NÚMEROS RECONTADOS

O que queremos das nossas vidas? Ao findar o dia não termos esquecido de efetuar os pagamentos. Mas, do sorriso e da bondade que não contamos, será o caso do dia? Ou recontamos os números?

Ordenamos, classificamos, quantificamos, qualificamos e recordamos os fatos através dos números, que tornamos marcas da vida, como encontramos no livro de Pedro Du Bois, Números Recontados.

Números são importantes na vida; recontamos nossa trajetória através de calendários. Datas são o questionamento do dia-a-dia. Nascimentos, aniversários e mortes. Quando menos se espera, a palavra dita é número: multiplicação da vida; partilhada com os amigos; o sentido simbólico aprisionado em tantas datas, pois os números ocupam um lugar reservado no tempo: passado, presente e futuro – em bifurcações de tantas outras vidas contabilizadas que nos acompanham.

“É cedo rapaz // undécima hora / composição atrasada /

na partida // vida inquieta / trocando os trilhos /

descarrilando a passagem / induzindo novos

caminhos // É cedo rapaz / verdadeira hora /

de revelações / e acomodações.”

Passado tempo, os números ocupam o primeiro lugar nas atividades diárias; a sociedade em mudança transforma tudo em senhas.

Passado tempo, nada muda na contagem dos dias, apenas retemos na memória a história como se apresenta no caminho (multiplicação da vida), na espera continuada que se faz em você eternidade em que vive esses anos todos.

“Robusto ao nascer / dois anos prodígio / falando

palavras, fazendo contas // quatro alfabetizado /

sete, expressando-se em inglês / dez, boa pontaria /

atirando em passarinhos e galinhas / doze penugens

no rosto / prenunciando a barba, bigode e pentelhos //

dezesseis, emancipado para ser comerciante / não foi

nem mesmo ambulante // dezoito, eleitor por

obrigação / vinte e um, esvoaçante / na maioridade /

não tivesse sido emancipado aos dezesseis // vinte

e quatro, travesti / prazeres e trabalhos /

em domicílio, hotéis baratos / vinte e sete, defunto.”

Vidas viciadas, dependentes dos números.

Somos o dízimo da sociedade?

Ou temos incontáveis sonhos em horas perdidas?