Honestamente

Espera-se honestidade de quem está à nossa volta. E não raro nos sentimos defraudados pela suposta falta de honestidade dos outros.

Bem... na verdade na maioria das vezes falta, sim, honestidade. Em todos nós. Mas a falta desta virtude não se encontra necessariamente (ou tão somente) naquele ato isolado em si que desencadeou o processo de frustração.

Está, sim, na falta de coragem de assumir-se perante si mesmo e perante o mundo. Perante Deus, perante o Pai, perante as pessoas. O que é ser honesto?

Em primeira instância é ser uma pessoa íntegra, que não cometa erros (afinal são os erros que causam o sofrimento), que não tenha falhas, que não minta, que não burle.

A velha pergunta de sempre: quem não erra?

Começo a crer que, muitas vezes, ser honesto é simplesmente não esconder as próprias fraquezas, as próprias falhas. É admitir-se passível de erros, de mentir, de roubar, de matar, de caluniar, de sentir inveja, orgulho, ódio, luxúria, gula, incompetência e assumir a responsabilidade por eles, custe o que custe. Custa caro, sim. Custa solidão, custa sofrer e fazer sofrer. Custa muito. Mas a honestidade é dura mesmo. O caminho é assim.

Ser honesto é assumir que é capaz, sim, de frustrar alguém, de não conseguir atender a todas as expectativas. E com isto não impor a si e aos outros sentimentos inferiores, autopunições, flagelos superficiais. Simplesmente, lapidar, com honestidade, cada um desses buracos que permeabilizam nossa Essência.

Nós idealizamos pessoas. Nós criamos expectativas nos outros e estamos sempre preocupados em atender àquilo que criam a nosso respeito. Seria isto felicidade? Seria isto honestidade?

É então vêm as frustrações de toda espécie porque idealizamos alguém que na face desta terra simplesmente não existe, afinal, somos humanos! E estamos todos na mesma luta diária: vencer a nós mesmos. E se temos que vencer a nós mesmos, óbvio, teremos centenas de defeitos, falhas, DESvirtudes. Mas isto não tira o crédito de ninguém. O que, sim, tira todo o crédito, toda a confiança (pelo menos a meu ver) é justamente o discurso da perfeição querendo mascarar a realidade que se tem dentro de si.

Ser sincero não é adotar uma postura de perfeição quando se sabe que não há capacidade para isto. Mas é, também, lutar para não justificar os próprios erros. Assumir é completamente diferente de viver em busca de desculpas para as falhas.

Honestidade é ter humildade de pedir ajuda quando se está perdido. Admitir-se perdido e não ter vergonha de dizer: errei. E lutar não por consertar, mas por desintegrar o causador do erro e, por consequência, a possibilidade de errar novamente.

Quando nos damos conta de tudo isso dentro de nós, não nos dá mais coragem de apontar um dedo sequer para fora. Dá, sim, vontade de calar. É a melhor lição da vida quando o Pai nos coloca em nossos devidos lugares. Adoramos adotar o discurso do “senhores de nós mesmos”. Mas só vivendo em situações extremas é que vamos ver o tamanho real de nossa capacidade de guiarmos a própria vida. É por isso que dizem que quando está um mar de rosas, algo está errado.

E, como já nos ensinaram, caímos em pequenos detalhes. Pelos pequenos detalhes somos levados aos mais amargos sofrimentos da vida. Por falta de uma pequena palavra que escapou no momento exato em que deveria ter sido dita, podemos comprometer toda uma existência.

Começamos a ser honestos quando cai a ficha e percebemos que realmente não somos absolutamente nada. Aliás, esse mesmo discurso já foi usado e reusado e repetido e clamado infinitas vezes por iniciados e iniciantes. Mas, como tudo na vida, só quem experimenta isto de fato é que sabe o real teor destas palavras.

Quando se aprende sobre a honestidade, então se aprende sobre o verdadeiro perdão. Sobre a verdadeira humildade. Quando se conhece na carne a realidade interna, muito além do parlatório teórico, mas embasado em vivências e experimentação direta de fraquezas e pequenas vitórias, é que se começa, então, a ter capacidade de ver-se como o semelhante sem julgar, condenar nem cobrar nada.

Manter-se lúcido, tomar as decisões certas no momento preciso. Não errar nunca.

Quem pode afirmar que consegue isto em todos os instantes da vida?

Mesmo sendo “possuidores” de ensinamentos, a vida é completamente diferente dos livros e dos arquivos da mente.

O coração é uma tábua solta no mar revolto da vida. As ondas são mais altas que nossas cabeças e tudo o que temos é um pequeno remo de madeira que não pode nos escapar das mãos. Raramente temos tempo para pensar. É agir ou agir.

É uma luta dual incessante e que raramente temos condições de vencer sozinhos. Mas queremos posar de durões, centenas de pequenos detalhes concorrem. De um jeito ou de outro, um dia, teremos de experimentar algo se quisermos realmente crescer uma mínima fagulha. Remando de acordo com a nossa vontade e nossos julgamentos, não chegamos a lugar nenhum.

Onde estou? O que está acontecendo? O que estou fazendo aqui?

Podemos ter uma infinidade de respostas... e aí é tarde.

A identificação é um fantasma que nos ronda sempre. Sempre temos uma justificativa. Sempre temos uma explicação para cair no delito. E isto também é muito estreito porque nem tudo é realmente um delito. Ou, sim, existem coisas que podem ser desfrutadas e não simplesmente rechaçadas de uma vez, porém, desfrutadas sin perder la conciencia, jamás! Caso contrário vira delito... estreito, hein?

Desafiador. Viver é um desafio. Perdoar é um desafio. Ser perdoado é um desafio. Amar é o maior de todos...

Uma das maiores dádivas da vida é não estar acima de ninguém. É não ser melhor do que ninguém. É não ser mais forte que ninguém. É não ser ninguém. É ter liberdade para errar e capacidade para reconhecer, antes de tudo, a si mesmo. No erro e no acerto.

Que assim seja.

PAZ.

Giselle Zambiazzi
Enviado por Giselle Zambiazzi em 20/02/2010
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