O PODER DA DISTRAÇÃO...

Você, prezado leitor, deve estar achando que sou louco em dizer que a distração tem poder. Tem poder sim, só que é um poder negativo e que só faz mal à pessoa. Andar distraído no mundo atual é perder muitas horas úteis que lhe poderiam render um bom negócio, uma boa oportunidade de crescer na sua empresa, ou até lhe garantir um grau a mais de críticas por quem lhe acompanha no cotidiano, pois a pessoa que anda desatenta não presta atenção nas coisas e está deixando de enxergar coisas grandiosas e de utilizar o método empírico do conhecimento. Aliás, uma distração pode ocasionar sérias tragédias, principalmente se for no trânsito.

Não estou falando daquele ser que se distrai hora ou outra, porque na verdade a distração é algo inerente ao se humano e pode acontecer sempre que a pessoa relaxa e desliga sua atenção para as coisas importantes e ligadas ao seu lado profissional. Distrair-se nessas condições é algo recomendado pela área da medicina em geral, pois ajuda a pessoa a recuperar-se psicologicamente da grande carga de responsabilidade que a vida apressada produz nos momentos de atividade cerebral, ou nos instantes de labores intensos que exigem dinâmica e alta performance de responsabilidade, já que a atenção é o principal ingrediente nas coisas que giram em torno da vida ativa das pessoas.

Entretanto, estar desligado e distraído nos momentos que exigem a tenção e vigília é que causa o poder negativo que gera consequências diversas para as pessoas que não tem poder de concentração e que se deixam levar por seus devaneios, exatamente, no momento em que deveria estar antenados em tudo o que ocorre à sua volta. Certa vez uma pessoa me contou que, distraidamente, jogou fora um documento de um veículo - o registro - num momento de limpeza na papelada que se aglomerava numa escrivania que só foi percebido quando teve de vender o automóvel, quando constatado o sumiço do recibo. Como se isso não bastasse de depois de realizada a venda de tal veículo, distraidamente, pagou as parcelas de PVA do um automóvel que já não lhe pertencia. Você pode até dizer que não existe uma pessoa assim. Mas eu lhe afirmo que existe. O que ocorre com uma pessoa que age assim? A explicação é simples. Ela não tem poder de concentração no que faz. Geralmente uma pessoa que tem essa deficiência faz múltiplas coisas num só momento. Um exemplo: uma pessoa que esteja fazendo o almoço, quer ao mesmo tempo assistir um filme no televisor; assim, pensa que pondo o arroz para cozinhar e ao saber o tempo exato que a comida estará pronta, poderá fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Aí que está o engano, pois pode ocontecer que na projeção passe a ocorrer uma cena interessante que lhe desligará da atividade secundária e obrigacional, situação esta que, fatalmente, lhe renderá um arroz queimado. Isso pode ser corrigido, desde que a pessoa seja consciente de que deve fazer essa correção. Mas, ocorre que a maioria dessas pessoas não admitem e não assumem que devem particularizar as atividades, fazendo uma de cada vez.

Outra coisa que percebo no distraído, é a incapacidade de se organizar para efetuar uma tarefa. Todo ser que deseja executar determinada tarefa de uma forma perfeita, antes de começar o labor deve se preparar para tanto. Um exemplo na área jurídica: Se um advogado vai peticionar, visando efetuar uma defesa perfeita, deve antes de começar o trabalho fazer as pesquisas atinentes às matérias e às teses que deseja defender. Primeiramente, observar todas as preliminares que antecedem ao mérito, rebatendo possíveis nulidade ou irregularidades que maculam o procedimento ou o processo e, depois, através de uma escrita objetiva e de fácil entendimento, atacar o mérito da demanda, expondo todas as teses que possam atingir os objetivos finais do processo. É humanamente impossível que esse advogado comece esse trabalho e ao mesmo tempo esteja atendendo telefone, ou recebendo um cliente e interrompendo o raciocínio lógico que possui uma sequência que, fatalmente, será interrompida com a distração. De igual forma, esse profissional não pode estar ali no seu escritório fazendo esse trabalho e ao mesmo tempo escutando os barulhos que o trânsito produz na rua ali em frente. É necessário que esteja sintonizado somente no que faz e que tenha ao seu alcance todos os apetrechos necessários para esse fim, sob pena de a simples busca de uma caneta lhe retirar a concentração.

Eu já teve tempo, quando era mais novo, que era visivelmente distraído e começava a fazer algo e ficava pensando na diversão ou em algo que me atraia um pouco mais do que o trabalho realizado. Um conversa, por exemplo, que era executada ao mesmo tempo em que o trabalho era realizado. Além disso, muitas vezes fazia a coisas mecanicamente, pelo processo repetitivo, sem me importar com os detalhes, já que a pessoa que age instintivamente no trabalho jamais irá notar um erro que pode vir de um detalhe, que passará imperceptível e causará sérios prejuízos ao resultado final do trabalho. Com o tempo, com a experiência e com a necessidade de fazer as coisas certas, para poder progredir no meu aprendizado, comecei a me corrigir e a enxergar que havia necessidade de concentração. Esse meu despertar foi o suficiente para melhorar minha produção de forma espantosa e a reduzir drasticamente meus erros.

Por outro lado, como existe o distraído que não tem interesse de melhorar, até em razão da preguiça e da falta de visão do futuro, há também aqueles que estão acometidos de um mal psíquico, que causam desordem de conduta, tornando-se incapazes de se organizar, de se concentrar, sendo eternos maus humorados e de pensamentos negativos. É a chamada síndrome de DDA. Uma doença relacionada com o déficit de atenção. Dois médicos de renome e que tratam de tal distúrbio são: Edward M. Halowell - psiquiatra de adultos e crianças. John J. Ratey - psiquiatra e professor assistente de psiquiatria na Harvard Medical School. O dois vivem em Boston. Eles são autores do livro tendência à distração que aborda as experiências clínicas e as formas de tratamento para esse mal.

O site WWW.orientacoesmédicas.com.br/hiperatividade3.asp, faz várias considerações sobre a doença e enumera os fatores que marcam a conduta do paciente. Uma dela é a desorganização, cujo tema vem assim elucidado: "Desorganização é outro marco importante do DDA. A desorganização inclui tato o espaço físico, como salas, escrivaninhas, malas, gabinetes de arquivo e armários, quanto o tempo. Frequentemente quando se olhas para as áreas de trabalho de pessoas com DDA, é admirar que possam trabalhar ali. Elas tendem a ter muitas pilhas de "coisas"; a papelada é algo que frequentemente elas têm muita dificuldade de organizar; e parece que têm um sistema de arquivo que só elas podem entender (e mesmo assim só nos dias bons). Muitas pessoas com DDA tem atrasos crônicos ou adiam as coisas até o último momento...Muitas pessoas com DDA tendem a ser mal-humoradas, irritadiças e negativas..."

Assim, apenas como um alerta, é importante aconselhar pessoas que possuem esses perfis a procurarem ajuda psicológica, considerando que muitas vezes a questão não é só de desleixo ou de preguiça mental, mas sim algo relacionado com essa doença que precisa ser tratada para que a pessoa possa reassumir sua concentração e possa viver harmonicamente no meio social, posto que se torna intolerável aquele cidadão que vive 'do mundo da lua' e não consegue concluir um trabalho de forma satisfatória, principalmente quando isso ocorre na sua vida profissional.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 01/03/2010
Reeditado em 01/03/2010
Código do texto: T2113800