Os eleitores de Brasília são os culpados.
Os eleitores de Brasília são os culpados.
Eurico de Andrade Neves Borba
Morei em Brasília 33 anos. Hoje, aqui da serra gaucha desde 2008, aposentado, acompanho os fatos mais importantes desta fantástica cidade, inclusive por nela morarem minha filha e neta. Estou triste e indignado com os últimos acontecimentos políticos na Capital Federal. Nem a prisão do patife maior, nem a renuncia do omisso vice, conseguiram me animar, pois acredito que estes fatos, que se repetem em todo o Brasil, irão continuar a acontecer por muito tempo ainda. Apenas de uma coisa tenho certeza: sei quem é o maior culpado pela eleição dos bandidos de Brasília. Não tenho a menor duvida de que a ladroagem que hoje impera no legislativo de Brasília, fato que resultou num dos maiores escândalos políticos da nossa história, tem um grande culpado: o eleitorado. Nos demais estados, aonde se verifica a mesma pratica infame de menosprezo com o bem publico, os eleitores são, também, os maiores responsáveis.
Este grupo de cidadãos e cidadãs, (o de Brasília já que estamos tratando do “crime do dia”), em passado recente elegeu um senador, (outro ex governador também eleito e reeleito), que foi corrido do Senado Federal, (renunciou antes do julgamento para não ser cassado...).
Este tal de Arruda há alguns anos já havia apresentado seu caráter torpe ao mentir, no Senado Federal, empapado em lagrimas de covarde demagogo, pedindo desculpas e renunciando ao mandato para também não ser cassado. Logo a seguir, volta ao Congresso com uma das maiores votações do país como Deputado Federal e depois se elege Governador com tranqüilidade. Que eleitores irresponsáveis, os de Brasília e os de todo o Brasil...
Brasília deverá sofrer uma intervenção do governo federal. Suprema humilhação e única saída – uma amarga lição.
Tal fato leva o que resta no Brasil de cidadania responsável, que pensa o futuro do país, com competência e honestidade, a considerar se a Democracia participativa, conquistada com tantas lutas e esperanças, pode ser exercida com este modelo político facilmente manipulado pela canalha nacional. Analfabetos, semi analfabetos, pessoas mal formadas nas nossas escolas e universidades, incapazes de exercerem critica inteligente sobre as informações que recebem, a cada momento, acabam votando nos candidatos mais bem “financiados” e hábeis demagogos. Os “marqueteiros”, a serviço de quem paga melhor, vendem hoje, com a ajuda de modernas e apuradas técnicas de amostragem, de psicologia social, de propaganda que prenda a atenção do povo ingênuo, qualquer coisa: eletrodomésticos, supositórios e candidatos.
Devemos continuar assim, desmoralizando, a cada eleição, esta forma superior de convivência política? Estamos aperfeiçoando ou degradando, com estas experiências trágicas, o ideal democrático? Vamos ter de esperar uma revolução educacional, sempre prometida, para, passado preciosos anos, voltarmos a ter esperanças de que a patifaria nacional, nas posições de mando da nação, se reduzirá drasticamente pelo amadurecimento e o adensamento da consciência cívica dos cidadãos e cidadãs? Ou vamos colocar em discussão nacional a proposta de redefinição constitucional de tal forma que só possam votar eleitores intelectualmente bem formados e informados? Vamos exigir, também, que os candidatos, além da apresentação da inócua “folha corrida”, passem a prestar um exame de conhecimentos mínimos que os qualifiquem para entender e discernir, com responsabilidade histórica, sobre o que estão votando, sobre o que estão executando? Será que acelerando a reforma política conseguiremos bloquear as ações dos bandidos que pouco a pouco estão tomando conta da nação, com manobras escusas cada vez mais sofisticadas? Vamos nos debruçar sobre as possibilidades que a internet já está oferecendo e criar um novo modelo político de gestão participativa da sociedade baseada em escrutínios freqüentes, referendos, que apontem os caminhos e os projetos prioritários desejados pela população?
Ou, uma vez mais, não vamos fazer nada, continuando nesta expectativa, melancólica e dramática, sobre qual será o escândalo do dia seguinte?
Rubem Braga, num conto que escreveu pelos anos de 1950, retrata, num resmungo irado, seu nojo com as bandalheiras que ouvia comentar no bar “Amarelinho”, lá na Cinelândia no centro do Rio de Janeiro, ainda Capital da República: “este Brasil de vez em quando enche...”
69 anos, ex Professor, Diretor do Departamento de Economia e Vice Reitor da PUC RIO. Ex Presidente do IBGE; ex Diretor Geral da Escola de Administração Fazendária; ex Secretario Geral do MEC, está aposentado morando em Ana Rech, RS. É escritor.