Jesus que ajuda

<resposta a uma corrente de internet, que abordava supostas mensagens contra a religião, os "bons costumes" e a moral>

Bom,

Concordo em parte com essa análise. Quando digo em parte é por que sabemos que nosso processo de aprendizagem se dá por meio de influências externas. Essas influências podem ser, obviamente, negativas ou positivas e isso não se restringe ao lado espiritual das pessoas e sim a todas as áreas da nossa vida. Você pode jogar o lixo no chão, ou no coletor, por exemplo.

Sou cristão, como outros 95% da população brasileira proferem. Costumo dizer que pratico o amor de Deus em sua integra, em minha humilde opinião – claro! –, me importando com meu próximo, e aqui vai meu apelo: dediquem suas energias para o amor ao próximo. Jesus ainda não voltou e existe muita gente que precisa de sua ajuda, de carinho, precisam do alimento da alma e o da carne também. E não importa se esses alimentos venham das mãos de evangélicos, católicos, espíritas, pentecostais e afins, importa o amor ao próximo. O apóstolo Paulo nos diz que o maior de todos os dons é o amor. Jesus é mais enfático: ame até o seu inimigo. Pancada, não é?

Recebo diversos e-mails de correntes abordando o anticristo, a Globo, a nova era, a besta, as trevas, mas, sinceramente, não vejo o mesmo furor quando o tema é a vida humana, o amor às pessoas. Aqui vai apenas uma reflexão: junte todos os cristãos do Brasil e imaginem que eles exercitem o amor de Deus em sua essência. Será que veríamos pessoas nas ruas passando frio, fome, violência? Se vivêssemos os dias atuais, como na igreja descrita no livro de Atos dos Apóstolos, sem apego ao material, repartindo os bens com todos os irmãos, onde tudo era comum a todos, será que o país (e o mundo) enfrentaria todas essas dificuldades? Talvez sim, mas não teremos nunca a certeza, pois, parafraseando o Pastor João Alexandre, “enquanto se canta e se dança de olhos fechados, tem gente morrendo de fome por todos os lados. O Deus que se canta nem sempre é o Deus que se vive...”.

E ai, quantos e-mails, ou pregações vocês já viram ou ouviram sobre se desprender de seus bens, em favor da comunidade? Lembrei de uma frase de uma conhecida bispa (leia com bastante tremedeira na voz): “Dê, que quanto mais você der, mais Deus vai te dar em troca. É carro, casa, empresa e muito mais, irmãos”. Perdão, pastora, eu prefiro o sorriso de uma criança, o pôr do sol na praia, o aperto de mão e o muito obrigado... nossa, que inversão de valor cristão!

Desculpem por mudar um pouco o rumo da prosa, mas é que não dá para ficar calado. Vamos nos envolver e resolver, vamos falar do amor, vamos praticar o amor. A Globo, ou qualquer outra emissora, é um veículo de informação de massa, prontos a doutrinar as pessoas (para o bem, ou para o mal, isso é fato), mas ser doutrinado dependerá do valor que eu coloco em cada informação. Vamos reter o que é bom, e lançar o resto fora, a Bíblia nos ensina assim. Se tudo for ruim, nem ligue a TV, ora!

Eu fui “criado” na EDB e acredito na liberdade como bem primordial da humanidade, seja ela religiosa, sexual, política, de opinião, pois, graças a Deus, vivemos num país democrático de direito onde podemos conviver livremente e pacificamente com as diferenças. Desta forma, por exemplo, preciso e tenho que respeitar o beijo gay, ou lésbico, pois são seres humanos dotados dos mesmos direitos, deveres e sentimentos que qualquer pessoa. Se uma TV coloca um beijo gay em sua programação, não posso dizer que isso é coisa absurda, pois isso é fato. Prefiro o respeito, ao preconceito encapado pela doutrina. Novamente, se não concordo com algo, mudo de canal, atravesso a rua e fico com meus preconceitos enraizados só em mim mesmo.

Não ouço os Titãs, mas considero a maioria das atuais músicas gospel tão lamentáveis, quanto alguns arrochas baianos. São raros os levitas que colocam em seu repertório um Vencedores Por Cristo, um Logos, um Embaixadores de Sião, um hino do Cantor Cristão. Gonzaguinha, meu poeta, pode me falar muito mais de amor que o “corinho do fogo”. É a questão inicial das influências externas, nos moldando.

Quero deixar para os meus filhos (tenho 2 de sangue, e 35 de amor), um mundo melhor mais justo, mais humano, mais livre de violência e farei isso até o dia em que Cristo voltar e depois também, se eu não for com ele... pois quem dirá quem vai, quem fica, não é o padre A, ou o pastor B. Deus é que define.

Meus amigos, eu parei de ficar no campo das idéias, julgando, conjecturando, emitindo minhas opiniões e análises, e passei para a prática. Eu sou apenas um, sei que existem, quem sabe, 1% dos cristãos preocupados com a prática do amor ao próximo, mas ainda restam 99%. Vamos servir mais. A doação da vida é muito mais valiosa que a oferta no pé da autoridade eclesiástica. Olhe para o lado, veja, se indigne e faça como Jesus: estenda a mão, não tenha medo de se sujar com a lama.

Desculpem o desabafo, mas é que não dá mais para ficar especulando a Globo, enquanto podemos FAZER muito mais pelo nosso irmão. Eu não estou defendendo ela não, eu sou um daqueles que apenas mudam o canal. Ao invés de ficar assistindo TV, para poder ter mais temas para suas discussões, vá numa comunidade carente, reúna as crianças e jovens e vocês verão que campo fértil. A colheita se estende a todos da família, ao bairro inteiro. E não vá achando que montando uma igreja ou terreiro de biboca você estará ajudando e fazendo sua parte. Sua parte, parte do princípio que não existem partes e sim o todo, sejam eles cristãos, ou não. Você negaria um aperto de mão a um homossexual aidético, por que viu ele beijar seu parceiro na esquina? O ogã do candomblé merece menos uma cesta básica que o irmão de banco? O budista teria seu bom dia? Amar ao próximo como a si mesmo, amar os inimigos, repartir com todos... Jesus, isso é démodé! Até quando?

Antes que me julguem o santo correto, também tenho os meus “diabinhos” particulares. Aliás, você também tem e terão sempre, não esqueçam isso. Todavia, se o amor de Deus correr em suas veias, também olhará para o lado e começará hoje a fazer a diferença em sua comunidade.

Faça cada um uma parte e o todo será ainda melhor. Lembre-se que a fé sem Deus é morta em si mesma. Ao menos apresentaremos um mundo melhor quando Jesus bater na porta... risos!

Espero poder ter contribuído um pouco com vocês. Caso queiram ver a minha prática do amor ao próximo, acessem: www.portocamacari.blogspot.com

Salve,

Caio Marcel Simões Souza

(é administrador de empresas graduado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari, professor de curso técnico, formado em capoeira regional pelo Grupo de Capoeira Porto da Barra, mantenedor, professor e dirigente do Projeto Social Crianças Cabeludas – Núcleo Camaçari/Bahia, escritor, pesquisador e admirador de cultura popular brasileira, pai, filho, irmão e amigo).

Camaçari/BA, 23 de março de 2010.