Qual é meu número: quanto valho?
Vivemos numa época numérica. Saldos bancários, boletins escolares, CPFs, CPMFs, RGs, PIB. Vida estatística. Escores. Recordes. Índices econômicos. Competição, fracassos, sucessos, falências. No dia-a-dia familiar administramos conta bancária, na escola as notas bancárias. Sentados em cadeiras duras, nossos filhos se contorcem diante dos números vermelhos assim como nós, pois o resultado são juros altos.
Apesar do sistema político, neoliberal, do Brasil, onde a economia não anda lá essas coisas (já é notório), precisamos analisar o sistema educacional baseado em notas “numéricas”. Sabemos que é um modelo imperfeito, enganoso e nocivo, como dizem especialistas na educação. “Notas baixas podem bloquear o aprendizado da criança ao destruir sua motivação e sua crença em seu próprio valor e capacidade. Mesmo notas ‘boas’ dão à criança a falsa noção de que recompensas externas são mais importantes do que o valor intrínseco do aprendizado”. E isso se arrasta até a faculdade, mestrado, doutorado e sei lá mais o que.
Se o desafio do educador é formar indivíduos críticos e com valores morais e éticos, como sustentar um sistema que preserva a decoreba e os vestibulares que aprovam apenas raciocínio lógico e memória? Habilidades, talentos e vocações, esqueça! Isso não cai na prova. A tal da prova! Então, a avaliação de pessoas é um cálculo contábil, frio e burocrático? “Decidir se a pessoa vale dez ou zero não é um procedimento matemático, envolve muitos fatores objetivos e subjetivos”, diriam alguns.
Sim. Sou contra provas escolares, até porque acredito que não provam nada. Podem ser forjadas, mal feitas, fraudadas, com pegas e tudo que todo mundo sabe. É só olhar a justiça para se ter uma idéia mais profunda do tema. Contudo, não defendo aqui a exclusão de avaliação. Contudo, essa deve ser “processual” (esqueçam processos jurídicos, certo?). Deve-se, sim, analisar a caminhada do aluno, suas habilidades e a incorporação de novas competências e conhecimentos, porém, a partir do próprio aluno, de seu contexto, de sua singularidade.
Que tal perguntar ao aluno o quanto ele aprendeu? Ensiná-lo a olhar para si e refletir seu papel de educando. Dar a oportunidade ao aluno de ter sua consciência em ação, para que ele se auto-avalie. “O compromisso do educador, no âmbito da educação escolar, não é perseguir métodos, e sim, conscientizar os alunos de que o conhecimento cognitivo não deve ser tomado como única garantia, no mundo do trabalho, de prosperidade ou sucesso na vida”. Gosto dessa afirmação.
Para finalizar tomo emprestado mais um pensamento: "O segredo da educação está em respeitar o aluno. Não cabe a você escolher o que ele vai aprender e o que ele vai fazer. Isso está predestinado e só ele tem a chave para seu próprio segredo". O professor deve descer do pedestal e da tribuna de juiz, árbitro. Deixemos isso para o futebol. “É fundamental que se tenha uma visão sobre o aluno como um ser social e político, capaz de atos e fatos, dotado de, e em conformidade com o senso crítico, sujeito de seu próprio desenvolvimento”.
Minha sugestão? A partir de hoje avaliaremos se os alunos são aptos ou inaptos temporariamente. Sem variar de 6 a 10 ou de 0 a 5. Evitando aquela arrogância “eu sou 10, você é 8”. Apto, segue. Inapto, fica para se desenvolver um pouco mais. Critérios? Vários. Mas, principalmente, o aluno a partir dele próprio e nosso olhar educador, não professoral, sobre o seu crescimento.
Diante de tudo isso, penso que desse jeito está tudo certo na educação. Um país atrasado, querendo ser rico. Um povo sem crítica, querendo diploma. Tudo pelo número! É, mas....qual é mesmo o meu número? Para uns dez, para outros quatro, para alguém sete, ou talvez zero......já nem mais sei quem sou eu.......nem decorei meu CPF... quanto valho?