Estações

Estações

Outrora, quando a primaveril infância o gênio a deturpava, à distância, o pálido horizonte os olhos soerguiam em face da puerícia convalescente a que a razão a submetia de encontro à penosa circunstância que o destino lha supunha.

Controversas e indagações o cérebro arfante a fustigava, singelas lágrimas à face minavam, as retinas fatigadas mal visualizavam o inocente ocaso, cenas hercúleas e íntimas se delineavam a frente daquela franzina imagem fantasmagórica.

Indolente ao desespero já se delegava, a natureza ao redor em vão lamentava a esquálida silhueta agonizante em sua pureza, a penha retorcida em sintonia ancorava a corpórea mortalha quase inócua à sombra de um penedo, o regato com suas águas cristais o autorretrato fulgurava,...

Arvora-se o tempo, aproxima-se o verão: aquele franzino de antes se tonifica e com ele a discrepante realidade o acompanha. Sonhos se resvalam, amalgamas visões o perseguem, ânsias assertivas o peito soçobra. Os passos às ruelas de seus dias se curvam e apontam a virgem doirada dos errantes sonhos, - que nunca aos lábios encostou a face linda, - e com eles se inebria. Moribundo se enclausura por vários sóis. Na seqüência a inconseqüência: o ébrio, à tona, à vida traz uma pupila. A razão e a emoção se divorciam: queda-se a emotividade, ganha-se a frieza.

Aquiescente, fatiga-se. É outono: a face se sobrepõe à armadura, o frontispício à sangria emoldura-se. O espírito, que em idos tempos o enlaçava à dor vivente, à estação se anestesia. A carne freme aos encantos do doirado acaso, juras se sobrepõem o sempre, promessas aos ventos são sussurradas ao eterno, o enlace às convivas se aviva, as mãos os abençoa. Sonhos abstratos se aglomeram e se materializam sob o efeito dominó. O todo passa a fazer sentido: outra angelical, à união, à vida uma sublime perspectiva aspira...

O tempo urge à ação natural dos contratempos e os lima, íngreme a caminhada se torna e a calmaria do antes se transfigura, a tormenta reina-se e tudo destrói, a gênese se confirma: restá-lo somente uma dupla esperança...

O inverno a mocidade o alcança, rugas à face delineiam, a névoa os cabelos pinça, a antevisão do antes se confirma: rebenta-se a fibra que à dor vivente o enlaça. Os ventos errantes ao dobre de um sineiro entoam o insidioso canto, a neblina gélida a paisagem encobre, cerram-se as cortinas. A aurora as pálpebras abre, o jugo faz-se necessário às vidas pré-concebidas ante as estações idas...

É tempo de conversão: o gênio de outrora não mais insiste, o poeta não mais resiste, e no hoje se digladia, e à filosofia persiste. Ao oráculo invisível se ajoelha e às preces ao onipresente murmura... Tolo indaga, mas logo a paciência o domina... Caí em si, e se vê diante dos encantos que a vida ainda o fascina...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 08/03/2010
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