O espírito cooperativo no Cinema e na Música

Em nosso mundo atual, não nego a importância do espírito competitivo, principalmente quando nos ajuda a desenvolver capacidades latentes em competições conosco mesmos a superação de limitações ou de certas dificuldades individuais. Mas, tendemos a nos sentir diminuídos quando, competindo com outros, nada conseguimos com nossos esforços, a não ser segundos ou terceiros lugares. E se não temos consciência de nosso valor – muitas vezes exclusivamente nosso – se temos dúvidas sobre nossas capacidades, não consideramos que é natural que às vezes perdemos e que, em outras, ganhamos, e aí entramos num círculo de destrutiva autocomiseração a enfraquecer cada vez mais.

Entre as expressões artísticas, já disse que o Cinema é a mais completa entre elas. Enquanto indústria, um produto exemplar de cooperação trabalhista de grandes artistas que, em suas ficções e documentários, tendem quase sempre ao estímulo do valor do espírito cooperativo em seus argumentos. E então me lembro do filme "Os Incríveis" (E.U.A – Pixar, 2004), que conta história de uma família de super-heróis que, entre outros superes, é proibida de atuar por causa dos imensos prejuízos materiais que causam na cidade em suas batalhas contra os maus.

Tal argumento é apenas pano de fundo para a apresentação dos dramas familiares, trabalhistas, psicológicos e educacionais que seus personagens promoverão ao longo de toda aventura.

Um dos muitos pontos educativos de que trata a obra gira em torno do problema no filho do Sr. Incrível: Flecha. Ele tem esse nome porque corre tão rápido quanto uma flecha, e então é um garoto frustrado na escola por ter sido proibido justamente pela mãe de competir em corridas – uma vez que fatalmente sempre cruzará a linha de chegada antes de quaisquer concorrentes.

Em busca de quebrar paradigmas – e conseguir – entre as cenas finais da trama, entretanto, vemos a família incrível do garoto torcendo por ele numa olimpíada escolar, embora, estimulado pelo pai, vejamo-lo a pretender conquistar o segundo lugar, no que se sai vitorioso – mas não sem se esforçar a superar seu impulso de super corredor a garantir o primeiro lugar a um de seus colegas de escola.

Entre as expressões artísticas, a “imaterial” Música, poesia da Matemática, é talvez a mais rica em exemplos de cooperação, não apenas em seus aspectos sonoros estruturais como, também, em parcerias que fazem músicos a suas execuções.

Para que soubéssemos melhor como produzir harmonias entre nós nas várias instâncias da convivência, seria preciso não apenas que prestássemos atenção às estruturas musicais, mas que vencêssemos nossa mania de querer ser aquele outro que consideramos “melhor” que nós. Na Música, as notas básicas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó, como deveríamos nós também nos considerar, não são iguais: tem cada uma delas um valor próprio. Ao contrário de nós, entretanto, elas não lutam entre si por supremacias: um dó não quer ser o sol e um ré não quer estar lá, mas todas vivem em sua própria vibração à formação de um acorde harmônico – que, é certo, só se processa se cada uma das notas que o compõem se mostrarem segundo seu próprio valor.

Assim se forma uma harmonia musical que, por sua vez, atua com outras à formação das sinfonias. E mesmo que em uma orquestra sinfônica quase nunca existam instrumentos harmônicos – a não ser o piano e às vezes violões – sendo todas as harmonias de uma peça de Mozart, por exemplo, compostas a partir da junção das várias notas que formam suas melodias.

Como disse o brado do astronauta Buzz Ligthyear na animação “Toy Store” (E.U.A. Pixar, 2001), segue o argumento em favor das razões da cooperação ao estabelecimento de tempos iniciais: "Ao infinito e além".