Será que a educação vale a pena?

Ou estamos muito errados ou mudaram todos os valores sociais. É assim que nos sentimos quando analisamos, mesmo de uma maneira superficial, os programas sociais quer sejam de órgãos públicos ou instituições privadas. A primeira vista parece um discurso reacionário e de indignação. Pode ser.

O que eu vejo é que grande parte da sociedade brasileira ou toma atitudes paternalistas ou apóia quem as toma em relação àqueles que estão por qualquer motivo vivendo a margem da sociedade. Por exemplo, os milhares de adolescente que todos os dias se rendem ao mundo de drogas. A primeira atitude que percebemos é uma emocionada aclamação pública pelos direitos humanos, uma busca quase que diária para que estas pequenas vítimas, da própria sociedade e de suas mazelas, sejam encaminhadas para centros de reabilitação e defesa da criança e do adolescente. Nada contra. O contado com um ambiente diferente daquele que os levou ao uso das drogas será sempre benéfico.

Uma boa casa, muitas vezes com piscina, sala de jogos, ambiente de lazer e entretenimento não fazem mal a ninguém. E esse é o ambiente que esses jovens encontram a sua disposição em algumas ONGs e instituições governamentais que são responsáveis pela reabilitação desses jovens e seu reingresso na sociedade.

Mas aqueles jovens, que, aliás, são muitos, que mesmo vivendo em situação de miséria, muitas vezes sofrendo até violência domestica, e não se deixam seduzir nem por drogas e nem grana fácil, e ao contrário disso buscam na educação uma chance de mudança de vida? Por que estes guerreiros têm que conviver com uma escola que é sucateada? Por que estes alunos têm que muitas vezes perder aula por não ter um transporte público e gratuito que as levem as escolas? Por que estes pequenos cidadãos têm seus direitos inalienáveis como alimentação serem usurpados a todo o instante por falta de merenda, quando muitos saíram de casa sem ao menos um pedaço de pão no estômago? Por que tudo isso? Será que estes lutadores não merecem um voto de confiança, não merecem um tratamento digno?

Outras medidas que nos dão um ar preocupado são as várias campanhas que estão por aí pedindo aos empresários que dêem emprego àqueles que pagando sua divida por crimes estão saindo da cadeia e precisam de um emprego para efetivamente serem inseridos na sociedade. Muito justo essa justiça.

Mesmo assim, questões são postas na pauta: E os 10% dos que terminam uma escola pública aqui no Rio Grande do Norte e conseguem entrar numa universidade? Novamente os mesmos problemas! Transporte deficitário, má alimentação, falta de grana até para comprar apostilha (livro nem pensar, é um absurdo o preço de livros no Brasil), sem falar que muitos destes insistentes heróis da resistência têm que mudar de cidade para ter acesso a universidade, outras despesas se somam à conta desta tão propagada universidade pública e nem um pouco gratuita.

Nós perguntamos: Será que o sujeito, homem ou mulher, que depois de no mínimo doze anos de estudos, desde o ensino fundamental até uma graduação na universidade não merece uma recompensa? Um emprego, por exemplo, para que ele depois de tanta luta seja realmente inserido na sociedade como sujeito ativo. Será que a educação vale a pena? Esse é o questionamento de muitos que mesmo com o diploma de bacharel ou licenciado nas mãos percebem que o tempo passa e eles continuam engrossando as filas do desemprego.

Será que uma primeira chance não seria mais eficaz que uma segunda? Já que uma segunda chance necessariamente é precedida por uma primeira. Aliás, qual foi a primeira chance que 90% destes que estão sendo postos em liberdade tiveram? Mesmo assim, numa sociedade sadia, àqueles que enveredaram pelo caminho da educação certamente teria um maior reconhecimento da sociedade e seriam mais bem atendidos em suas necessidades.

O que vemos não é isso. É uma inversão de valores. Enquanto muitos terminam a graduação e continuam se especializando não tem a oportunidade de trabalhar por falta de concurso ou vagas de emprego em sua área, já outros que está há muito tempo em sala de aula sem que tenha mesmo uma graduação estão tem acesso à universidade em busca do titulo que necessitaria ter de antemão para estarem em sala de aula ensinando, outros que ensinam em áreas diferentes das que possuem diploma estão retornando a universidade em busca de uma segunda formação. Tudo isso ocorre apadrinhando por projetos governamentais. Não seria mais lógico, abrir concurso para que vagas possam ser assumidas por gente especializada? Qual o pensamento que norteia nossa sociedade? Que dirige nossos governantes? O que será que está ocorrendo?

Fabio Alves Valentim, é graduado em Filosofia e está se especializando em Ética e Filosofia Política. Ambos pela UERN.