TEMPO: A MELHOR MEDIDA É A DA POESIA

Tutty Vasques escreveu que “A medida provisória da paciência é medir as palavras para não encher as medidas.”

A medida provisória de cada um passa junto com o tempo e tem a exata dimensão do prazer. Como o amor tem medidas provisórias pela natureza do ato, a cultura sobrevive de maneira absolutamente provisória.

A própria vida é uma medida provisória que começa e termina de repente.

É a vontade de Deus, como em Sinfonia da Vida, de Helena Kolody:

“Somos o eterno

aprisionado

na argila perecível.

Inábeis equilibramos

o intemporal no precário.

Só a morte nos liberta".

Ele pode ter estabelecido uma cota de vida útil a cada homem, mas, não fixou medida provisória aos poetas que continuarão “vivos” sempre, para seus leitores sobreviverem na provisoriedade. Carmen Sílvia Presotto demonstra:

“O silêncio atravessa o tempo

não sente

ensina

refina

pressente

borbulha.

No ar

está um raro efeito

O amor atravessa o tempo”.

Não cabe medida provisória ao poeta. Ele trabalha com as suas próprias medidas, como a rima, a métrica, o tema; os pesos, que são os sentimentos (o amor, a emoção, a calma e a ira, os confrontos, os opostos), e o tempo.

O amor despe o poeta. Tornado sonho, o desejo continua; considera o ar para viver, a música para ouvir, a paisagem para ser apreciada, a palavra para ser lida. A revelação para ser lembrada.

Como escreveu o poeta Juan Gustavo Cobo Borda, “Os poetas são seres mais concretos com os amigos em todo o mundo, mesmo que mortos.”

A melhor medida é a da poesia que nos ensina a sentir. Todo poeta mostra uma filosofia de vida transformada em receita poética que o leitor absorve como algo que persiste ao tempo.

Por isso, proponho mergulharmos no poema de Pedro Du Bois:

"...

tempos fechados em tempestades

palavras complicadas em sentidos

eterna impressão de que poderia

ter escrito de outra forma

onde versos em reversos

diriam do amor pelas palavras".