Descalabro moral?
Descalabro moral
“Existe cobardia ou infâmia em calar as verdades que condenam a perversidade humana, com o pretexto de que elas serão motivo de irrisão e consideradas novidades absurdas ou impraticáveis quimeras”. (Tomás More, em Utopia.)
Desde os tempos mais remotos que as sociedades se viram forçadas a instituir regras de comportamento e a impor a sua observância por parte de todos os cidadãos.
Muitas dessas regras não foram revogadas, continuam de pé, contudo os padrões de comportamento evoluíram no sentido negativo face a um sistema desacreditado, inoperante, e incapaz de zelar pelo cumprimento das leis.
As leis são apenas papel, quando o comodismo ou a cobardia dos legisladores e autoridades, os impede de clarificar, cumprir e fazer cumprir tais leis.
Recentemente, um cidadão meu conhecido, que ousou cometer em público, ainda que em público restrito, um acto considerado atentatório ao pudor, foi sancionado porque infringiu o R.P.D. artigo 42, alínea a) sendo punido segundo o número 2 do artigo 95 do mesmo R.P.D.
É lei, nada há a contestar, cumpra-se e faça-se cumprir, no entanto, situações bem mais atentatórias, são transmitidas pela Televisão, (alguma Televisão) todos os dias e às mais variadas horas, sem que a lei seja exercida, porquê?
A Televisão é um local público, os ecrãs não estão só nas casas particulares, estão nos supermercados e nas montras de muitas casas comerciais a emitir imagens reprováveis sem que ninguém mexa um dedo para o evitar ou proibir.
Se as salas de cinema são obrigadas a referir a classificação dos filmes, por idade dos cinéfilos, e a impedir a entrada àqueles que não a atingiram, porque não o faz também a televisão, em relação aos seus programas mais atrevidos?
Podem argumentar que só vê televisão quem quer, o mesmo se pode dizer em relação a outros locais públicos: só olha quem quer!
A Televisão é uma escola, tanto pode ministrar um ensino digno e de qualidade, como optar pelo contrário e fazer a pedagogia do vício, da violência, do crime e do embrutecimento. No meu entender, creio que ela não está a escolher o primeiro caminho.
Se o grau de cultura de um País, se mede pelos programas culturais dos seus canais televisivos, então cada um de nós pode fazer a sua própria avaliação, concluir em conformidade, e admitir a si mesmo a responsabilidade que lhe cabe pela inércia, pelo comodismo, ou até pela colaboração, talvez inocente e passiva.
O martelar da publicidade a tais programas, fora das horas de apresentação dos ditos, é simplesmente nojento, e a esse propósito lembro as palavras de P. Ligeri que se ajustam aqui perfeitamente: “a publicidade é a arte de explorar a estupidez humana.”
Sente-se, que os responsáveis por alguns programas televisivos, (ou até por alguns canais) afectados por um vazio de ideias, sofrem possivelmente de um desvio patológico com carga demasiado negativa e querem contagiar o povo com o vírus doentio de que são portadores, ou sou eu… que faço parte de uma minoria anacrónica e este não é o meu tempo?