PEFE (5)
Fraude perfeita exige treino.
Em 1986 (se não nos falha a memória) aconteceu o primeiro ensaio para fraudar eleições eletrônicas. Foi aqui no Rio, envolvendo a empresa Proconsult, que armou um esquema com o objetivo de prejudicar Leonel Brizola. Até hoje certamente nada ficou evidenciado e ninguém foi preso. E se foi, já pagou fiança, viajou e deve ser vizinho do Cacciola.
Alguns anos depois, a Câmara de Defuntados Federais foi modernizada com a possibilidade dos palermas-elementares "votarem" as leis de interesse dos grupos que patrocinam as campanhas eleitorais através de simples apertos em botões localizados em consoles colocadas em frente ao umbigo. Neste período surgiram os "pianistas" que além de teclar seu botão, conseguiam esticar-se para as poltronas vizinhas para pressionar os botões de seu agrado. Claro que a comunidade trocava as senhas para que no caso de ausência do titular da poltrona, a matéria rendosa (para eles) em pauta fosse aprovada sem riscos. Adotavam esta prática sem cerimônia, mesmo sabendo que alguns jornalistas registravam o fato por fotos ou imagens de tv. Sabem que as tais imunidades imorais e o corporativismo são suficientes para arquivar qualquer processo que possa ameaçar seus mandatos. Atualmente os "artistas" já não precisam mais conceder "concertos" tendo em vista que o processo evoluiu e está mais camuflado.
A menos de cinco anos estourou o escândalo da violação do painel do Senado. A corajosa funcionária denunciante (sua consciência patriota falou mais alto?) já deve ter sido aposentada compulsoriamente ou foi deslocada para longe do cenário quente. Mas o fato básico é que mais uma vez nada de excepcional aconteceu com o grupo de violadores (trocaram o “piano” pela viola?). Pegaram dois bodes expiatórios (cujos prestígios estavam em baixa no momento), deram-lhe umas "férias" e não prosseguiram seguindo o fio da meada, que poderia chegar aos salões do suntuoso palácio central. No lugar de se relembrar estas artimanhas, destaca-se o futuro da novela global ou do Big Bobo Brasil (onde quem pronuncia uma frase de 5 palavras é chamado de “Gênio” por Pedro Bobal) e o desfecho da batalha entre o guaraná e a coca, para saber quem vai escalar a seleção de futebol para a próxima copa.
Passamos no meio do tufão do escândalo da fraude de Camaçari, cuja sofisticação não se restringiu apenas no desvio de votos para o candidato do grupo gerenciador das urnas. Fizeram recadastramento para criar títulos fantasmas, pois pertenciam a pessoas falecidas! E as urnas com "defeito" foram descobertas em vários pontos do país sem que o TSE se surpreendesse e sem que os partidos prejudicados se unissem para impugnar o sistema. Isto é a glória máxima dentro da comunidade de trambiqueiros que agora utilizam os meios eletrônicos para agilizar os desvios de verbas, venda de prestígio, maquiagem dos índices inflacionários e fabricação de boatos que mudam o preço do dólar.
Portanto, não devemos nos surpreender se nas próximas eleições nacionais, caso se faça uma triagem relâmpago, encontrarmos títulos em nome de José Bonifácio, Joaquim José da Silva Xavier, Santos Dumont e Noel Rosa. Com certeza não conseguirão descobrir os mentores da fraude, pois alegarão que a culpa é de um "chip" desmemoriado. Mas que dará um belo samba-enredo para o próximo Carnaval ninguém tem dúvida. Mas antes disto, podemos criar uma paródia (eu só forneço a letra) a ser entoada pelo cidadão que se contenta em pagar vários impostos para assistir passivamente seu dinheiro ser desviado e o futuro de seu herdeiro escorrendo pelo ralo da podridão.
Lá vai (dó maior?):
Sou um cidadão sem memória
Pois a pátria não tem história
Para não ficar sobre o muro
Desta vez eu votarei NULO!