Cotas. Por quê?
Volta e meia aparece alguém questionando a legalidade e a legitimidade do sistema de cotas vigentes no Brasil. O que será que essas pessoas realmente estão pensando e querendo? Quem dera pudéssemos prescindir de tal recurso para adentrar nas universidades particulares, que por sinal são caríssimas e por isso está fora do alcance de boa parte dos brasileiros. Alguns sacrificam-se a ponto de não ter sequer o que comer para realizar o sonho de ter nas mãos um diploma do curso superior. As cotas incomodam tanto porque são ferramentas para alcançar o poder. Poder que o conhecimento proporciona, e que está centralizado nas mãos de uma minoria egoísta, que teme a ameaça iminente daqueles que descobrem suas origens, seus valores, seus direitos, suas vozes.
O que é o sistema de cotas senão uma pequena atitude em prol de reparar a injustiça social provocada pela escravidão e pelo término dela, sem que fosse feito algo que proporcionasse aos ex-escravos e seus descendentes, oportunidades reais de sobrevivência digna?
Infelizmente, o que temos observado é que a maioria das cadeiras das universidades federais e estaduais está ocupada pelos mais abastados, já que boa parte dos alunos que estudam nas escolas públicas não consegue vencer a barreira que lhes foram impostas por um ensino deficitário e de baixa qualidade. Como vencer o vestibular, parte de um sistema seletivo e excludente, que acolhe apenas os “mais preparados”, ou seja, aqueles que têm tempo para se dedicar aos estudos quase integralmente, enquanto a maioria desde muito cedo está ocupada em subempregos para ajudar na subsistência da família?
A título de esclarecimento, o estudante que ingressa na faculdade pelo sistema de cotas tem uma responsabilidade ainda maior em relação aos demais, já que sua permanência na academia depende do seu bom desempenho. Não é á toa que eles estão entre os mais laureados, mostrando que quando se tem oportunidade, histórias podem ser mudadas.
Nós, negros, estudantes ou não, queremos apenas o que é nosso por direito; não é esmola como alguns querem fazer parecer. No dia em que gozarmos dos mesmos privilégios e obtivermos políticas públicas que capacitem a todos igualmente, certamente não será necessário o uso de cotas para ingressar seja lá onde for.