UM PAÍS DE ZAROLHOS MÍOPES E CEGOS!

Segundo PLATÃO, as "pessoas inteligentes falam de idéias, pessoas comuns de coisas e pessoas medíocres falam de pessoas". Reparem que é, precisamente, através deste mesmo interesse mesquinho pela vida alheia que o reality show "BIG BROTHER" consolida o seu sucesso de audiência, pois esta é a sua atração principal. E, claro, não podemos deixar de mencionar a exploração desmedida da sexualidade feminina e a contextualização em torno de pessoas pertencentes a classes sociais menos abastadas, de sexualidade promíscua ou diferente, simplesmente para polemizar. Porém, estas linhas não constituem uma resenha do principal programa da Rede Globo, nem, tampouco, é uma verbarrogia de um pseudo-intelectualóide condenando o divertimento, ao tecer considerações áridas ou óbvias, para auto-afirmar a sua opinião e gosto pessoais.

Acredito, pois, que quando as pessoas dão tamanha importância à vida dos outros é porque a própria vida pessoal não lhes parece tão importante, sobrando, portanto, tempo e ensejo de se preocuparem com outras pessoas, justificando, assim, o grande interesse pelo referido reality show. O programa, nos moldes em que é realizado, não acrescenta em nada à televisão aberta, já tão vendida a modismos e padrões meramente comerciais e sensacionalistas, e isso não é novidade, como também não é novidade constituirmos um dos países com a maior carga tributária do mundo, além de sermos acomodados e de pouco senso crítico, pois em meio a tantas restrições financeiras, custeamos o programa, todas as terças-feiras, quando ligamos para escolher o vencedor de cada um dos "paredões", para uma satisfação além do já tradicional voyeurismo, ou seja, é quando tentamos, sem maiores conseqüências, interferir na vida dos outros.

Será que tudo não passa de um jogo, para o simples entretenimento? Exatamente, é um jogo de interesses. Nós pelo voyeurismo descarado e a emissora pelos milhões que a audiência e as nossas ligações tarifadas proporcionam.

Neste contexto, note-se que, no nosso país, tudo é uma questão de interesse, já que elegemos os políticos que pertencem aos nossos sindicatos, cooperativas, ou ainda, no tipo mais comum de políticos, aqueles do populismo barato, que “roubam mais fazem”, que dão o peixe e não ensinam a pescar, sim, aqueles da bolsa família, renda minha e cesta básica, que fornecem paliativos para a necessidade e, porque não, atendem ao interresse imediato da população, sem um projeto de desenvolvimento digno dos indivíduos e da nação.

Por ironia do destino, convenhamos, o mensalão do Democratas é muito mais atrativo que qualquer reality show, é muita informação, uma verdadeira explosão da realidade viva, pra todo mundo ver, e os eleitores do Big Brother continuam no ser, estar, parecer, permanecer, continuar e tornar-se meros telespectadores. E o pior de tudo, votam todas as terças-feiras e, duvido muito, que farão a coisa certa nas eleições de outubro deste ano.

Para ser mais claro, só desenhando, ou, Talvez, seja preciso que se recorra às parábolas, como fez o divino mestre Jesus Cristo, falar e escrever numa linguagem que o público do Big Brother entenda, ou seja, se você for vender um refrigerador, por exemplo, escreva num pedaço de papelão: “VENDO-SE UMA GELADEIRA”, afixe no portão de casa e, então, fará um ótimo negócio.

Como prometi, eis a nossa parábola:

A união das pessoas só é, afinal, possível

Nas meninas dos olhos da multidão.

Se daquilo que se vê

O coração nem tudo sente

E o ideal algo desdenha,

A alma compra ou vende-se.

Deus deu-nos visão turva

Num país de cegos.

Moral da estória: SE VOCÊ ENTENDEU E APRECIOU ESTAS HUMILDES LINHAS É UM ZAROLHO MIOPE NUM PAÍS DE CEGOS!