Nós Mulheres (republicação)

Quem somos hoje, após tantas lutas vencidas e outras a vencer? Após várias conquistas atingidas e outras a atingir?

Falamos com orgulho de como somos diferentes das nossas mães ou avós, que não tinham seus direitos respeitados, que submetiam-se, resignavam-se e limitavam-se ao que seus pais, irmãos e maridos lhes dignavam conceder.

Saímos de casa e ganhamos o mundo.

Exercemos atividades, desempenhamos tarefas, ocupamos cargos, assumimos papéis e temos funções que eram reservadas aos homens.
Mostramos quão fortes, inteligentes, capazes, e guerreiras podemos ser.
Somos retadas, somos poderosas...

Falamos com desdém das “pobre coitadas” que não conseguiram se libertar, se emancipar, construir carreira profissional e tem como universo o lar: Marido e/ ou filhos e quando muito uma “ocupaçãozinha” de meio período, enquanto as crianças estão na escola.

Não conseguimos entender que isto possa satisfazer, realmente, aquelas que vivem esta realidade.
Julgamo-nas acomodadas, dependentes, frágeis, submissas, incapazes, desinteressantes....
Nas reuniões sociais evitamos tais criaturas, cujas conversas enfadonhas giram em torno de filhos, babás e uma realidade doméstica cansativa, ou futilidades e fofocas dos artistas da novela. Quando ampliam seus interesses não vão além da academia, do salão de beleza e do shopping.

Nós somos diferentes. Somos muito bem informadas, podemos conversar sobre quase todos os assuntos, freqüentamos eventos culturais, somos intelectuais, pós graduadas .... Somos mulheres de opinião. Mulheres que sustentam a si mesmas, os filhos e em muitos casos o parceiro. Mulheres que fazem e acontecem.

Vivemos assoberbadas com inúmeros afazeres e responsabilidades. Sim, porque não conseguimos nos desvencilhar totalmente, de um sem número de atividades domésticas e a elas agregamos as exigências pessoais e profissionais, inerentes ao contexto competitivo no qual estamos inseridas.

Precisamos vencer a todo custo e a qualquer preço, atingir resultados e metas, provar todos os dias a nossa competência - que não para de ser testada -, superar os olhares de desconfiança, rejeição e preconceito dos nossos colegas, subordinados e chefes – homens e mulheres.

Além disto temos que mostrar uma imagem impecável: Cabelos cortados, tingidos, escovados, definitivamente ou não; unhas manicuradas, corpo em forma e vestido com elegância, perfumadas, maquiadas e ornamentadas com discrição.

E haja tempo para uma agenda repleta de desafios profissionais , pessoais e familiares. Sim, porque existem os filhos com suas necessidades que precisam ser atendidas e os parceiros, namorados, maridos que solicitam nossa presença bem disposta e quente para o amor.

Ufa! Onde estamos mesmo? O que estamos fazendo com as nossas vidas?
Com as nossas emoções, que precisam ser sufocadas para que caibamos no papel que adotamos com tanto fervor?
Com nossas fragilidades, que precisam ser escondidas, pois podem desabonar nossa competência?
Com nossas sensibilidade e intuição, que são negligenciadas para não se tornarem o alvo das piadas ?
Com nosso ritmo natural, que tem relação com as fases da lua, com o ciclo menstrual, que atropelamos porque precisamos ser produtivas e mostrar que temos pique?
Com nossa criatividade, que é instintiva e precisa de liberdade para expressar-se?
Com nosso interesse voltado para as relações e as pessoas?

As nossas qualidades luminosas têm sido degradadas, o nosso jeito natural de funcionar tem sido rejeitado, a nossa sombra agigantada busca as frestas da TPM e outras para se mostrar.

A nossa voz tem sido apenas um eco a repetir as verdades e valores patriarcais. Estamos possuídas pelo ânimus. Somos mulheres fálicas tiranizando umas às outras e os outros, em nome de uma igualdade que extrapolou em muito sua pertinência e invadiu o espaço sagrado do corpo e da alma da mulher.

Corpo e alma que precisam ser honrados nas suas peculiaridades, legitimados nas suas diferenças, respeitados e valorizados por si mesmos.

Nós, mulheres e homens não somos melhores uns que os outros. Somos semelhantes enquanto criaturas humanas. Assim, devemos ter direitos e oportunidades iguais. Devemos ter liberdade para fazermos nossas escolhas e conduzir nossas vidas. Merecemos ser tratados com respeito e dignidade.
Entretanto somos diferentes. E viva a diferença! Só assim podemos fazer a diferença no mundo e no planeta, que está sendo destruído pela in-diferença e pela falta dos valores femininos, que têm o poder de transformar através do amor.


*Este foi o segundo texto que publiquei aqui no Recanto, em 21/12/2008, considero-o ainda oportuno, daí estar republicando-o em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.

Abaixo estão os primeiros comentários  que recebí e que me serviram de estímulo para continuar publicando. Obrigada a todos!

24/10/2009 21h47 - Afonso Martini
Bato palmas... de pé. Finalmente, nos anos 50, sacudiram o jugo ignóbil. Parabéns ao sexo dito frágil. Obrigado pelas sucessivas críticas construtivas aos meus textos. Sugiro que leias PERFIL. Vais gostar! Beijos poéticos. afonsomartini
16/10/2009 08h51 - Ione Sak
Parabéns pela reflexão. Amei tua maneira de expor tuas idéias, sentimentos e visão de mundo.Voltarei. Ione Sak
12/10/2009 22h32 - T M Alvariz
Dez pra você! Maravilhoooso! bjs
05/08/2009 08h01 - Marco Bastos
No primeiro momento, a busca pela eficiência; no segundo, pela eficácia. No seu estágio, querendo alcançar a efetividade - integridade, consciência e valorização mantidas as diferenças; não se deixando ser possuída pelo animus; querendo deixar que a anima respire e seja. Behavior x Gestalt - a máscara-persona não deleta os arquétipos. "Para nascer é preciso quebrar a casca do ovo" (H. Hesse). Não basta permutar os papéis e mudar o comportamento. É preciso mudar o mundo. A percepção e o pensamento que elaboram o conhecimento se dão pela contraposição de diferenças, pela separação entre sujeito e objeto. Às vezes penso que o conhecimento poderia se dar pela empatia - para conhecer a pedra preciso "estar dentro" da pedra./// Divagações inspiradas pelo seu artigo. rs. Bom dia. abraço. Marco.
01/02/2009 12h55 - Angelo Tomasini
Temos pensamentos coniventes com relação ao assunto, Norma. Expressasses bem a situação feminina nesses tempos modernos. E adorei tua visita. Xêros
01/02/2009 11h57 - Miranda de Moura
Obrigado pela visita!!
09/01/2009 15h52 - Bernard Gontier
Nós, homens, sem vós, mulheres, ficamos sós. Bela homenagem, Artigo de Primeira, Norma. Abs!
23/12/2008 23h23 - Cefas
E é exatamente estas diferenças qeu fazem mulheres dependerem de homens, e homens dependerem de mulheres; não entremos no mérito de quem depende mais, mas como foi citado cada um tem sua forma de depender. Muitas mulheres querem se libertar, e acabam fazendo com os outros o que os homens faziam com elas! Afinal, combateram aquilo em que se tornaram. Mulheres, nós não temos vida sem vocês! Vocês são importantíssimas para nós, correspondem à outra metade de nossas vidas... parabéns mulheres!!!

Norma Suely Facchinetti
Enviado por Norma Suely Facchinetti em 05/03/2010
Código do texto: T2121233
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