O bigodinho
O BIGODINHO
Cada geração tem seu fetiche e suas formas de se apresentar. Na minha adolescência, lá pelos idos de 1957/58 éramos bem discretos. O máximo que se cultivava era um tênue bigodinho e uma suíça ao estilo do Elvis Presley. O bigode era para quem podia, pois muitos garotos naquele tempo não tinham barba suficiente para ostentar aquele apêndice sobre a boca. Para muitos, a solução era raspar todos os dias, na esperança que crescesse mais ligeiro.
Meu pai sempre usou bigode. Num determinado tempo, em que os pelos branquearam, ele, como já que tinha que pintar o cabelo, passou a tinta também no bigode. Não ficou bem. Por conta dos protestos da minha mãe ele abandonou as tinturas, assumindo o cabelo branco e o bigode da mesma cor.
No passado, a maioria dos galãs de cinema não usava bigode, exceção quem sabe a Clark Gable, Burt Reynolds e Errol Flynn, este com aquela palha de milho em cima da boca. As garotas mais jovens – as coroas não – detestavam o bigode.
Hoje a gurizada exagera nos adereços naturais. Uns usam franja de “emo” (dizem que quer dizer “emocionalmente perturbado”), cabelo comprido, brinco, piercing e tudo o mais que aparecer. Isto para mim não é coisa de homem, mas enfeite “daquela” turma.
Eu acho que cada um tem direito à produção estética que achar melhor, mas eu não pinto o cabelo nem passo esmalte nas unhas. Não sou contra, mas não faço. Armando Cavalcanti, um sambista-compositor carioca, que era major do Exército, disse em uma de suas marchinhas de carnaval que “mulher é que se enfeita como pode, enfeite de homem é bigode”.
No Oriente Médio faz parte das culturas todos os homens usar bigode. Na Turquia eles têm o hábito de tomar um café sem coar o pó. Disse-me um turco que eles usam grandes bigodes para coar o café.
É curioso observar hoje em dia, especialmente no Rio Grande do sul, que os velhos, pessoal da minha geração, que já passou dos sessenta, em sua maioria usam um bigodinho, fino, branco e, geralmente falhado, semelhante ao do cantor Miltinho. Gosto é gosto, mas qual a finalidade daquela listinha branca em cima da boca? Não enfeita nada. Deve ser só pelo costume.
Eu confesso que mais de uma vez tentei deixar bigode. Não hoje que está branco, mas a questão de vinte anos atrás. Faltou-me paciência para cultivar e tempo para aparar o “fenômeno”. Eu tentei aqueles bigodões de bandido mexicano, caído pelos cantos da boca, mas não deu.Some-se a isto o gosto da minha mulher, que fala que arranha. Também já tentei a barba. Depois que me aposentei, algumas vezes, nos invernos eu deixava a barba crescer, em longas madeixas brancas. Até que um dia a casa caiu: Numa fila de banco um menino apontou para mim e gritou para a mãe: “Mãe, olha ali o Papai Noel!”.
o autor é filósofo e escritor