CULTURA X BANALIZAÇÃO
A que ponto chegou o descaso com a cultura neste país, berço de uma vasta e invejável diversidade cultural. Quando percebo estarrecida aos cruéis e deprimentes índices de audiência de um programa de televisão, pressinto maus agouros, quanto à realidade e ao futuro do meu país.
Começando pelo “status” que supostamente se impõe, atribuindo ao programa uma denominação estrangeira, “Reality show”, ou seja, uma mostra da realidade do convívio de grandes irmãos “Big Brothers”. Deveriam antes de qualquer outra coisa ser grandes homens e grandes mulheres, para que pudessem contribuir exemplarmente, no serviço da formação de uma identidade digna do nosso povo.
À emissora caberia melhor o papel de responsabilidade pela escolha e principalmente o compromisso de levar ao ar uma diversão sadia, pautada em princípios que privilegiassem boas condutas e comportamentos mais éticos.
Causa-me repulsa a banalização da nossa cultura e da manipulação de ideias, por formadores de opinião, que inegavelmente traçam a caricatura de um país que definha em seus padrões éticos e morais.
O que fazer se, numa escala crescente, o povo, no último patamar por ordem de importância, é subjugado, quando deveria ser a prioridade?
O que fazer se o pão nosso de cada dia é o circo, que se sobrepõe ao riso ou choro, de escárnio ou tristeza, daquela parcela que se preocupa com a fome real de pão e educação?
As futilidades que somos “obrigados” a conviver e que ferem nossos brios, beiram às raias da imbecilidade, numa clara manifestação de descaso, que subestima a nossa capacidade de compreensão.
Não bastasse o fútil para preencher o anseio de lazer do povo, a vulgarização impera impiedosamente. A moral e os bons costumes tornam-se relegados, em prol de uma caracterização absurdamente irrelevante, a de que a modernidade do pensamento de uma sociedade precisa estar desvinculada desses mesmos valores, para enquadrar-se ao mundo contemporâneo. Valores esses que são fundamentalmente os sustentáculos da instituição família, que por sua vez serão os pilares da sociedade.
Precisamos de evolução, de contestação, de indignação, para que não nos vejamos atrofiados e vulneráveis à alienação. Precisamos de cultura na acepção da palavra, um sistema de atitudes e modos de agir, condizentes com o adiantamento do nosso povo.
Belo Horizonte, 05 de março, de 2010