Estreia
As portas da agência de publicidade se abrem. A secretária me informa a chegada de Ana Paula Moretti, da Folha de Valinhos. Apressado, eu a convido para um café enquanto o anúncio dos Supermercados Caetano é gravado em zipdrive, a mídia portátil de 10 anos atrás. Paulinha e eu conversamos pouco neste dia. Nada de propaganda.
As páginas da Folha de Valinhos se abrem para mim. Novo século, novo milênio. A amizade com Paulinha é a mesma, mesmo depois de ter saído da agência e da cidade. Superou tantas idas e vindas, tanta distância, deslindou-se profissionalmente e tem perdurado por tantos anos graças a um misto de consideração e respeito irretocáveis.
A amizade com Paulinha representa o algo mais que cultivamos nas pessoas, a atenção que podemos dispor a quem conhecemos muito pouco ou quase nada. Quantas vezes demoramos a descobrir a essência de alguém com quem trocávamos apenas ‘bom dia’ e ‘até logo’, sem nos darmos conta disso? Eu me lembro de a mãe de uma amiga ter me perguntado por que a filha dela não encontrava um namorado, estudando numa faculdade com outros 15 mil alunos. Talvez, respondi, por que ela esteja sempre com as mesmas pessoas.
Há o medo que nos persegue, os fantasmas, os perigos iminentes, o desconhecido. Questiono-me sobre o receio da aproximação maior, nesta época em que nem sorrimos nem cumprimentamos sem razão; ficamos alheios, mais céticos e profissionais do que pessoais e humanos.
Mas não vim parar aqui pelos doutorados que não fiz, nem pelos ternos que não uso para empolar a minha imagem, como vemos hoje, envergados em especialistas que dizem tantas bobagens, à revelia de gente simples que às vezes dizem tanto. Venho na contramão, escrevendo sem muito diploma na parede mas como tantos milhões de simplórios que se orgulham das lições que tem para contar. Venho como amante da arte, dos livros, da música, do cinema, das coisas belas da vida, da amizade verdadeira, que só traz coisas boas, que me traz aqui, para contar minha primeira história.