O HOMEM QUE NÃO SABIA DE NADA

Não estou decepcionado com o governo Lula. Na verdade, nunca acreditei nele. Nem na época em que militei no famigerado movimento estudantil. Lula foi para mim, sempre, um mero símbolo. Uma espécie de rainha da Grã-Bretanha: não nasceu para governar e sim para posar para fotografias, ser aclamado, participar de cerimônias e, principalmente, viajar.

O País está em crise. Lula, em suas entrevistas e discursos, prefere vender a imagem de que a normalidade reina. O Brasil, segundo o presidente, está apenas investigando mais, o que passa a impressão de que está mais corrupto. Dada essa singela explicação, Lula toca a vida como se nada estivesse acontecendo.

O governo é acusado de comprar parlamentares, no folclórico episódio do "mensalão". Lula disse que não sabia. A cúpula do partido negocia empréstimos e contratos milionários suspeitos. O presidente também não sabia. O filho de Lula participa de sociedades mal explicadas. Lula também não sabia. Quando soube nem colocou seu bambino de castigo. Assim como o marido traído, Lula é sempre o último a saber.

Arthur Virgílio, o senador mais ferrenho da oposição, levantou duas hipóteses para classificar o presidente em meio à crise: "Lula é idiota ou corrupto". Se souber das tramóias e deixa que elas aconteçam, é corrupto. Se não tem ciência do que está acontecendo no seu governo, é idiota. Definição virgiliana. Não sei em qual rótulo acredito.

Para mim, há mais coisas que o presidente Lula não sabe: governar, por exemplo. Ele acha um tédio esse negócio de administrar, participar de reuniões com a equipe econômica. Protocolo então... Um saco! O barato do poder, segundo Lula, é receber Gisele Bündchen, Zeca Pagodinho e usar metáforas sobre o Corinthians. Além é claro, das viagens missionárias. Lula deve ser possuidor de uma das maiores coleções de fotos de lugares exóticos. Todo ex-presidente escreve um livro de memórias. Sugiro que quando deixar o Planalto, Lula escreva um livro de viagem.

Dizem que Fábio Luís, o Lulinha, é uma fera no vídeogame. Sugiro a Luiz Inácio, o Lulão, que tranque-se num quarto com o garoto e gaste ao menos umas quatro horas jogando. Além de ter a oportunidade de saber o que o filho anda fazendo, Lula aprenderá um pouco a dominar a arte de controlar alguma coisa.

* Artigo escrito no distante ano de 2005.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 03/03/2010
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