PEQUENOS CONSERTOS, GRANDES ACERTOS.

PEQUENOS CONSERTOS, GRANDES ACERTOS.

A onda consumista às vezes cansa. Tudo que a gente quer tem pra vender no shopping, nos magazines, supermercados. Comprar pronto é não é ruim, mas a gente começa a ver que criatividade tão característica do ser humano nem sempre ocorre. Neste caso, acontece apenas na escolha do produto, mas há nisso uma contrapartida que choca e nos coloca, às vezes, em situação conflitante, como por exemplo: comprar uma roupa num magazine e se deparar de cara com várias pessoas usando a mesma roupa. Quando não envolve vestuário, abrange os artigos de decoração ou utilidades domésticas, móveis, etc. que deixam nossos ambientes muito parecidos com outros, mesclando nossa criatividade.

Diante da correria do dia-a-dia, fica difícil procurar fugir dessas alternativas sem gastarmos mais dinheiro pagando caro em locais de "grife", cujas peças são "exclusivas", produzidas em pequenas quantidades. Talvez valha a pena o custo alto, mas existem formas próprias que cada pessoa poderá começar a investir, freando um pouco o impulso consumista; adentrando-se na ala conservadora que recupera móveis, roupas, utensílios, etc. Qualquer coisa como exercitar a criatividade e, de uma cajadada só, matar dois coelhos. Novo exemplo: você tem em casa uma mesa com cara de velha, mas bem funcional e adequada ao seu espaço. Comprar outra? Pode ser, mas pode-se pensar em recuperá-la com uma pintura artesanal, modificando-lhe o aspecto, dando-lhe novo formato ao ambiente. Alguém poderá refletir: "mas não tenho técnicas de pintura!?" Ninguém nasce com um KIT básico de vida. Aprender é sempre salutar e não não custará nada tentar. Pode-se, inclusive, procurar dicas em lojas especializadas. Porque o resultado, certamente, vai ser muito bom e nos provoca um sentimento de que o ser humano é as suas possibilidades. Primeiro porque descobrimos que dentro de

nós existem todas as possibilidades, inclusive de sermos artistas para deleite próprio. Depois porque vai observar que o tempo que se gasta nessa "terapia ocupacional" vai começar a dar novo ânimo a vida. Pintar uma parede! Se ela não estiver muito suja nem esburacada, não custa nada comprar o material e pintar. Vai requerer cuidados, mas aos poucos, vai ficando prático e, "pluft" você vai apresentar sua parede aos seus amigos como sendo produto seu. Outro dia, um amigo que mora na praia, teve sua geladeira invadida por pequenos pontos de ferrugem. A porta da frente era de zírium e não foi afetada, mas, acatando nossa sugestão, colocou papel colante branco nas duas laterais e ela ficou como nova. Evidente que existem alguns macetes, mas nada que não se consiga fazer sozinho ou, no máximo, perguntando a alguém algum detalhe. Nesse caso, o detalhe foi o papel colante não ficar com bolhas, mas eu logo lhe orientei que molhasse a superfície da geladeira e colasse o papel por inteiro. Após, era só pegar um rodo desses de pia e espalhar até que as bolhas saíssem todas, do mesmo jeito que fazem os aplicadores de película de automóveis. Ficou um show!

Outra coisa que podemos resolver em casa sem precisar chamar um profissional, são os pequenos consertos de uma torneira que pinga, uma troca de resistência de chuveiro elétrico, ajustar a válvula da descarga externa. Claro que, no caso do chuveiro, dispensa enfatizar que precisa desligar a chave geral. Também dispensa lembrete o fato de que tudo isto necessita de um KIT conserto tipo: chave inglesa, fita isolante, chaves de fenda, teste de energia, uma furadeira e seus respectivos acessórios, etc.

Do jeito que as coisas caminham, talvez a gente, um dia, precise mesmo sistematizar essa faceta doméstica. Porque tudo lá fora parece muito prático, mas não nos deixa com o sentimento de que as coisas da nossa casa têm a nossa cara. Outro dia, visitando um amigo, vi que em sua sala tinha um porta-revista idêntico ao meu. Perguntei onde havia comprado e ele me respondeu que nas Lojas Americanas. Coisas da globalização, do consumo.

Por isto que o nordeste se diferencia da maioria das regiões! Seu artesanato faz a diferença, pois referencia a cultura de um povo e sua singularidade. Um boneco de Vitalino de Caruaru se diz disto em qualquer parte do mundo. Uma caneta esferográfica, dificilmente!

Naturalmente que a gente não pode ficar a margem do tipo de sociedade em que a gente vive. Afinal somos "vivos" e temos parte direta no que lá fora se encontra. Contudo, parece salutar, que busquemos alternativas próprias, dentro da nossa casa, que falem por nós. Mesmo que seja a decoração do nosso quarto, mas não podemos abrir mão disto. Por outro lado, quem sempre joga "pra platéia" dificilmente sai fácil desta situação principal. Mas se desejar, chega! Basta uma redefinição de valores seguida do entendimento de que o gosto de cada um é o mais importante para si mesmo. Deste modo, corre-se o risco de, inclusive, ouvir opiniões contrárias, mas permanecer sendo feliz vale mais.

Para quem deseja investir neste assunto é importante que se observe quando, por exemplo, um pintor for trabalhar na sua casa, um pedreiro, um encanador, etc. Não defendo a substituição deles não. Apenas advogo que temos que irromper com essa lógica perversa do "não se saber fazer nada". A mesma lógica daquela mulher que, sem nenhum prurido, nos diz que não sabe fazer um café! Eu não consigo entender isto, mas sei que muitas mulheres fazem assim.

Habituar-se a não jogar tudo fora já é um avanço. Muita coisa que colocamos no lixo poderia ser customizada. Outro dia meu vizinho colocou junto a lixeira do andar onde moro, uma caixa de ferramenta. Seu defeito: estava com o fundo com alguns pontos de ferrugem. Não tive dúvidas, recolhi. Comprei lixa d’água e zarcão e a caixa está nova em folha. Pensei até em devolvê-la, mas não tenho intimidade com ele.

Ressalto aqui, principalmente, o prazer que dá em nós mesmos fazermos coisas que assistem ao nosso cotidiano dentro de casa. É de certa forma, uma oportunidade que temos de romper paradigmas. Costumo dizer que estruturas existem para serem quebradas, principalmente quando elas estão sedimentadas conosco e nos basta, somente, determinação e vontade de mudar para continuar sendo o mesmo.

Para finalizar, outro dia vi na casa de um amigo, uma um lustre lindo pendurado no teto. Logo observei que ele era composto de potes de cozinha em formato de cone, colados a um prato maior, formando uma perfeita combinação. Claro que bom gosto e criatividade não podem faltar. Pode até ter custado mais caro, mas o sentimento de ter sido feito pelos donos da casa, certamente, compensará.

Criatividade abunda! Vamos abundar!