternizar um momento feliz, mas o que estamos fartos de ver é totalmente o contrário; quem usa drogas causa um distúrbio social tão grande que destrói famílias, amigos, fortunas e geralmente leva ao profundo desgosto pessoal; é óbvio que quando se está sob o domínio dos reagentes entorpecentes, ninguém percebe de fato o que está ocorrendo; todo mundo pode e deve contrariar a teoria do “criminoso nato” do médico Lombroso; cada indivíduo pode e deve mudar o seu rumo histórico, sobretudo quando ele está diante da catástrofe das drogas, bastando para isso procurar, no momento de lucidez, a associação ao grupo de pessoas certas, mesmo que o Estado não lhe enxergue como produtivo, haverá sempre alguém para acolhê-lo e fazê-lo um modelo de mudança.

O Estado também pode e deve mudar alguns cursos naturais do comércio de entorpecentes, gerindo uma força pública capaz de lidar com o problema de forma mais coercitiva; a justiça precisa ter totens relevantes para cercar a proeminência do comércio de drogas, colocando atrás das grades todo aquele que movimenta uma fortuna todos os dias à custa de vidas quase sempre inocentes e a sociedade, de modo geral, deveria abrir mais os olhos para um problema que hoje está nas ruas, mas amanhã poderá estar em sua casa, fazendo parte da vida de seu filho ou de seu pai; se todos fossem mais inteligentes e unidos, poderíamos estar vivendo em outra época e neste caso, poderíamos usar o velho slogan militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Mais de 30 anos depois eu ainda não me sinto totalmente liberto desta peste que chamam de droga; sinto medo de meus filhos, de meus amigos e do que isso pode gerar para as próximas gerações; sinto medo que a juventude se acostume a enxergar que tudo isso é comum, simples, banal e prosaico; se nada de efetivamente for feito já, nos mesmos moldes da propaganda da ecologia, poderemos estar enxergando em breve as crianças com menos de 10 anos indo para a escola com livros rasgados e uma seringa novinha em folha na pasta ou ainda esperando na hora da merenda para consumirem comprimidos azuis ao invés de pasteis e refrigerantes.

Dramático eu? Acho que não! É você quem está adormecido e pensando que ainda vivemos na época em que tínhamos medo do lobisomem e acreditávamos que o coelhinho da páscoa de fato punha ovos de chocolate sobre a sua mesa! Por menos romântico que possa parecer; se não tomarmos cuidado, saberemos muito rápido que o coelhinho virou cozido ao molho de laranja e que a branca de neve morreu de overdose; que o lobo mal é pastor protestante e que o papai Noel cumpre pena em Bangu I por tráfico internacional de drogas...!

Este é o mundo globalizado e infeliz que vivemos; ainda dizem que o fim está próximo...! Risos, muitos risos!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 29/03/2010
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