Enfim, a ponte vai sair!
Era de se esperar que ainda este ano a tão esperada ponte sobre o rio Santo Antônio, que liga o continente à Ilha da Crôa, não saísse no período carnavalesco.
Ao longo de 240 metros de extensão, a ponte tem agora seus dias contados para uma nova história de passagem. São séculos de lendas e histórias no anonimato.
Apesar das frases afirmativas dialogadas desde junho de 2002, de que com os recursos milionários já liberados aguardavam apenas etapas de finalização, só agora sua inauguração conclama tarefa cumprida no dia 11 de março, assim esperamos.
Culturalmente, esta comunidade tem seus olhos vedados por falsas crenças. O Carnaval bem estruturado já traz votos nas eleições e se animam com as festas. Não querendo nada mais que isto, os canoeiros conformam-se com os trocados que ganham com a canoa - sua única fonte de renda.
Só para não perder a praxi de dar crédito a quem faz estas afirmações, para ter a razão não é preciso ter premonição, nem acreditar em promessas políticas, a ponte de fato vai sair porque os recursos federais são aplicados e direcionados exclusivamente a este canal viário tão prometido por todos os políticos que por ali passam.
O lugar é de fato paradisíaco, como afirmam guias de turismo e experts no assunto. Possui praias belíssimas por serem ainda primitivas. A originalidade do nome Carro Quebrado, praia tida como a oitava mais bela do Brasil, traz uma história de visitantes que tiveram dificuldades no acesso a ela.
Os ribeirinhos são guiados por suas próprias convicções, ideologias e políticas, exaltando seu modo de vida de forma alienada e primitiva. Para se ter a idéias, a segunda-feira é conhecida como dominguinho, dia da ressaca que se cura com mais bebida.
Preferem viver em situação de miséria e pobreza. São acostumados à aparente equilibrada situação e conformados com promessas políticas dos políticos da região. Uma lâmpada substituída na praça é sinônimo de crescimento industrial e avanço tecnológico.
Contentam-se com pouca luz ou com uma simples reforma de praças nas quais se extraem árvores seculares que presenteiam a beleza do local. A praça, tão visitada pelos moradores, guarda no móvel de alvenaria a TV, veículo de comunicação, enraizando a originalidade do povo dessa região, segundo notícia no Jornal Nacional em 2006.
O meio mais promissor na geração de renda ainda é o turismo. Mas seus administradores não investem na área - talvez pelo temor dos olhos de turistas críticos que vêem na região um futuro promissor, ou talvez, demolidor, como queiram ver diante daqueles que entram e saem sem fazer definitivamente nada pela região.
Para se ter a idéia deste lugar tão paradisíaco, o mapa ainda é traçado nos limites territorial impostos pelas fazendas. E a Ilha, marcada pelo encanto e beleza do destino, não se revela nem nos mapas geográficos, muito menos hidrográficos – dificuldades encontrei ao fazer pesquisa nesta região.
Por ironia desse destino, o lugar saiu da esfera do feitiço agora para o enfeitiçado. Ainda há resquício de sua colonização em meados do século XVIII pelos holandeses e portugueses, com a construção do Farol e Igrejas, pontos que deviam ser também turísticos.
Em pesquisa historiográfica, essa região possibilitou total acesso aos colonizadores devido à sua geografia permitindo abertura para grandes navegações, como também um canal aberto e clandestino de comercialização de tráfego de negros ainda no final do século XIX.
Essa comunidade pesqueira ainda guarda na lembrança histórias, lendas, folclore e resquício da escola de estaleiros. Muitas embarcações foram confeccionadas e encaminhadas ao Recife. Esta prática ainda persiste, mas é manipulada por uma minoria que não passa dicas do ofício.
Culturalmente, a região vive quase que desativada. A maioria é composta por negros retintos. Raro encontrar alguém que assuma a cor e, embora guardem traços africanos, renegam aceitar o estigma.
Na história da monocultura canavieira em Alagoas e mesmo após a abolição da escravatura, muitos migraram para o litoral a fim de sobreviverem da pesca, mesmo assim, não deixaram de servir ao colonizador, pescando para este e pagando os “dízimos” àqueles. Muitos seguiam a rota de fuga por diversos rios que desembocavam neste rio Santo Antônio.
Contudo, para o monopólio das Usinas de Açúcar da região, gerando renda, todavia poluindo os rios com tiborna e explorando a mão de obra barata, a esta cultura não há argumentos nem história a contar.
Apesar de sabermos da importância destes recursos à construção da ponte é mister acreditar que sonhos virão, que servirão como um canal aberto ao mundo e que este venha muito cheios de possibilidades.
Não há mais como negar a esta comunidade o acesso à educação, à cultura, à economia e ao mundo. Acreditamos que, apesar de todas as dificuldades existentes em vários setores, algumas mudanças são cabíveis quando se investe não só em infraestrutura, mas em cultura, no homem e na sua história. A região tem muito a falar e esta ponte também tem a sua história pra contar.
Bem-vinda ao progresso Ilha da Crôa!