A LEITURA APONTA CAMINHOS

Fico encantado quando uma cidade tem aura intelectual própria, gosto para realizar coisas que privilegiem o espiritual de sua gente.

Há mais de vinte e cinco anos tenho estreito contato com Caçapava do Sul. Tudo começou com Reynaldo Cidade, Arnaldo Cassol, Nicolau Abraão, Clara Haag Kipper, Francisco Guarany de Bem, Alcy Cheuiche, Zeno Dias Chaves, Cyro Rios Mesquita, Cora Torres, Francisco Arlete da Rocha, Orlando Mazini da Silva, Remaldo Cassol, Leanir Pazinato Valcarengui e Roberto Cidade, todos ativistas culturais de nomeada, cada um na sua área de predileção e encantamento.

A partir daí fui conhecendo mais e mais pessoas que, muito antes de querer buscar prestígio pessoal, cada um atuava no sentido de agregar mais e mais a comunidade caçapavana em torno da leitura e do “aprender a pensar, a dizer e a registrar”. Alguns, migrados para a capital e outras cidades interioranas de maior porte, traziam esta dedicação como ponto de honra, atuando em associações literárias e outras entidades afins.

Entusiasta do associativismo poético e literário, bem antes das ligações mais profundas com Caçapava, sempre acompanhei e me engajei nas atividades destas e de outras lideranças culturais, nas mais variadas promoções de eventos: certames literários, feiras do livro, eventos privados de publicação de livros, edição de jornais e revistas, festivais de música e de poesia, palestras sobre os mais variados temas culturais, etc.

Bebi água na fonte com muitos desses amigos. Demos um pouco de cada um de nós no sentido do desenvolvimento intelectual e do fomento das atividades que produziam leitores e, consequentemente, pessoas melhor preparadas para a escolha dos dirigentes político-administrativos e mais capacitadas para o exercício de suas quotidianas atividades.

Em maio de 1994, nascia a Casa do Poeta Caçapavano, com a sigla CAPOCAÇA, e já no ano seguinte era publicada a 1ª coletânea de poemas. A obra foi muito bem recebida nos meios culturais do Estado. Porém, após os esforços iniciais de agregação de naipes locais, a idéia perdeu força e mermou, apesar dos esforços do presidente Cyro Rios Mesquita e sua pequena equipe. Durou cerca de dois anos esta primeira etapa.

Reencetada a caminhada associativa em 07 de novembro de 2009, agora sob a liderança da jornalista e advogada Felícia Soares Lopes, está aí, rediviva, a Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Caçapava do Sul, que tem como patronesse a poetisa Clara Kipper. Congrega-se, na Casa, um belo espectro intelectual e novas figuras aliam-se aos veteranos. E a Casa do Poeta ganha uma sede própria na Rua Lúcio Jaime, 627, no centro da cidade, fruto dos esforços, dispêndios e benemerência da presidenta, Dra. Felícia.

Feita a cerimônia de inauguração, com discursos, ótimo e representativo público, almoço com sarau poético-musical, a empolgação pareceu tomar conta da cidade, que ansiava pelo novo espaço e novas iniciativas que materializassem o destino da entidade.

Aqui está a primeira mostra do que o espírito empreendedor de Caçapava é capaz: nasce um livro para guardar a história intelectual da criação local, fruto de um concurso literário realizado às pressas para que a XX Feira do Livro recebesse a contribuição cultural caçapavana, em prosa e verso. Algo é digno de nota: o mecenato é público. Verbas hauridas do orçamento da Câmara de Vereadores.

Em última análise, o Poder Legislativo de Caçapava do Sul cumpre uma de suas missões através da Comissão de Educação e Cultura: fomenta a descoberta de talentos e irmana, para o horizonte, a plêiade espiritual dos que, por certo, sonham uma cidade vivificada num porvir de esperanças.

Para um país cujo povo lê apenas 3,8 livros/habitante/ano e um Rio Grande que lê cerca de 5,6 livros/habitante/ano, parece que a Casa do Poeta e a Câmara de Vereadores justificam os seus objetivos maiores com reconhecida ação prática: na “Clareira da Mata”, povo e governo trabalham pelo soerguimento do espírito comunitário e apontam caminhos.

Os investimentos feitos em educação e cultura, e as ações coerentes de povo e governo, demonstram que podemos nos orgulhar de ter sido Caçapava a “2ª Capital Farroupilha”, durante o decênio heróico de 1835/45. Povo que tem aprendizado pode aspirar melhores horizontes.

Parece que todos apreenderam, como Nação, que na paz é necessário unir os vetores Educação e Cultura, para que se possa aspirar um país esperançoso de Pátria. Realmente, “um grande país se faz com homens e livros”, como profetizava Monteiro Lobato.

Que todos tenham uma boa leitura!

Porto Alegre, 29 de março de 2010.

– O autor é advogado, ativista cultural e poeta com oito livros publicados. Coordena nacionalmente a Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional, que tem 75 sedes municipais em 20 Estados da Federação.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2165050