Algumas verdades para o Vale do Jari refletir num ano de eleições
Algumas verdades para o Vale do Jari refletir num ano de eleições
Por F. Lopes*
Esses dias conheci um cidadão que foi às urnas pela última vez para eleger presidente Fernando Collor de Melo em 1989. De lá para cá já se foram mais de duas décadas. O alagoano Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito através das eleições diretas após um sucessivo período ditatorial e também foi o único a sofrer um impeachment. Antes de convencê-lo a regularizar o título eleitoral, tive que discorrer com aquele cidadão sobre a importância do ato de votar, entretanto, confesso que aquele anônimo me apresentou razões de sobra para a sua “neutralidade política” nos últimos vinte anos. E tem mais, se eu estivesse no lugar daquele pobre homem talvez tivesse um comportamento muito mais inflexível e fosse até irredutível diante da tentativa de convencimento para participar do próximo pleito eleitoral.
Aquele brasileiro desacreditado não pode ser considerado menos cidadão pelo fato de não ter comparecido às urnas nas últimas décadas, pois as suas alegações foram inabaláveis. Disse-me que estava cansado de ver os noticiários da televisão que diariamente divulgam políticos participantes de escândalos que envolvem desvios milionários. Enquanto isso, os cidadãos que pagam os seus impostos não têm direito aos serviços básicos de saúde, a educação de qualidade, ao sagrado direito de ir e vir em segurança, ao abastecimento de água e eletricidade, alegava.
Aquele brasileiro é também um laranjalense que se desesperançou. Sua esperança em dias melhores foi caindo em ruínas mentira após mentira proferida por nossos políticos. Quem não lembra o Senador Sarney prometendo a construção da BR 156 a partir de Laranjal do Jari há quatro anos atrás? E as 1.400 casas populares prometidas para a população do município? E os 13 Km de asfalto prometidos pelo governador Waldez Góes há três anos? E o novo parque gerador de energia da CEA que iria acabar com os constantes racionamentos elétricos em Vitória e Laranjal do Jari? E o desenvolvimento econômico que viria em virtude da Expovale? E a ponte sobre o Rio Jari? E a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio?
A realidade do nosso povo é bem mais amarga do que as promessas dos nossos governantes, mesmo assim a primeira é ainda mais palatável. As ruas de Laranjal continuam esburacadas e empoeiradas; os moradores continuam enfrentando o martírio que é fazer o trajeto pela BR entre a região sul e a capital do Amapá; o déficit de casa própria continua aumentando, sobretudo, em conseqüência dos alardes que são feitos a cada obra que pretendem construir na nossa região, atraindo pessoas de outras localidades; os apagões elétricos continuam ocorrendo e, o pior, em freqüência e intensidade ainda maiores. É lamentável ver como os nossos governantes tratam a terceira maior população do Estado Amapaense.
Atribuir o caos a um ou outro governante específico seria uma leviandade da nossa parte. Um governo não é feito por apenas uma pessoa, mas por um grupo de assessores, secretários, diretores, coordenadores, correligionários e ainda temos o legislativo, que deveria acompanhar de perto as ações do executivo para que não cometessem tantas falhas, mas infelizmente se preocupa mais em fazer acordos e buscar privilégios do que contribuir para a melhoria da coletividade.
Assim como aquele pobre homem, eu também estou angustiado, mas, ao contrário dele, quanto mais estiver decepcionado com os governantes, mais me empenharei em comparecer às urnas, pois muito pior seria se não tivéssemos a oportunidade de mudar esse quadro a cada quatro anos através de eleições diretas. Diante das urnas eu terei o mesmo valor que tem cada um brasileiro. É o único momento em que todos brasileiros são verdadeiramente iguais, pois o nosso voto tem o mesmo peso, independentemente se somos brancos ou negros, pobres ou ricos, analfabetos ou diplomados, ignorantes ou cultos, religiosos ou ateus, perfeitos ou deficientes, homo ou heterossexuais... É baseado nisso que aquele brasileiro já decidiu procurar o Cartório Eleitoral de Laranjal do Jari para regularizar a situação e no próximo dia 3 de outubro, ele se fará gente como eu, como você e como milhões de brasileiros que têm fome e sede de mudanças. Viva a democracia!