Pré-Conferencia Nacional de Cultura Afro-Brasileira

Se pudesse traduzir um sentimento, numa frase, para descrever este evento diria: A ÁFRICA ESTÁ EM NÓS, frase que dá título ao livro do professor pernambucano Roberto Benjamim, publicação que tem fundamentado o trabalho das escolas no atendimento à Lei 10.639/2003, especialmente em relação à contribuição dos povos africanos na formação do povo brasileiro.

E se alguém estiver se perguntando o que alguém como eu, uma mulher de pele e olhos claros tem a ver com isso, certamente que minha resposta irá na mesma direção da tradução do sentimento: a África está em nós, brasileiras e brasileiros, em qualquer rincão deste país, mesmo que a neguemos, mesmo que não a reconheçamos nos nossos traços, no nosso jeito de viver nas nossas manifestações e expressões mais recheadas de brasilidade.

A África está em nós na culinária, na Religião, na Língua, nos folguedos e danças, na música e seus instrumentos. Está em nós, na raiz da formação do nosso povo e em nossa identidade cultural, quer admitamos ou não.Qualquer que seja o tom da nossa pele, a herança de centenas de povos africanos está inserida em nosso cotidiano, mesclada com a cultura indígena e outras tantas heranças dos colonizadores europeus.

Nos dias 24 e 25 de fevereiro, a Fundação Cultural Palmares realizou em Brasília, a Pré-Conferência Nacional da Cultura Afro-Brasileira. O evento reuniu artistas, lideranças do movimento negro e religioso de matriz africana, quilombolas, capoeiristas e convidados, representantes de todos os estados brasileiros para discutir políticas públicas em torno da cultura afro no Brasil.

A iniciativa garantiu aos participantes a contribuição na formulação de propostas para um plano nacional de cultura afro-brasileira, além da escolha de delegados para representar a cultura negra na plenária geral da II Conferência Nacional de Cultura que se realizará entre os dias 11 e 14 de março também em Brasília.

Não é difícil de imaginar, se se considerar todas as diversidades e expressões de cultura que há num país como o nosso, a tapeçaria multifacetada e multicolor que se desenhará. A cultura dos povos africanos, incontestavelmente, compõe a historia do povo brasileiro. A questão é que a desinformação e o preconceito tratam esta herança como algo exótico ou folclórico, quando não a desqualificam e desrespeitam-na.

As diversas expressões da cultura afro-brasileira são fundamentais para o processo de desenvolvimento e consolidação da cultura como identidade de um povo. Como educadora, representando a coordenação estadual da UNCME-AL (União dos conselhos Municipais de Educação) e agora a presidência do Conselho Municipal de Educação de Maceió, tenho convicção de que é também pela educação que virá a contribuição para que todas as formas de cultura sejam reconhecidas e respeitadas .

Minha expectativa é de que cada vez mais, a formulação das políticas, o cumprimento dos marcos regulatórios, o incentivo e a difusão de práticas que ratifiquem a cultura afro-brasileira e a cultura indígena como as verdadeiras expressões do nosso povo e que sejam dadas as condições para que em cada escola, em cada bairro e cidade, em cada comunidade, o Brasil reconheça o BRASIL.

Segue um link com algumas fotos que fiz no evento e a letra de uma canção belíssima que traduz o sentimento, a consciência de ser o que somos.

http://picasaweb.google.com.br/ednalnascimento7/PreConferenciaNacionalDeCulturaAFROBRASILEIRA#

Alegria da Cidade

Lazzo Matumbi

A minha pele de ébano é...

A minha alma nua

Espalhando a luz do sol

Espelhando a luz da lua (2x)

Tem a plumagem da noite

E a liberdade da rua

Minha pele é linguagem

E a leitura é toda sua

Será que você não viu

Não entendeu o meu toque

No coração da América eu sou o jazz, sou o rock

Eu sou parte de você, mesmo que você me negue

Na beleza do afoxé, ou no balanço no reggae

Eu sou o sol da Jamaica

Sou a cor da Bahia

Sou você e você não sabia

Liberdade, Curuzu, Harlem, Palmares, Soweto

Nosso céu é todo blue e o mundo é um grande gueto

Apesar de tanto não

Tanta dor que nos invade,

somos nós a alegria da cidade

Apesar de tanto não

Tanta marginalidade,

somos nós a alegria da cidade (2x)