Vergonha na cara.
Vergonha: ter ou não ter?
Ouvi muitas vezes minha avó dizer: “Aquela pessoa é uma sem- vergonha”... Com isso podemos esperar uma série de reprovações e recomendações de cautela sobre a pessoa. Parece que a vergonha é uma virtude e ser desavergonhado, algo nada bom. Quantas pessoas tem dificuldade para falar em público, ir a uma festa, pedir a moça em namoro, ou até pediu para o amigo assim fazer. Há os que tem vergonha até mesmo de ir comprar em uma loja.
Com certeza, a vergonha tem ainda hoje atrapalhado muitas pessoas que vivem escravizadas por esse mal. Como você imagina que seria um mundo totalmente privado da vergonha? Primeiramente, vamos definir o que é vergonha: é uma emoção considerada auto consciente ou social, porque ela nasce em consequência das relações sociais, em que as pessoas interagem umas com as outras e também julgam, avaliam a si mesmas e as outras.
Lewis, um especialista nesse assunto, comenta: “As pessoas que ficam envergonhadas por algum motivo que elas atribuem, geralmente não se sentem injustiçadas, não possuem desejo forte de vingança”. A vergonha pode estar ligada à quebra de regras de valores incorporados pelo indivíduo durante vários anos de sua vida. Pessoas que tem dificuldades de olhar no olho do outro, que sentem que quebraram regras sociais.
Outro fator é a pessoa se sentir inadequada, com os complexos dos mais diversos tipos, como de inferioridade, de não ter um corpo adequado, não sentir que está bem vestida, que sofre de alguma deficiência. Todos esses são agravantes aos indivíduos que não conseguiram resolver esses traumas que os afligem. As pessoas desejam ser amadas, aceitas diante do grupo social ao qual elas pertencem, sem os rótulos, sem os estigmas recebidos por parte do grupo, que as ridiculariza, deprime, diminui.
Assim, um jovem é capaz de atender mais os chamados do grupo do que de se seus pais, pois ele teme perder o grupo, ou mesmo ficar marcado por ele. Geralmente, o modo de vestir dos indivíduos do grupo é o mesmo para os que dele fazem parte. Dessa forma, todos fazem o mesmo para serem aceitos. Sente- se o medo de não terem a imagem que o público busca ou deseja.
Na verdade, somos um caderno de desenho pintado pela sociedade, que impõe suas cores, sem saber se são as que o indivíduo deseja. Porém, o medo de ser banido do grupo obriga-o aceitar. Da mesma forma, algumas pessoas ficam coradas quando passam por uma situação embaraçosa, por exemplo quando comentem alguma gafe.
Tal sentimento, apesar de desagradável, é bastante natural. O problema é que muita vergonha pode nos dificultar a vida, impedir-nos de fazer muitas coisas. Contudo, algum grau dela é necessário. Se não nos preocupássemos com o que os outros falam, não mediríamos nossas ações, com isso não repararíamos nossas faltas, A vida social ficaria bem mais difícil.
A vergonha é como vários outros itens da vida cotidiana, ou seja demasiadamente faz mal, mas um pouco se faz necessário, a falta nos colocaria em apuros. O segredo está em saber dosar esse sentimento indispensável ao bom relacionamento social. Dr. J.F.Alvarez Março de 2010